quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013


Eu era pai de uma menina, tinha uma filha de sete anos, de grandes e lindos olhos castanhos, os quais sabiam muito bem como observar as pessoas ao seu redor, atentos a seus trejeitos. Ela era boa em matemática e adorava aprender coisas novas, como patinar e tocar violão; gostava de jogos de corrida e muffins. Eu me lembro bem de que gostava muito de muffins. Vestida pela mãe, a maioria de suas roupas, se não todas, tinham ao menos um detalhe em azul. Ensinada pela mãe, não falava com estranhos enquanto estivesse sozinha – a não ser que um desses estranhos tenha um cão, assim ela esqueceria essa lição com uma facilidade incrível, em questão de segundos –, e conhece duas línguas ou até mais, seriam o inglês, o português e talvez o alemão. De longe se percebe de que a menina é grudada com a mãe e que reconhece, dá valor a tudo o que a mãe faz por ela. Por agora, pensando, me parecia que não era assim de todo mal a ideia de ser pai, ela podia ter me contado, eu aceitaria e a ajudaria. Ou não? Ri internamente com isso, ah sim, eu aceitaria! Precisava tanto dela ao meu lado que nem me importaria se a menina não fosse realmente minha filha. Mas a mãe tem que tentar resolver as coisas por si mesma, não importa o que seja ou o que aconteça, ela não quer ajuda e não dá o braço a torcer.
Eu tive uma filha com a minha namorada do colégio, aquela que tenho certeza de que amei com todas as minhas forças, aquela que esperei por sete anos, e então agora ela me aparece com seu noivo alemão e com sua filha, ou melhor dizendo, com a nossa filha. Mas, independente de tudo, independente do fato de ela só aparecer agora, ou de que está noiva, ou de ainda estar omitindo coisas, eu a amo; isso é errado? Eu estava um pouco magoado, um pouco confuso, mas o sentimento mais forte continuava comigo e eu sentia raiva por não conseguir sentir raiva dela, por não conseguir esquecê-la.
- Ela não está me usando, não é? – eu disse para o celular em minha mão – Será que teria problema se eu fuçasse em sua memória, só um pouquinho, só para me distrair?
Mordi o lábio inferior, pesaroso, e passei a ponta do dedo indicador sobre tela do aparelho, que logo se iluminou com a foto de uma Melannie sorridente.
Cá entre nós, na verdade nem sei o porquê de eu ter falado em exame de DNA, acho que estava tão atordoado e magoado com as coisas que ela me disse e com aquelas que deixou de dizer que também quis que ela sentisse um pouco do que eu estava sentindo, e talvez assim, fingindo que duvidava dela eu conseguiria fazer isso.
Por alguns segundos continuei pensando se deveria ou não, se precisava mesmo fazer aquilo ou não, porque naquele aparelho não devia ter nada de mais, eu só fuçaria e o que poderia encontrar seriam fotos de Demi com Robert, ou mensagens dele para ela, ou sei lá mais o que, já bastava ter atendido uma ligação dele, aquele aparelho poderia estar infectado até seu último átomo de Callagham.
Rolei os olhos. Espera, esse negócio de átomo... Isso é química? Física? Ok, isso é o que não me importa no momento.
Deixei que a tela tornasse a se apagar e coloquei o celular em cima do criado-mudo e então ouvi o som da campainha soar por todo o apartamento, sendo seguido pelo latido de Snoop, que estava deitado na cama comigo, com o corpo atravessado sobre as minhas pernas. Assim como eu, Snoop se levantou preguiçosamente, uma parte do corpo de cada vez, em movimentos lentos. Mas prefiro denominar isso como movimentos friamente calculados. Espirrei. Mas dessa vez eu estava preparado, com um rolo de papel higiênico em uma das mãos. Descemos as escadas arrastando os pés – ou as patas, seja como preferir – e mais uma vez a campainha tocou, mas poupei minha voz ouvindo a conversa do lado de fora, já sabendo quais eram os inconvenientes que me tiraram da cama.
- Tem certeza que ele está ai?
- Tenho, falei com ele segundos antes de você me ligar.
- Acho que o porteiro... Como é o nome dele mesmo?
- Ian.
- Ah sim, acho que o Ian nos avisaria se Joe não estivesse em casa.
- Faz sentido. – pausa – Já perceberam como esse corredor é frio?
- Amor, a gente não pode vir outra hora? Ele pode estar descansando...
Enrolei um enorme pedaço de papel na mão, colocando depois no bolso do moletom, coloquei o rolo na mesinha próxima a porta e abri a mesma.
- Hey dude! – três disseram em um uníssono enquanto duas apenas sorriram.
- E ai? – pigarreei.
- Eu não disse? – Justin arqueou as sobrancelhas colocando as mãos no bolso – Ele está doente, não vai sair de casa tão cedo.
- Que dó de você, dude! – Liam disse e veio até mim, me dando um abraço – Você vai ficar bem.
- Aham, eu sei. – eu ri, mas minha voz saiu estranha por conta do congestionamento nasal, e eu estava odiando aquilo, diga-se de passagem – Valeu Liam, pode me soltar agora.
- Já tomou remédio? – Sel perguntou e eu assenti assim que Liam me largou.
- Aposto que está querendo descansar – Tay me olhou compreensiva e eu sorri de lado, dando de ombros, pelo jeito ela era a única que me deixaria descansar naquele momento.
- Esquece isso, ok? – Liam disse dando um passo a frente – Porque agora você pode me chamar de gênio – ele sorriu largamente, pude ver Justin e Liam rolarem os olhos atrás dele, porém os dois sorriam.
- E por que eu faria isso? – perguntei.
- Você não tem que fazer isso – Tay rolou os olhos sorrindo e Snoop latiu enquanto os cinco entravam em casa se espalhando pela minha sala.
- É, mas minhas notícias sobre o nosso trabalho continuam sendo ótimas – ele deu de ombros.
Espirrei mais uma vez.
- Desde quando as reuniões do McFLY são aqui? – perguntei calmamente andando, com Snoop em meu encalço, até o sofá de dois lugares, onde Liam estava sentado no canto. Cheguei lá o mais rápido que pude, ainda arrastando os pés – E por que as meninas estão aqui? Sem ofensas!
Quem foi o idiota que colocou o sofá tão longe da porta?
- Desde quando Liam estava em casa, – ouvi Liam dizer enquanto eu me deitei no sofá, apoiei a cabeça na perna dele e fechei os olhos. Pode me chamar de gay até não querer mais, eu estava realmente mal. Tossi algumas vezes – onde seria a reunião, mas logo que ligamos para o Justin ele disse que você estava assim...
- Doente, podre, quase morrendo – Justin completou e os todos riram, ri fraco vendo Snoop se deitar ao pé do sofá onde eu estava.
- E nós só viemos também – Sel disse e eu abri os olhos para encara-la – porque daqui nós vamos ao Black Cat.
- Vocês vão sem mim? – fiz bico.
- Eu te chamei – Justin franziu o cenho – mas você disse que estava doente.
- Mesmo assim – dei de ombros.
- Ok, você quer ir? Ainda dá tempo – ele disse e eu tornei a fechar os olhos.
- Não, estou doente – sorri e tomei um tapa na testa.
- Não vai ser a mesma coisa sem você – Liam me abraçou.
- Dude, para de se aproveitar de mim – eu ri ainda de olhos fechados, afastando seus braços de mim.
- Mas por que você está assim, doente? – ouvi Liam perguntar.
- Tomei chuva. – eu disse, me mantendo imóvel.
- Interessante. – Sel disse – Sabe com quem eu falei hoje? Com a Demi. Ela me ligou, estava com a voz estranha, parecia muito cansada com aquela voz sofrida, coitadinha, então eu perguntei o que houve e ela me disse que estava doente, tomando alguns remédios...
- Você tem falado muito com ela Joe; ou a visto muito? – Liam tornou a falar.
“Ou resolvendo muitos problemas com ela, ou tomado muita chuva com ela”, só faltou ele perguntar isso. Será que ele não percebe que qualquer coisa que aconteça entre Demi e eu não é só por minha causa? Afinal o que um não quer, dois não fazem, não é? Espirrei. Abri os olhos e o encarei. Ele entortou o maxilar e comprimiu os olhos, Liam sorria com os olhos, mostrando que já tinha entendido o bastante para poder tirar suas próprias conclusões sobre o resto.
- Tenho sim – eu disse simplesmente, tentando ignorar a minha curiosidade que queria saber o porquê de Demi ter ligado para a Sel.
- Ok Liam, – Justin se apressou em dizer – fala logo sobre o projeto e tal.
- É, fala logo que eu estou começando a ficar com dor de cabeça. – reclamei, mas não era uma forma de fugir do assunto, eu estava começando a ficar com dor de cabeça de verdade, só queria tomar mais um dos meus remédios e deitar na minha cama, me empacotando em meio aos meus cobertores quentes que me esperavam até então.
- Bem, – ele começou – eu est...
- Sel, por que a Demi te ligou? – Liam voltou ao assunto totalmente alheio.
Eu ri, aliás, eu gargalhei internamente. Por isso que eu amo esse cara! Era uma pena não falarmos sobre tudo isso, sobre o “caso Demetria” abertamente, Liam era um bom amigo, mas explicar as coisas para ele às vezes era estressante.
- Ela não me liga, – ele disse pensativo – ela liga pra você Liam?
- A minha maninha sempre me liga – ele disse com um ar de orgulho, o que eu achei bom. Liam deve estar adorando ter a sua “maninha” de volta.
- Justin?
- É, ela liga lá em casa para falar com a Sel de vez em quando, mas quando eu atendo ela conversa comigo também – Justin deu de ombros.
- E pra você Joe? – ele me olhou e eu virei a cabeça levemente, tossi.
- De vez em quando, – disse e pigarreei logo em seguida – mas não se sinta mal, ela também não liga para a Tay. – eu ri e vi Tay encolher os ombros.
- Na verdade... – ela começou e Liam jogou os braços para o alto.
- Eu me sinto tão rejeitado nesses momentos. – ele disse tristemente, balançando a cabeça negativamente e nós rimos – Mas hein! Por que ela te ligou? – tornou a perguntar.
- Não sei, foi estranho, – Sel disse – a principio parecia que ela queria me dizer alguma coisa, mas depois desistiu. Acho que não devia ser tão importante, então perguntou como estavam as coisas, se a gente podia marcar de se encontrar...
- É, nada de mais, viu? – Justin interrompeu – Agora o Liam vai falar sobre...
- Mas Liam, talvez ela nem tenha o seu número. – Sel o interrompeu.
- Amor, eu estou falando! – ele protestou.
- Ai, Bieber, pode parar, porque você me interrompeu também! – ela o olho pelo canto dos olhos.
- E esse é o casamento, senhoras e senhores! – Liam abriu um sorriso enorme e todos nós, sem exceção, gargalhamos – Sinta o amor, essa coisa linda!
- Ok! Como eu estava dizendo, – Liam voltou a falar enquanto Justin e Sel se abraçavam, ainda rindo baixinho – entrei em contato com uns conhecidos, estava correndo atrás para que esse nosso novo álbum começasse a se encaminhar, já que parece que sou só eu quem está realmente preocupado com isso...
- Para de mentir! – Liam se manifestou e eu fechei os olhos.
- Joe, está prestando atenção? – Liam falou mais alto, ignorando Liam.
- Estou.
- Então, eu falei com uma pessoa e expliquei sobre o nosso projeto, disse que a nossa ideia era fazer alguma coisa diferente do que estamos acostumados a fazer e...
Liam fora interrompido pelo som estridente do interfone e pelos latidos de Snoop.
- Mas ninguém consegue falar nessa casa! – ele reclamou e nós gargalhamos.
- Alguém atende pra mim? – pedi entre risos e Liam se levantou mais que rápido, fazendo com que a minha cabeça subitamente batesse contra o sofá.
- Caramba Liam, você não! – reclamei levando as mãos até minha cabeça e me ajeitando melhor no sofá.
- Fala Ian! – ele exclamou e depois de alguns segundos me encarou com o cenho franzido – Quem? Miley?
Ao ouvi-lo, eu também me levantei e fui andando com o meu passo super-rápido de pessoa doente, escada a cima. Sentindo o olhar de todos sobre minhas costas.
- Você tem certeza Ian? Ok, então eu acho que pode deixá-la subir. – e colocou o interfone no gancho – Joe, a Miley e...
- Já entendi! – eu disse terminando de subir os últimos degraus.
Entrei em meu quarto, peguei o celular de Demi que estava na cabeceira da minha cama, imaginando que talvez esta fosse a razão pela qual Mi apareceria aqui em casa, o coloquei no bolso da minha calça de moletom e desci as escadas até chegar à sala novamente.
- ... Liam?
- Eu não sei.
- Mas...
- Já disse que não sei, Selena.
Espirrei e nós ouvimos a campainha tocar, Liam fez menção em ir até a porta, mas fiz sinal para que parasse e ele assim o fez. Abri a porta, dando de cara com uma Miley que sorria docemente, abaixei o olhar e encontrei Melannie.
Congelei.
- Olá Joe! – ouvi Miley dizer, mas não consegui tirar os olhos da pequena menina de grandes olhos castanhos.
- Oi Joe. – a pequena sorriu encolhendo os ombros. Senti Snoop passar, esfregando-se em minhas pernas e então ele sentou-se em frente à menina todo feliz, balançando o rabo freneticamente e ela sorriu ainda mais ao vê-lo – Snoop! – exclamou se ajoelhando e o abraçando – Você veio me cumprimentar? Foi isso? Que lindo! – ela riu brincando com as orelhas dele.
Respirei fundo, pensei duas, três vezes e, vencido por aquela imagem, eu sorri, me ajoelhando diante dela.
- Ele gosta muito de você, – eu disse passando a mão pelos pelos macios de Snoop e ela me encarou com os olhos brilhando – só de ouvir sua voz veio até aqui, sem latir nenhuma vez!
- Ele é um cão muito especial – ela riu passando a mão na cabeça dele uma última vez e depois tornando toda sua atenção para mim. Sorri fraco.
Sim, ele é. Pensei em dizer. Tenho orgulho do meu cão, ele compartilhou comigo momentos muito importantes. Sério!
- Mas então Melannie, está tudo bem com você? – perguntei e ela assentiu, ainda sorrindo para mim – Eu... Bem, Snoop e eu já estávamos sentindo a sua falta, o que fez nesse final de semana?
- Dormi na casa da minha amiga. – ela disse e eu arqueei as sobrancelhas, demonstrando meu interesse.
- E foi legal?
- Foi, nós brincamos perto do lago que, pelo o que o pai da minha amiga disse, vai demorar um bom tempo ainda até começar a descongelar, assistimos filmes, comemos muitos cookies e... Hm, muffins! Deliciosos muffins!
- Nossa, vejo que se divertiu bastante – sorri de lado.
- Muito!
- Que bom, mas tenho uma pergunta para você.
- O que? – ela disse pendendo a cabeça para o lado.
- Quanto as nossas aulas de violão, você acha que pode dar certo?
- Claro que pode! – me garantiu sorrindo lindamente – Sabe, aquele dia também foi muito legal, mas pra ficar completo, eu bem que podia ter ganhado mais uma do Liam no videogame, ele não é muito bom.
- Eu ouvi, sua tampinha! – Liam disse, com o tom de voz elevado e nós rimos, olhei para a sala e vi que os todos nos observavam – Você deu sorte naquele dia, vem aqui agora que eu te mostro o que é jogo de verdade!
Tornei a encarar Melannie e ela olhava num ponto fixo sobre meu ombro, provavelmente para Liam, com os olhos comprimidos e um sorriso no canto dos lábios.
- Eu posso Joe? – ela me olhou e eu assenti, me colocando de pé. A menina sorriu uma última vez para mim e entrou correndo no apartamento com Snoop em seu encalço.
- Bom, muito bom. – Mi disse enquanto eu saia do apartamento e fechava a porta do mesmo.
- Como? – dei um riso contido, a olhando com o cenho franzido e pigarreei, ainda sentindo minha voz sair estranha.
- Achei que não fosse querer vê-la, – gesticulou – mas gostei do modo como falou com ela, gostei bastante.
- E por que achou que eu não iria querer vê-la?
- Oras, porque você atendeu uma chamada de Robert. – ela disse e tirou um celular do bolso traseiro da calça, me mostrando o mesmo.
Era o mesmo celular que eu lembrava claramente de estar na mão de Melannie lá no começo dessa história toda, quando a encontrei sentada, com a cabeça encostada nos joelhos, soluçando na escadaria em frente à escola Queen’s Elizabeth, e chorava porque a mãe estava demorando a chegar. Ela recebera a ligação de Demi neste mesmo celular, com a chantagem dos muffins e a ordem de não falar nem com a Madonna.
- Mas não uma dela, então tirei minhas conclusões – completou arqueando uma das sobrancelhas.
- Como sabe que eu atendi a ligação? – franzi o cenho novamente, também tirando um celular do bolso, o celular deDemi – Provavelmente também saiba que estou com o celular dela, como sabe disso? Por que você sabe sobre tantas coisas sobre a minha vida? Coisas essas que eu desconheço totalmente, o que é bom ressaltar. Ou desconhecia, ou sei lá. Isso é, no mínimo... Injusto – eu disse frustrado com a situação em que me encontrava.
- Desculpe por isso, – ela disse e mordeu os lábios e estendendo a mão, eu lhe entreguei o celular, que ela logo guardou dentro da bolsa – eu já te disse que sei sobre muitas coisas, mas quero que esteja claro que te confundir não era a intenção da Demi, o que ela menos queria era...
- Bagunçar com a minha vida. – a interrompi, completando sua frase e ela assentiu – É, eu sei, já ouvi isso.
Tomei ar, tirei um pedaço de papel higiênico do bolso, fechando levemente os olhos, virei o rosto, levando a mão ao nariz, e espirrei.
- Droga – murmurei, voltando a minha posição inicial.
- Saúde – ela riu.
- Obrigado, – disse com a voz nasalada e comprimi os olhos – eu acho.
- Bem, espero que entenda a intenção dela.
- Não é tão fácil, mas estou me esforçando para entender. – cocei a nuca.
- Ouça, faça aquele exame idiota, ok? Assuma suas responsabilidades, pelo jeito não vai ser tão difícil, Melannie te adora, e depois não as deixe de lado, – deu um passo a frente – nem a menina e nem Demi, elas precisam de você.
- Não é o que Demi diz – ri sem humor e balancei a cabeça negativamente.
- Ah, Joe! – ela rolou os olhos jogando as mãos ao lado do corpo – Será que você ainda não aprendeu? Demi é igualzinha ao pai dela, quer resolver tudo sozinha, não pede ajuda pra ninguém e, se não percebeu, Melannie às vezes também age da mesma forma! Mesmo se ela te mandar embora, não vá.
- Quer saber? – pigarreei – O problema é que tudo fica mais difícil quando eu sei que tem mais alguma coisa. Ela esconde mais alguma coisa, não é?
Miley deu de ombros, com o rosto inexpressivo. Diferentemente da prima, ela tinha jeito de que sabe guardar muito bem um segredo, que conseguiria mentir com facilidade para qualquer um se fosse preciso. Percebendo que eu a analisava, Mi sorriu.
- Joe, eu não sou a Demi, ok? – balançou a cabeça negativamente, parecendo se divertir com aquilo – Não adianta ficar me olhando desse teu jeito ai, – ela mexeu a mão diante de meu rosto e eu ri – achando que eu vou te falar tudo aquilo que você quer ouvir, eu não tenho nada pra te dizer.
- E ela não precisa de mim, – conclui sorrindo e dei um passo para trás, levantando as mãos até a altura dos ombros – ela tem o Robert.
Ela comprimiu os olhos, abriu a boca algumas vezes antes de suspirar e cruzou os braços.
- Qual é? Robert é um idiota... – disse de má vontade, desviando o olhar do meu.
- Não sabia que não gostava dele – sorri de lado, feliz por não ser o único.
- Vamos apenas dizer que não acho que ele seja bom o bastante para cuidar das duas.
- Hm. Tudo bem, então me conte, – arqueei as sobrancelhas – o que você sabe?
- No momento, o que eu sei é que tenho que tomar cuidado com as coisas que te conto, – ela sorriu largamente – porque da última vez que tentei te ajudar, vocês dois acabaram molhados numa estrada e agora estão assim – me mediu dos pés a cabeça, levei a mão a boca e tossi – doentes.
- Ela já te contou tudo, não foi? – rolei os olhos e ela riu.
- Contou por alto, só as partes que me interessariam – ela sorriu olhando para o alto e piscando várias vezes.
- Que seriam todas – sugeri e ela me encarou com um sorriso divertido.
- Sim, seriam todas! – Mi franziu o cenho e eu ri do jeito engraçado dela, como se realmente estivesse impressionada – Dude, você é bom, sabe de tudo!
- E você é meio doida – eu disse entre risos.
- Ah, você não viu nada... – ela disse e fez menção em pegar em minhas mãos, mas depois as juntou próximo ao peito – Ok, antes de qualquer coisa, suas mãos estão limpas? Eu estou em época de provas e ficar doente neste momento é o que eu menos preciso.
- Qual é? Estou doente, mas sou limpinho – arqueei uma das sobrancelhas, funguei.
- Demi também é limpinha e espirrou no meu ombro hoje cedo! – ela disse séria e eu segurei para não rir.
- Sério? Ela deve estar como eu, a Sel disse que falou com ela, que estava com uma voz cansada... Ela está bem, não está?
- Anw, coisa linda você preocupado com ela – ela sorriu e apertou minha bochecha.
- Não estou preocupado...
- Aham, mas ela está bem e, como a Sel disse, tomou alguns remédios e deve estar no 5º sono há essa hora. – ela disse e eu apenas assenti, também queria estar no 5º sono há essa hora. Mi suspirou e tocou minha mão livre sem pestanejar – Mas mudando de assunto, cá entre nós, eu acho que Demi está se enganando ao querer ir adiante com esse casamento.
- Estou ouvindo – eu sorri, gostando do que estava ouvindo.
- Se vocês se amam deviam ficar juntos, – deu de ombros – e se quiser, eu posso tentar te ajudar, mas você tem que me prometer que vai fazer tudo dar certo dessa vez!
- Mi, olha, eu falei com ela sobr... – comecei e nossa atenção foi desviada para a porta de meu apartamento que se abriu. Liam nos encarou por alguns segundos, demorando-se mais em nossas mãos, que estavam unidas.
- Ah, – suspirou – foi mal! – e fechou a porta.
- Mais essa ainda – eu disse com completo desânimo soltando da mão de Mi.
- O que foi isso? Não entendi – ela franziu o cenho.
- Acho que ele gosta mesmo de você – admirei, levei a mão à maçaneta.
- Eita! – arqueou as sobrancelhas – Uma escolha nada inteligente – ela disse e eu ri.
- Fazer o que se essas coisas a gente não escolhe? – eu disse abrindo a porta, mas logo me lembrei sobre o que estávamos falando e a fechei novamente – Sobre a Demi, eu falei com ela, mas parece que ela foge de mim, sempre.
- E você vai desistir? – perguntou jogando uma mecha do cabelo atrás da orelha. Não tinha muito que pensar para responder.
- Pergunta idiota, – franzi o cenho rindo – claro que não, e pode deixar, farei tudo dar certo dessa vez.
- Beleza.
Ela suspirou, parecendo aliviada e, enfim, eu abri a porta e nós entramos no apartamento, lado a lado. Estavam quase todos sentados nos mesmos lugares de antes, exceto Liam e Melannie, que estavam sentados no chão, com os controles do videogame em mãos e Snoop estava deitado ao lado da menina. E Selena, bem, Sel não estava na sala.
- Hey Mi! – Justin exclamou – Faz tempo não te vejo.
- Pois é, ainda sou estudante, então ando um pouco ocupada – ela sorriu enquanto nos aproximávamos do sofá e eu espirrei.
- Saúde! – disse para mim, eu agradeci com um meneio de cabeça e ele tornou a atenção a Mi – Já passei da fase estudante, amém! – ele riu.
- Amém! – Liam, Liam e eu dissemos em uníssono e rimos.
- Quem é essa garota que chega, mas nem entra no seu apartamento para falar comigo, Joe? Ela se parece tanto com a minha amiga Mi – Sel disse atrás de mim e eu a olhei por cima do ombro enquanto Miley se aproximava dela de sorriso e braços abertos.
- Nossa, que linda você, sabia que tinha uma garota parecida contigo que me ligava toda semana e agora nem dá um sinal de fumaça? – elas riram e começaram a conversar sobre sei lá o que.
Tornei minha atenção à televisão, onde um monte de gente levava tiros, sangravam, alguns corpos chegavam a explodir. Eu poderia estar errado e talvez ainda não saber muito bem o que era agir como um pai, mas aquilo era muito violento para uma garotinha na idade de Melannie estar jogando, não? Eu me sentei no sofá, Liam, Melannie e Snoop estavam sentados no chão, um pouco mais a minha frente e os dois jogando. Tossi, pigarreei. Já disse que estou odiando estar doente?
- Liam, esse jogo não é muito violento? – perguntei ainda olhando para a tela.
- Não Joe, eu sei o que você está pensando, mas ela é estudante, ainda é uma menina, mas pode me matar, matar pessoas... – ele disse sem tirar os olhos da televisão e eu não tive dúvidas que ele falava sobre Mi – ou melhor, isso aqui são zumbis, eu já pedi pra você não ficar muito perto e você me ouviu? Não! Mas tudo bem, eu já desencanei.
- Mas tem uma explicação.
- Está tudo bem, também não vou mais me aproveitar de você – ele disse, eu respirei fundo e cocei a nuca.
- Erm, Liam...
- Você não liga mais para os meus sentimentos!
- Temos mesmo que discutir nossa relação agora?
- Não, se não você vai estragar a minha noite – me olhou de relance – e eu ainda quero ir ao Black Cat hoje.
- Mas tem uma explicação, – repeti – e é muito boa.
- Que seja, não quero mais que você seja minha bicth. – ele deu de ombros e depois se deu conta da palavra que tinha acabado de usar – Desculpa Melannie, você não devia estar ouvindo isso, mas você já deve ter notado, a culpa é do Joe.
- Sinceramente, eu sempre achei que fosse o contrário, – eu disse e ouvi a menina rir – achei que você fosse a minha bitch.
- Sabe, depois que o Justin me contou sobre o que aconteceu na cozinha dele, eu fiquei feliz por você Joe, fiquei mesmo, – ele disse e eu abri a boca, incrédulo. Maldito Bieber. Comprimi os olhos e olhei em volta, ninguém prestava atenção em nosso conversa, a não ser Melannie – mas agora você me magoou.
- Espera! Ele te contou... Por que diabos ele te contou isso?
- Certo ele! Não é justo eu sempre ser o último a saber das coisas, – ele disse e eu tive que concordar – mas chegamos ao consenso de que você é uma péssima amante. Estou cortando minhas relações contigo.
- Ah, fala sério! Eu não estou ouvindo isso – eu joguei o corpo pesadamente para trás e ouvi Melannie rir mais uma vez.
- Vocês são tão bobos – ela disse entre risos, balançando a cabeça negativamente.
- Melannie, – Mi a chamou – vamos, está na hora de ir.
- Não, tia Mi, só me deixa terminar esse jogo? – ela choramingou sem tirar os olhos da tela.
- Ah, então eu vou te deixar ai com o Joe, – ela cruzou os braços – vou pra casa assistir a todos aqueles filmes novos e comer os muffins da Starbucks sozinha!
Melannie mexeu os dedos rapidamente sob os botões do controle do videogame, em uma metade da tela apareceu “WINNER” e na outra “LOSER”. Liam jogou as mãos para o alto e a menina se colocou de joelhos com um grande sorriso no rosto, e olhou para ele.
- Foi muito, muito legal te matar, Liam! – e o abraçou – Você é o melhor pior jogador que eu conheço – ela disse e todos começaram a gargalhar.
- Obrigado, tampinha – ele riu, retribuindo o abraço que logo ela se desvencilhou.
- Pronto tia, agora nós podemos ir – ela disse pondo-se de pé.
- Se despeça de todo mundo – ela disse, e então as duas começaram a se despedir de cada um, até de Snoop, que só se deu ao trabalho de levantar a cabeça para receber os carinhos.
- Eu acompanho vocês – eu disse e Mi me seguiu até a porta, ela sorriu e me deu um abraço rápido.
- Só mais uma coisinha, – ela começou num tom de voz mais baixo – se caso vocês um dia ficarem juntos, nada de trair a minha prima ou se não eu juro por Deus que eu te castro Joe Jonas! – ela disse séria e eu arregalei os olhos.
- Eu já disse que você às vezes me assusta? – perguntei no mesmo tom de voz e ela arqueou as sobrancelhas – Ok, nada de trair! – lhe assegurei e ela abriu um sorriso enorme.
- Tchau Joe! – a menina, agora ao lado da tia, pegou na mão da mesma e sorriu para mim.
- Tchau pequena. – eu me curvei e beijei o topo de sua cabeça – Depois falamos sobre as aulas de violão, ok? – disse tornando a posição ereta, ela apenas assentiu.
- Não se esquece de mim, hein Miley? Liga lá em casa – Sel elevou o tom de voz enquanto eu abria a porta e Mi fez sinal de positivo.
Quando as duas já estavam no corredor esperando pelo elevador, podia se ouvir o povo rindo e gritando tchau de dentro do apartamento. Eu sei, eles têm sérios problemas. Depois de um último aceno de Melannie, as portas do elevador se fecharam e eu voltei para o apartamento, fechando a porta do mesmo.
- Joe, a Tay nos convenceu, – Liam encolheu os ombros – vamos te deixar descansar e contar as novidades outro dia, por telefone, e-mail, sei lá! Você tosse e espirra a todo o momento.
- Você está precisando, dude – Justin fez careta.
- Você merece! – Tay sorriu se levantando e todos fizeram o mesmo.
- Ele não merece nada! – Liam cruzou os braços.
- Ih, está bravo Liamzinho? – Sel fez bico passando a mão no cabelo dele, que tentou se esquivar.
- Não! Vamos embora! – ele levantou o rosto e começou a andar em direção a porta.
Pensei em falar sobre Melannie, mas estava louco pra deitar na minha cama. Isso podia esperar.
- Ou então a gente se encontra na casa do Liam, – Justin disse, sendo puxado por Sel pela mão – assim já podemos resolver tudo.
- Eu não sei se quero ele na minha casa – Liam fez careta.
- Você não tem que querer nada! – Liam disse e nós rimos – Tchau Joe!
Todos se despediram de mim e finalmente Snoop e eu voltamos pra cama. Sim, Snoop e eu, mas não ria, estou doente e carente.
Capítulo 14.
Eram oito horas e pouquinho da manhã e eu já estava de pé. Ainda estava um pouco doente, minha garganta começara a arranhar ainda na noite em que os dudes e as meninas estiveram aqui, logo quando foram embora, bem, na verdade eles foram ao Black Cat se divertir um pouco, mas enfim. Eu tomei remédio e não adiantou de nada, odeio ter que admitir, mas eu estava realmente muito mal. Já disse que estou odiando estar doente? Se sim, desculpe, mas eu estou e vou continuar reclamando. Fala sério, em alguns momentos em que eu tossia, parecia que meu pulmão viria junto e cairia sobre meus pés! Mas enfim, ontem em casa, ficamos somente Snoop e eu, aproveitei e liguei para minha mãe, falei um pouco com ela e depois com a minha irmã, fazia um tempo que não conversávamos e eu estava com muita saudade das duas, e elas de mim. Principalmente minha irmã, parece ter ficado chateada por eu não ter dado notícias depois que voltei de turnê e por ela ainda não saber sobre Demi ter voltado do Brasil. Contei que hoje faria 21 dias desde que havíamos nos reencontrado – não que eu estivesse contando, claro – e ela ficou indignada. Ela adorava Demi e, assim como os dudes, achava que ela fora a minha melhor namorada. Mas agora está tudo bem, tudo esclarecido. Não falei sobre Melannie ser minha filha, esperava poder dizer isso depois do resultado do exame que faríamos hoje mais tarde.
Eu realmente esperava poder dizer isso.
E foi engraçado falar com ela, pois o único conselho que me deu foi: Roube a noiva! Eu ri, de certa forma aquela não era uma má ideia. Fiquei pensando naquilo por um longo tempo até pegar no sono e dormir feito uma pedra.
Arrumei a casa, aliás, apenas organizei, coloquei as coisas em seus devidos lugares, nada de limpar, varrer, passar pano úmido e coisas desse tipo, nada, deixei essa parte para a empregada que minha irmã me recomendou e quem eu já havia contatado. Ela disse que não teria problema se eu precisasse dela hoje e provavelmente ela chegaria daqui alguns minutos, mas não a esperaria, então só lhe dei as instruções básicas por telefone mesmo, expliquei que tinha um cachorro e ela não se importou. Fora isso, eu não tinha nenhuma exigência a fazer, a não ser que não tocasse no meu instrumento, eu mesmo posso limpar, antes ou depois de tocar violão, sei lá. Tomei um café da manhã reforçado, estava com fome, e quando terminei lavei a louça que estava na pia e peguei a coleira de Snoop na lavanderia, colocando-a no mesmo, ele estava todo feliz, andando de um lado para o outro, balançando o rabo freneticamente. Peguei minha carteira, celular, chaves e saímos do apartamento. Enquanto eu trancava a porta, Snoop se afastou um pouco de mim, parando em frente ao elevador. Ri fraco e então puxei levemente sua coleira e ele passou a me seguir escada abaixo. Escada? Sim, escada! Tomei uma decisão muito importante sobre o meu estilo de vida, decidi que deixaria de ser sedentário, e não, nada de academia, pelo menos não por enquanto, vou com calma, uma coisa de cada vez.
Ao sair, disse para que Ian encontrasse alguém do próprio prédio para auxiliar a nova empregada se fosse preciso, pelo menos até que eu voltasse, afinal, eu não estaria em casa quando ela chegasse, e eu confio nos funcionários do edifício e no julgamento de minha irmã, se ela disse que a empregada é boa, então é boa. Caminhamos por uns bons 40 minutos, o céu ainda não estava claro e o ar estava frio. Eu sentia minhas bochechas e a ponta do meu nariz gelada, não uvido nada que estivesse com o rosto rosado, mas eu não me importava com isso e nem se minha gripe pioraria, só queria andar um pouco e pensar. Ou até mesmo, não pensar, eu preferia não pensar. Snoop também parecia não se importar com nada, nem com escuridão amena, com o ar gelado ou com o solo úmido, fazia um tempo que não saia de casa, devia na verdade estar adorando.
I've found a reason to show a side of me you didn't know (Encontrei uma razão pra mostrar um lado meu que você não conhecia) – cantei baixinho – A reason for all that I do and the reason is you (Uma razão para tudo o que faço, e a razão é você).
Parei em frente à portaria e franzi o cenho analisando a letra da música que eu praticamente acordei cantando, cada verso, cada estrofe, e rolei os olhos me sentindo um idiota. Tentei não pensar, mas inconscientemente eu estava cantando uma música que retratava muito bem parte de tudo aquilo o que estava acontecendo comigo, tudo o que eu estava sentindo. Tossi algumas vezes.
- Estou enlouquecendo, não é? – olhei para Snoop, que só fez abrir a boca e colocar a língua para fora – Pois é, estou, e ainda insisto em conversar com um cão.
Pigarreei balançando a cabeça negativamente e entrei no prédio, subimos pelas escadas e não vou mentir, cheguei ao 8º e não aguentei mais! Ora, me dê um desconto, eu moro na cobertura e nem mesmo o Snoop estava com essa disposição toda, ok? Eu é que não iria carregá-lo até lá em cima.
Abri a porta do apartamento e entrei. A sala já estava arrumada, depois de tantos dias sem uma boa limpeza eu tinha me esquecido de que alguns móveis brilhavam quando estavam limpos. Sem brincadeira! Fechei a porta e coloquei as chaves sobre a mesinha próxima a ela, ouvindo vozes na cozinha. Snoop começou a rosnar.
- Shhh... Quietinho, ok? – pedi andando até a porta da cozinha.
Parei ao ver Ian bem de boa, bem folgado de braços cruzados, sentado de qualquer jeito na minha cadeira, enquanto a moça baixinha, quem eu concluo ser a minha nova empregada, estava descalça em cima de outra cadeira passando pano nos armários mais altos. Os armários estavam completamente vazios e a louça toda em cima da mesa, brilhando.
Não sei por que, mas quanto à empregada, eu tinha a imaginado uma senhora já de mais idade e não uma garota que provavelmente tinha quase a minha idade e usava um short talvez muito curto para ser usado num dia frio, mas não tão curto a ponto de ser vulgar... Mas enfim, ela e Ian nem notaram minha presença.
- É sério! Eu sou os olhos e os ouvidos desse prédio – ele se gabou e ela riu.
- Ian! – o chamei elevando o tom de voz e ele, assustado, mais que rápido se levantou tropeçando nos próprios pés ao se virar para mim e colocou as mãos atrás do corpo.
- Senhor Jonas.
Ok, eu já me conformei que ele não vai parar de me chamar de senhor, apesar de me sentir velho, vou parar de insistir para que faça o contrário.
- Senhor Jonas, – a garota desceu da cadeira, deixando o pano sobre a mesma e veio até mim com um sorriso cordial – meu nome é Poppy, nos falamos ao telefone, – e estendeu a mão – é um prazer conhecê-lo.
Ela era muito baixinha, tinha os olhos e os cabelos negros, a pele branquíssima e o rosto rosado.
- Igualmente. – sorri apertando sua mão e vi Snoop se aproximar e cheirar os pés dela – Este é o Snoop e ele faz isso com todo mundo.
- Ah, – ela riu soltando sua mão e a pousando na cabeça do cão – ele é lindo, e nós vamos nos dar muito bem.
- Espero que consiga dar conta da bagunça – eu disse e ela me encarou.
- Bem, por enquanto está tudo tranquilo!
- Ótimo. – eu disse satisfeito, ela sorriu mais uma vez e voltou ao trabalho, então eu me virei para Ian abaixando o tom de voz – Posso saber o que você está fazendo aqui?
- O senhor pediu para que alguém viesse auxiliá-la – ele disse levantando levemente os ombros.
- Não tinha outra pessoa? – franzi o cenho.
- Ah não, preferi cuidar disso pessoalmente – ele disse e arqueou as sobrancelhas, eu ri.
- É a eficiência?
- O senhor me conhece – ele sorriu de lado.
- Para de paquerar a garota e volta pra portaria – rolei os olhos.
- Como queira, senhor. – ele disse com um meneio de cabeça e se virou para a moça – Até mais, Poppy.
- Até – ela o olhou brevemente e sorriu, então ele saiu do apartamento e fechou a porta atrás de si.
- Poppy, eu vou deixar o Snoop solto, ok? – eu disse já soltando a coleira dele e ela apenas assentiu – Hoje em dia ele só faz o que der na telha, se pedir para ele não ir para a sala, é certamente para onde ele vai, é só questão de saber manipulá-lo. E não se preocupe, ele não vai pra cima nem de uma mosca e tem hora certa para comer, as necessidades ele só faz de madrugada e eu acabo limpando. Sei lá, acho que você não vai precisar fazer nada por ele, então pode deixar que eu cuido do garoto, ok?
- Ok. – ela disse e ficou me olhando, pra saber se era só aquilo, e então eu me lembrei de mais uma coisinha básica.
- Aliás, a única coisa que você pode fazer é conversar com ele de vez em quando.
- Conversar? – ela riu franzindo o cenho.
- É, ele é meio carente e saber que tem um pouco de atenção das pessoas faz bem.
- Ahm, tudo bem – e mais uma vez sorriu cordialmente.
- Eu vou subir – eu disse e ela assentiu.
Subi as escadas de dois em dois degraus e tossi ao entrar em meu quarto, segundo o meu relógio de pulso, era pouco mais de meio-dia e já estava quase na hora de sair de casa para encontrar com Demi e Melannie, tínhamos marcado anteontem mesmo, no carro, antes de eu deixá-la na casa da prima. Não foi a conversa mais calorosa que já tivemos, posso defini-la como monossilábica, curta, objetiva, mas não deixou de ser uma conversa. Mas afinal, o que estou querendo dizer é que gosto de ser pontual e que era melhor eu me apressar.
Tirei o cachecol, blusa e quando estava para tirar a camiseta lembrei que tinha mulher em casa. Fui fechar a porta e Snoop entrou, olhei com o cenho franzido para ele, que subia em minha cama, deitando-se na mesma. Ele não é assim, normalmente fica lá, grudado na pessoa que acaba de conhecer.
- O que foi, dude? – fechei a porta e me aproximei dele – Será que você também tem que ir ao médico? – suspirei – Pare com isso, ok? Você está bem!
Pigarreei e fiz um cafuné na cabeça dele, ele continuou com a cabeça entre as patas, me olhando com aquele olhar caído. Você deve estar achando que eu fico dando muita importância para um cão, mas ele já estava velho e esse desânimo todo dele me preocupa. O olhei uma última vez e voltei a me arrumar, na verdade só troquei de camiseta, a outra estava me pinicando, e tornei a colocar as outras peças de roupa. Verifiquei se todos os meus documentos que poderiam ser necessários estavam na carteira, peguei as chaves do carro e deixei o quarto. Snoop nem se deu ao trabalho de me seguir.
Avisei a Poppy que estava de saída, me certifiquei sobre o pagamento dela e disse que talvez quando voltasse não a encontraria mais aqui. Desci as escadas novamente até o estacionamento subterrâneo e peguei meu carro, passei pela guarita de Ian e acenei para ele, que retribuiu.
Dirigi sem pressa até a casa da Demi. Pelo o que eu entendi, assim que saísse do trabalho ela pegaria Melannie na escola, como de costume, e ao invés de irem almoçar no apartamento de Mi, iriam para casa e Demi não voltaria a trabalhar hoje. Bem, foi o que eu entendi. Quando já estava me aproximando da casa amarelo-clara, pude ver um carro estacionado em frente à mesma, fiz questão de diminuir a velocidade, quase parando o meu carro, porque aquele ali não era só um carro, era a enorme BMW preta. Um homem de terno cinza, quem eu já reconheci, abriu o porta-malas enquanto Demi se aproximava com uma mala de rodinhas relativamente grande e eu arregalei os olhos.
Será que ela estava mandando ele embora? Não, não é possível, ela não faria isso por você Jonas. Por mais que você quisesse que sim, ela não estava o mandando embora.
Ela estava linda. Bem, na verdade ela é linda. Suspirei. Pensamentos como esse não têm me trazido beneficio algum. Robert colocou a única mala dentro do carro e fechou o porta-malas, se virou para Demi e tocou seu queixo, selando seus lábios brevemente, e os dois entraram na casa de mãos dadas.
Já as minhas mãos, ah, ela se fecharam fortemente em volta do volante e eu senti uma vontade imensa de afundar o pé no acelerador e acabar com a traseira do carro dele, mas, como sempre, me controlei, o prejuízo seria todo meu. Estacionei o carro com calma, respirei fundo e saltei do mesmo.
- Joe! – Melannie chamou e acenou da porta de entrada, que estava aberta, assim que me viu, sorri repetindo seu gesto e ela deu uns passos para trás – Mamãe, o Joe está aqui! – ela gritou e depois veio ao meu encontro.
- Hey, pequena! – eu agachei e ela me abraçou – Tudo bem? Faz um tempão que a gente não se vê, não é?
- Nossa, – ela riu se afastando um pouco – maior tempão, desde anteontem à noite!
- Está querendo dizer que não sentiu minha falta? – devo ter feito uma cara desolada, porque ela tornou a me abraçar de imediato.
- Eu sempre sinto a sua falta! – ela disse baixinho.
Senti meu coração se apertar em meu peito, eu queria pedir desculpas a ela pela minha ausência, mas não sabia se devia ou se ela entenderia o que eu queria dizer e o que as palavras dela significaram para mim. Foram mais de sete anos sentindo a minha falta. Afaguei seus cabelos enfeitados por um pequeno laço azul que segurava uma fina mecha na lateral, beijei o topo de sua cabeça, nos separamos e eu levantei, vendo Robert se aproximar.
- Jonas. – ele estendeu a mão e eu a apertei rapidamente – Então, hoje é o grande dia.
- Pois é – eu disse meio de má vontade, não estava a fim de conversar com ele.
- Mas, será que posso te perguntar como foi que escolheu a clínica, assim tão rápido? – perguntou e eu olhei brevemente para Melannie, que estava ao meu lado, segurando minha mão e atenta a tudo – Não precisa se preocupar, ela já sabe, Demi explicou a ela.
- Ah, sim – sorri para a menina e passei as costas da mão em sua bochecha macia e rosada.
- Da forma mais fofa e azul possível, mas explicou. – ele disse sério entre um suspiro e eu pude ver por cima do ombro dele, Demi saindo da casa e trancando a porta – Enfim, sobre a clínica...
- Bem, na verdade eu já conhecia, – fitei o chão por alguns segundos e tornei a olhar para ela, que agora vinha calmamente em nossa direção – teve uma época em que um amigo meu precisou, mas no fim a criança não era dele.
Isso foi quando ele só tinha 17 anos, mas ele superou, escreveu uma música chamada ‘Ignorance’ e agora é famoso, fim.
- Entendi. – ele disse chamando minha atenção e se virou um pouco, já buscando pela mão dela para entrelaçá-las. Cocei a nuca – Pronta?
- Sim – ela disse mexendo nas pontas do cabelo com a mão livre, sem levantar o olhar em qualquer momento, como se aquilo fosse a coisa mais interessante do mundo.
- Demetria. – eu disse procurando pelo seu olhar, ela inspirou profundamente e por fim, me encarou.
- Joe.
- Tudo bem? – perguntei e ela apenas assentiu – Está melhor da gripe? – arqueei uma das sobrancelhas e percebi que Demi segurou a respiração.
- Claro que está, eu cuidei dela – Robert disse sério e eu sorri amarelo – Bem, nós vamos te seguindo, pode ser? – perguntou e eu dei de ombros.
- Claro, por que não?
- Melannie, vem com a mãe – Demi chamou.
A menina soltou de minha mão, já agarrando a da mãe e as duas foram lado a lado até a BMW preta e Robert as seguiu. Suspirei mais uma vez e segui para o meu carro. Entrei, coloquei o cinto de segurança e dei a partida. A clínica não era exatamente longe, na verdade ficava mais para o centro da cidade, só era meio complicado de chegar lá porque ela estava um pouco escondida, talvez fosse um ponto estratégico por muitas pessoas famosas, ou não, quererem manter a descrição. O que não era o meu caso, eu estava pouco me importando.

Sabe quando você almeja tanto por uma coisa, que você fica por horas, dias, ou meses imaginando como faria para conseguir aquilo e o que faria com o mesmo quando o tivesse em mãos, mas por mais que tente, você não consegue tê-lo para si?
Você sabe qual a sensação que se tem?
Será que é pior do que eu estou sentindo agora?
Porque eu almejo por um certo alguém e passei a noite em claro, esperando que o tempo passasse rápido e desse pelo menos 5 ou 6 horas da manhã para poder vê-la novamente. Mas o dia nem tinha começado ainda e às 4 eu já estava sentado ao meio-fio na frente da minha casa sem tirar os olhos da casa dela, desejando que ela abrisse a porta principal com aquele jeito despreocupado, mandando um último beijo no ar de despedida para a mãe e que ela sorrisse docemente assim que me avistasse ali, a esperando. Eu sorriria como um idiota apaixonado e enquanto ela viesse em minha direção, linda com os cabelos soltos caindo sobre os ombros, eu me levantaria, fazendo alguma palhaçada somente para ouvi-la rir. A tomaria em meus braços já entorpecido por sua presença, por seu perfume, beijaria seus lábios macios e diria a ela o quanto a amo.
Sorri amargamente. Era triste saber que nada disso aconteceria. Com certeza ela não iria querer me ouvir, não viria até mim, não sorriria e se fizesse qualquer uma dessas coisas, não seria para me dizer que estava tudo bem.
Depois de um bom tempo um carro encostou em frente à casa de Demi. Reconheci como sendo o carro do tio dela. Ele saltou do carro e abriu o porta-malas, tirando de lá uma placa de “vende-se”, daquelas que são sustentadas por uma madeira que é fincada na terra. Ele andou em direção à porta principal abrindo a mesma com as chaves que tirara do bolso da calça jeans, deixou a placa encostada a parede e sumiu por trás da porta. Ainda um pouco receoso, eu me levantei e fui a passos largos até lá, parei em frente à porta aberta, vendo que não havia mais nada lá, nem mesmo as caixas do dia anterior, a casa estava vazia e escura.
- É, eu esperava que você fosse aparecer por aqui uma hora dessas. – o tio de Demi sorriu saindo da casa com um martelo em uma das mãos e na outra a caixa azul-bebê, aquela do dia do nosso primeiro beijo, aquela do dia em que sua mãe faleceu – Bem, pelo menos eu não fui o único a pensar assim.
- Ela já foi? – perguntei angustiado vendo-o colocar a martelo no chão calmamente. Senti um bolo se formar em minha garganta.
- Fez questão de não ficar! – ele disse trancando a porta e então me encarou – Ela chegou e sem dizer nada subiu para o quarto, arrumou as últimas coisas que faltavam e pediu para que eu a levasse para algum lugar, qualquer lugar longe daqui, perguntei o que havia acontecido e ela se manteve firme dizendo que não queria mais ficar nessa casa, – ele riu sem humor – eu não discuti com ela, claro, é minha sobrinha e quem gostaria de ficar tanto tempo no mesmo lugar em que encontrou a mãe, aquela pessoa que significava tudo... Bem, você sabe.
Ok, aquilo não estava me ajudando em nada, se era para ele acabar com o pouquinho que ainda restava de mim, ele conseguiu.
- Eu não sei o que você fez rapaz, mas ela acordou chorando hoje, a Demi não está bem. – ele franziu o cenho – Pensei que você estivesse cuidando bem dela, acho que me enganei e ela também.
Ele suspirou e eu senti meus olhos começarem a arder, passei as mãos pelo rosto e balancei a cabeça negativamente.
- Não era pra ser assim! – eu disse baixo, me odiando cada vez mais.
- Acho que isso não vai fazer mais diferença. – ele coçou a nuca – Mas como eu disse, não fui o único a pensar que você viria aqui, – e me estendeu a caixa – ela pediu que eu lhe entregasse. Boa sorte ai com essa caixa, com a sua vida e etc.
Peguei a caixa em minhas mãos e me sentei no chão com as costas contra a porta o vendo seguir para frente da casa com a placa e o martelo. Ele fincou a ponta da madeira no gramado e martelou algumas vezes, certificando-se se a placa ficaria firme.
- Ela disse alguma coisa? – chamei sua atenção, falando com um pouco de dificuldade, como se minha garganta estivesse se fechando – Digo, disse o que eu deveria fazer com esta caixa?
Ele balançou a cabeça em negação e sem dizer mais nada se virou, indo em direção ao seu carro, abriu a porta do motorista e entrou, arrancando com o mesmo logo em seguida. Eu fiquei sentado, olhando para o nada ainda segurando a caixa por sei lá quanto tempo. Talvez por tempo suficiente até que os dudes me encontrassem ali, chorando silenciosamente.


- O senhor não preferiu evitar qualquer possibilidade de publicidade? É possível fazer a coleta em outro ambiente, como por exemplo no escritório de um advogado, – a moça da clínica perguntou, estávamos nós quatro, Robert,Demi, Melannie e eu, sentados exatamente nessa ordem frente à mesa dela – Entretanto, mesmo neste caso, as coletas ainda precisariam ser realizadas simultaneamente, o que exige a presença de todos os envolvidos.
- Não, isso não é necessário – eu disse.
- Ok. – ela sorriu simpática e tornou a olhar para os papéis que tinha em mãos – Então é uma perícia DUO, em que os envolvidos são apenas o suposto pai e filho – e olhou para nós – No caso filha, correto?
- Isso mesmo – assenti.
- Desculpe a indiscrição, mas algumas perguntas ao decorrer do processo serão necessárias. – ela disse e todos permaneceram em silêncio – A senhora é a mãe dela?
- Sim – Demi assentiu.
- E o senhor? – se referiu a Robert.
- Sou o noivo da mãe da menina – ele disse.
- Sinto muito senhor, devem estar presentes na coleta somente a criança, a mãe e o suposto pai.
- Eu não vou poder entrar? – ele franziu o cenho.
- Não no momento da coleta.
- Eu não vou poder entrar Demi! – ele olhou para ela, parecia que esperava que ela dissesse algo, que ela protestasse ou sei lá.
- É só uma coleta de sangue – ela disse séria.
Demi o olhou brevemente e voltou a afagar os cabelos da filha, que jogava um joguinho qualquer no celular da mãe, só sei disso porque a menina estava muito concentrada e o celular fazia barulhinhos engraçados e de vez em quando até tocava uma musiquinha. Sinceramente, eu tive vontade de rir por causa do modo como ela falou com ele, mas percebi que Demi estava muito incomodada com alguma coisa, ela não olha e nem fala comigo direito, na verdade, não tínhamos trocado uma palavra sequer até agora, e pelo jeito o clima entre o casal não era o dos melhores.
- Bem, – a moça chamou a nossa atenção ainda com um sorriso no rosto, acho que ela já estava acostumada com situações assim, tentando minorar qualquer constrangimento com a sua cordialidade – a nossa clínica dispõe da tecnologia mais moderna que existe e de uma equipe técnica altamente qualificada, aqui vocês encontram rigor, total atenção e sigilo. Estes papéis, – e entregou a mim e a Demi um envelope juntamente a uma folha, um tipo de cartilha e uma caneta – devem ser devidamente preenchidos com o nome completo, a filiação e todos os outros dados, informações necessárias ao banco de dados do exame.
- Então, no caso, eu preencho pela Melannie? – Demi perguntou.
- Isso. – a mulher assentiu e eu tornei a ler algumas das coisas que tinha em mãos, prestando atenção em tudo o que ela explicava – Assim que os senhores terminarem de preencher, por favor, coloquem o papel dentro do envelope e me entreguem, seus dados serão analisados e mantidos arquivados. E esta cartilha – ela indicou a qual eu folheava – tem em seu conteúdo as normas do exame, que tem a finalidade de informar as responsabilidades, direitos e deveres de cada um de vocês dentro deste processo.
- Ok – Demi disse distraidamente.
Nós começamos a preencher os papéis e quando terminamos, assim como a moça havia nos instruído, os colocamos um em cada envelope e lhe entregamos, então ela nos deixou na sala avisando que voltaria logo para a coleta. Eu passei a ler a cartilha.
- Demetria. – Robert chamou.
- Sim? – ela levantou o olhar da cartilha, e eu também.
- Dá um jeito. – ele disse simplesmente e ela continuou o encarando por alguns segundos, suspirou e se virou um pouco para a filha.
- Melannie, meu amor, desligue esse celular.
- Mas mãe... – a menina choramingou.
- Você terá que parar de jogar de qualquer forma, – ela arqueou as sobrancelhas – daqui a pouco vai tirar sangue.
- Tudo bem então – Melannie disse entre um suspiro e entregou o celular a mãe.
- Obrigada. – Demi sorriu para a filha e estendeu o celular para Robert – Segura. – e voltou a ler a cartilha.
Eu já havia terminado de ler a cartilha quando, depois de um tempo, a moça retornou a sala em que estávamos e chamou a nós três para a coleta. Demi acompanharia Melannie, não só por dever fazer isso, mas ainda mais porque a pequena insistiu por isso. Numa outra sala, fomos bem recebidos por uma enfermeira, que pediu para que eu fosse o primeiro e que quando pedisse, eu seguisse suas instruções. Sentei na cadeira a frente dela.
- O DNA é uma molécula que está presente nos cromossomos no núcleo das células de qualquer ser vivo, – ela dizia preparando o seu material – nele contém as informações genéticas, onde estão inscritas todas as características fundamentais das pessoas. Deixe o braço pender e sacuda um pouco a mão.
Ela gesticulou para mim e eu assim o fiz com a mão direita, ela, em seguida, fazendo um garrote para que a circulação de meu sangue ficasse concentrada, continuou a explicar.
- As informações genéticas estão dispostas linearmente ao longo do cromossomo, em posições denominadas locos, – e segurou minha mão com firmeza, passando um algodão úmido na ponta do meu dedo anelar – é analisando de alguns locos selecionados, de 17 a 19 locos, que realizamos o exame, atingindo um grau de certeza acima de 99,99%.
Ela passou uma lâmina na ponta do meu dedo, que já estava vermelho, fazendo um pequeno furo e uma gota de sangue começou a aparecer, então levou minha mão até um pequeno papel absorvente e apertou meu dedo, fazendo com que três gotas de sangue pingassem sobre o papel.
- Tome, – ela me entregou um pedacinho de algodão – segure para estancar.
- Dói? – Melannie perguntou baixinho ao meu lado enquanto eu segurava o algodão entre o anelar e o polegar.
- Você nem vai sentir – eu sorri para ela e me levantei.
- Ok, agora é a sua vez, – a moça sorriu para a pequena – sente-se aqui.
- Quanto tempo leva para sair o resultado? – Demi perguntou enquanto Melannie sentava-se onde eu estava antes e a moça olhou para uma das folhas que tinha sobre a mesa.
- Neste caso, o laudo sai em 48 horas. – ela disse pegando um novo material e olhou para a menina – Deixe o braço pender e sacuda um pouco a mão.
Depois de Melannie passar pelo mesmo processo que eu, mordendo o lábio inferior e fechando um dos olhos quando a moça passou a lâmina sobre seu dedo anelar, a moça informou de quando o laudo sair, serão entregues duas vias, uma para Demi e outra para mim. Quando saímos da sala, Demi e Melannie foram na frente, enquanto eu andava até a mesa da moça que havia nos atendido antes, saber sobre tudo aquilo que eu teria de pagar.
- E então? – Robert perguntou se levantando e entregou o celular de Demi a ela.
- 48 horas – ela disse simplesmente, guardando o celular na bolsa.
- Senhor Jonas – a moça sorriu assim que eu me sentei à frente dela.
- Ahm... Sobre a forma de pagamento, acho que farei a vista mesmo. – dei de ombros tirando a carteira do bolso – Você tem maquininha ai?
- Tenho. – ela disse colocando uma folha sobre a mesa – Olha, como o senhor escolheu que o laudo saísse em 48 horas, este é o valor, ok? – ela disse circulando o valor de pouco mais de 600 libras na folha.
- Sem problemas – pigarreei, sentindo uma presença ao meu lado. Demi estava com uma mão sobre o encosto da minha cadeira e a outra na mesa, ela se curvou um pouco para poder ler a folha e o que a moça havia acabado de circular.
- Você não vai pagar tudo isso sozinho, vai? – ela me encarou dizendo em voz baixa e eu dei de ombros mais uma vez – Eu vou pagar a metade.
E pela primeira vez naquele dia, ela continuou me encarando por mais de segundos e ela não estava pedindo, ela estava apenas me informando que pagaria metade. Respirei fundo, podendo sentir o aroma de seu perfume e me mexi desconfortavelmente sobre a cadeira.
- Não vai, não! – eu disse calmamente no mesmo tom – Fui eu quem pediu pelo exame.
- Mas eu quero, e você não precisa pagar por tudo.
- É o mínimo que eu posso fazer por ela, é a minha obrigação – disse ainda fitando seus olhos – e se eu posso pagar por tudo, eu vou pagar.
- Não é o seu dinheiro que nós queremos, mas sim o seu reconhecimento...
- Eu acredito em você Demi – eu a interrompi – e em qualquer outra coisa que você me diga, seja lá o que for, eu sempre vou acreditar em você, – murmurei e desviei meu olhar do seu, colocando o cartão na maquininha – agora só me deixe pagar isso aqui.
- Pode digitar a senha – a moça disse e Demi tornou a posição correta em silêncio enquanto eu digitava a senha.
- Mamãe, o Robert já está no carro e pediu pra você ir logo porque senão ele vai perder o avião. – ouvi Melannie dizer e olhei para ela, que abriu um sorrisão e veio até mim – Tchau Joe.
- Tchau pequena. – eu disse, ela beijou minha bochecha e se afastou um pouco segurando a mão da mãe – TchauDemi.
- Tchau – ela sorriu fraco.
As duas foram embora e depois de pagar tudo certinho e pegar meu recibo, eu também fui embora, como sempre, sem a menor pressa e me deixando viajar em meus pensamentos. Eu ainda estava um pouco desnorteado com essa história toda, não sabia bem ao certo em que pensar direito, eu queria o laudo daquele exame pronto para agora! Precisava de uma confirmação, mesmo já sabendo o resultado. Como eu já disse, acredito na Demi. E eu queria algo que se adicionasse a minha vida, queria uma mudança, sabia que aquela seria uma grande mudança, mas mesmo assim eu a queria. Eu queria que Melannie fosse minha filha. Sabia que era impossível, mas também queria recuperar todo o tempo perdido que eu poderia ter tido com ela. Olhei para o tráfego a minha frente e suspirei. Na verdade, eu não queria ir pra casa, pelo menos não agora. Peguei o celular no bolso do meu casaco, disquei um número bastante conhecido rapidamente e esperei chamar.
- Alô?
- Liam?
- Diz ai, ex-bitch, o que mandas? – ele riu.
- Ahm... Dude, sobre aquele negócio de a gente se encontrar na sua casa pra falar sobre as coisas da banda... – eu disse prestando atenção no tráfego.
- Você quer vir aqui hoje?
- Na verdade, eu queria agora, já estou na rua, você acha que rola?
- Claro, eu vou ligar para os dudes e preparar o estúdio.
- Ok, daqui a pouco eu estou ai!
- Beleza – e desliguei o celular. Eu não estava mais tão longe, então em poucos minutos eu já estava apertando a campainha da casa do Liam.
- Mas já? – ele riu assim que abriu a porta e me viu ali.
- E ai, dude? – eu sorri e entrei, já indo em direção ao sofá.
- Achei que você demoraria mais um pouco – ele disse fechando a porta e nós nos sentamos lado a lado – O Liam já está vindo e o Justin me agradeceu, me idolatrou, disse que me amava e que eu estava salvando a vida dele quando falei pra ele vir pra cá.
- Caramba! – eu ri enquanto via ele se afundar ainda mais no sofá colocando os pés em cima na mesa de – Pra quê tudo isso?
- Selena falando do casamento – ele riu.
- Ele vai enlouquecer – eu disse balançando a cabeça negativamente e ele franziu o cenho.
- Onde você estava que chegou tão rápido assim? – perguntou e eu percebi que ele só tinha parado pra pensar nisso agora.
- Eu estava no centro da cidade e não estava a fim de voltar pra casa tão cedo.
- Foi fazer o que no centro?
- Exame – disse simplesmente.
- Nossa dude, você está tão mal assim?
- Não, eu estou bem – eu disse coçando a nuca.
- E a Demi? – perguntou com a expressão mais suave e agora eu franzi o cenho.
- Como assim “e a Demi”?
- Não sei – deu de ombros – achei que você soubesse alguma coisa, como ela está...
- Deve estar bem, – eu disse passando as mãos pelo rosto – na verdade eu estava agora pouco com ela e acho que, querendo ou não, nós estamos nos afastando.
- E parece que você não está gostando disso nem um pouco – ele disse me olhando com os olhos comprimidos, parecendo me analisar. - Mesmo depois de todos esses anos... – ele deixou a frase morrer ali e eu apenas assenti.
Nós ficamos em silêncio, eu perdido em meus próprios pensamentos e Liam... Bem, ele não é idiota, sabia que eu estava pensando nela. Alguns minutos depois os dudes chegaram e nós descemos para o estúdio, tinha os instrumentos de cada um e todo o equipamento necessário. Nós ficávamos por lá um longo tempo para falar da banda, criar ou às vezes só para nos distrairmos e divertirmos fazendo música com qualquer porcaria que viesse em nossas mentes. Liam finalmente me explicou com quem tinha falado sobre o projeto, sem interrupções dessa vez e levou algumas coisas em que andou trabalhando para que déssemos uma olhada.
- Como é o nome dessa aqui? – Justin perguntou olhando para a folha em mãos – “Somewhere in the world, someone’s making love to this song right now...” – ele leu e começou a rir.
- O nome é This Song – Liam disse puxando a folha da mão dele – eu curti aquela que o Joe escreveu e me inspirei nela.
- Ok, nós podemos melhorar isso aqui – Liam puxou a folha e foi para junto de se instrumento.
- Você trouxe alguma coisa Joe? Aquela música seria perfeita agora – Liam disse.
- Não. – eu disse balançando a cabeça negativamente e tornei a jogar minha bolinha de papel para o alto, repetidas e repetidas vezes.
- Por quê? Você sempre trás!
- Ele já veio do centro, estava com a Demi – Liam disse.
Valeu, boletim informativo!
- Sério? – Justin se aproximou e eu suspirei colocando a bolinha de lado.
- Na verdade, eu tenho uma coisa muito importante para contar, – eu disse e eles se entreolharam – muito importante mesmo, e eu agradeceria se vocês se sentassem.
- Ai meu Deus! – Liam exclamou enquanto os três se sentavam no mesmo sofá – Você mentiu para mim? Isso não é só uma gripe e você vai morrer? – ele arregalou os olhos e levou as mãos à boca, Justin riu e Liam deu um tapa na cabeça dele.
- Dude, fica quieto, ok?
- É, – eu ri fraco – de certa forma tem um pouco a ver com a minha gripe. – gesticulei – É que... Bem... Não sei como dizer isso, mas eu vou ser, ou melhor, eu sou pai.
- Você está grávido?
- Liam, já não falei pra você ficar quieto?
- É Liam, se comporta dude! – Justin o repreendeu, segurando para não rir.
- Poxa, estou tentando descontrair!
- Quem foi que você engravidou, Jonas? – Justin riu. Respirei fundo.
- Demetria.
Eu disse simplesmente, de uma vez só, e tossi, vendo que ao menos uma das reações de todos foi parecida, eles abriram a boca, incrédulos. Liam estava com os olhos arregalados. Justin cobriu o rosto com as mãos e me olhava entre os espaços dos dedos. Já Liam me encarava com o cenho franzido.
Silêncio.
Silêncio.
E mais silêncio.
- Ninguém vai falar nada? – arqueei as sobrancelhas surpreso, normalmente começam todos a falar ao mesmo tempo.
- Ela está grávida? – Liam perguntou.
- Não, vocês sabem... Já esteve, – comecei a explicar – quando voltou para o Brasil, ela estava grávida.
- Você está querendo nos dizer que Melannie, a garotinha de olhos castanhos, é sua filha? – perguntou apoiando os cotovelos sobre os joelhos e inclinando-se para frente, ainda com a mesma expressão.
- Acabamos de fazer um exame de DNA que comprove, – eu disse e olhei para Liam – por isso Miley foi até a minha casa ontem.
Ok, não era exatamente por isso, mas também não era pelo motivo que ele temia, essa explicação já era o suficiente. Ele sorriu fraco.
- Nossa! – ele exclamou.
- Será que a Sel sabe disso? – Justin perguntou descobrindo o rosto.
- Ok, eu já suspeitava, mas DNA? – Liam se levantou – Exame de DNA? Pra que um exame de DNA?
- Quê? – eu franzi o cenho.
- Você não acredita nela?
- Opa, calma lá! – eu me levantei também – Se fosse há uns dias atrás, quando eu as levei pela primeira vez na sua casa, essa seria a primeira coisa que você diria para mim, para que eu fizesse o exame.
- Eu não sabia que era ela, não sabia dessa história sobre Melannie! – ele disse dando um passo a frente e eu vi os dudes se levantarem atrás dele – Você não a ajudou em nenhum momento Joe, nem quando começaram a namorar, nem quando ela foi embora! Se eu soubesse...
- Ah, se você soubesse Liam! – eu o interrompi e dei dois passos a frente, fixando meu olhar ao seu – Você não sabe de muitas coisas! Você ouve uma coisa ali e vê outra aqui e acaba tirando suas próprias conclusões, sempre foi assim, você e essa sua confiança cega de que eu sou sempre o errado quando algo acontece com a Demi.
- Ele tem razão – Justin disse calmamente e nós o encaramos.
- Não Bieber, ele não tem razão!
- É, ele tem sim! – ele arqueou as sobrancelhas – Dude, você exagera, protege a Demi demais e culpa o Joe por tudo.
- Ela era minha melhor amiga, ela só tinha a mãe e quando tinha algum problema, não era só ao Joe a quem ela recorria, era a todos nós, – ele gesticulou, se explicando – vocês sabem.
- Mas não era só isso, não é? – eu ri sem humor – Eu sei Liam, também não achava ser bom o bastante para ela, que ela merecia alguém melhor – e ele tornou a atenção a mim – mas quer saber? Eu nunca duvidei dela, sempre cofiei nela, a amei, queria fazer com que cada segundo da vida dela valesse à pena...
- Dude... – Liam disse em voz baixa, se aproximando.
- Não, agora eu quero falar! – balancei a cabeça negativamente e ri sem parar de encarar Liam – Meu Deus, eu a amei tanto que cheguei a ser egoísta por querer que ela ficasse comigo mesmo sabendo que ela não tinha a opção de escolher. Dude, sou eu! Você me conhece, viu e sabe que eu sofri por todos esses anos porque ela não ficou! Eu não comia, não dormia e nem falava direito, me culpando todos os dias pelo o que aconteceu e as coisas que você me dizia não ajudavam em nada.
- Ela é como uma irmã para mim, – ele pigarreou desviando o olhar do meu e deu alguns passos para trás, finalmente ele parecia ter dado o braço a torcer – eu só sentia a obrigação de cuidar dela.
- Ela cresceu, não precisa mais da gente – Liam disse parecendo um pouco desapontado.
Silêncio se instalou na sala. Ele coçou a nuca olhando para todos.
- Ok, me desculpe, – disse e eu apenas balancei a cabeça levemente – tenho agido como um babaca.
- Tudo bem.
Eu disse e suspirei aliviado, como se, inconscientemente, eu já quisesse botar para fora tudo aquilo que tinha acabado de dizer. Nunca quis enfrentar Liam assim, até mesmo porque eu achava que ele tinha razão em me culpar, mas culpa é um peso muito grande e eu não estava nem um pouco a fim de continuar carregando-a.
- Erm... Aperto de mão de macho ou abraço de boiola? – ele me olhou, um pouco sem jeito, eu ri e estendi a mão, mesmo preferindo um abraço de boiola, mas ninguém precisa saber disso.
- Quer saber? – ele segurou minha mão – Eu fiz a Tay se aproximar de Demi, porque ela tinha ficado um pouco enciumada e eu acabei me aproximando de Robert, e dude – suspirou – sou mil vezes você! – e me puxou para um abraço, eu sorri desacreditado, muito surpreso e igualmente feliz.
- Eu prefiro assim, um abraço – eu ri e os outros logo se juntaram a nós.
- Estou abraçando, mas quero que fique bem claro que eu acho isso a maior viadagem! – Justin disse e nós gargalhamos.
- Ah, curte o momento – Liam riu – E Joe, eu te aceito de volta, bitch.
Capítulo 15.
- Alô? A...? Ok, e a ligação caiu de novo – eu disse irônico, colocando o telefone no gancho mais uma vez – ou estão tirando uma com a minha cara. – conclui.
Quando pensei que eu finalmente poderia voltar para os meus papéis que estavam espalhados pela sala, o telefone começa a tocar de novo, dei meia volta, já um pouco impaciente e atendi.
- Foi você quem ligou aqui nas últimas 40 vezes?
- Erm... Não.
- Ok, quem está falando?
- Garoto, é o Fletch! – ele disse e eu relaxei a postura – Alguém te ligou 40 vezes e você não sabe quem é?
- Na verdade não foram 40, foram apenas 3 vezes, – rolei os olhos e ele riu do outro lado da linha – mas foram as 3 vezes mais irritantes da minha vida.
Mentira, eu não estava nem me importando mais.
- Entendi, mas o que você tem pra mim hein? – ele perguntou e eu olhei para as minhas queridas folhas sobre a mesinha de centro e espalhadas sobre o chão – Está criando?
- Só coisa boa pra você Fletch, como sempre!
- Ah, é isso o que eu gosto de ouvir, – ele riu – mas você está bem? Sua voz está meio estranha, meio... Você está doente?
- Estou gripado, mas não se preocupe, logo estarei melhor – me apressei em dizer a última parte antes que ele brigasse comigo e viesse com aquele discurso de que nenhum dos integrantes da banda, sem exceção, devia se descuidar e blá, blá, que corpo e garganta são muito importantes e blá.
Pigarreei.
- Tudo bem, não foi por isso que eu te liguei, tenho uma pergunta pra te fazer.
- Manda.
- Garoto, a imprensa está me enchendo a paciência à pelo menos duas semanas, ligando e mandado e-mails, querendo saber sobre uma mulher e uma garotinha com quem você e os outros, mas principalmente você, estão frequentemente sendo vistos e fotografados juntos, no começo eu achei que fossem fãs, ou sei lá! – ele dizia e eu ri fraco, podendo imaginá-lo andando de um lado para o outro e gesticulando freneticamente – Enfim, tem algo a me dizer sobre isso?
- Bem...
- Tem que ser algo concreto e verdadeiro, porém não muito chamativo, ok? – ele me interrompeu – Para que eu possa emitir uma nota, e então eles largam do nosso pé, você sabe como é... Por enquanto eles só estão de longe criando suas próprias histórias e as publicando, mas logo mais vão começar a atacar vocês.
- É, eu sei...
- Tanto vocês quanto elas, – ele me interrompeu mais uma vez e pigarreei, ia demorar até que ele me deixasse falar – mas agora me diga algo bom para acalmá-los, mostrar que não é nada de mais, pelo menos até que o novo projeto já comece a se encaminhar, vocês precisam de um tempo afastados.
- Acho que verdadeiro, porém não muito chamativo não vai rolar Fletch.
- Ora, por que não? Pelo o que eu vejo nas especulações dos parasitas... Digo, paparazzi, – ele dizia e eu, que já estava cansado de ficar de pé, me sentei no braço do sofá – você está ficando com uma mãe solteira, sei lá, pelo menos é o que parece.
- A mulher é a Demi, filha da Sue, lembra?
- Filha da Sue? Claro, não tem como esquecer aquela garota, vocês devem muito a ela! – ele soltou uma risada contida – E ela está bem?
- Está.
- Triste o que aconteceu com a Sue, muito triste.
- Pois é. – cocei a nuca e pigarreei – Bem, e a garotinha é nossa filha...
- Espera, nossa? Como assim nossa? – perguntou pausadamente, elevando um pouco o tom de voz a cada palavra.
- A garotinha é minha filha. Demi e eu namoramos na época do colégio e agora ela quer que eu assuma a paternidade, – suspirei – mas estou encarando isso bem, como uma pessoa responsável, nós fizemos o exame de DNA ontem e o laudo fica pronto amanhã.
Breve silêncio.
- Quantos anos a menininha tem?
- Sete.
- E elas apareceram só agora?
- Sim, só agora – dei de ombros.
Um pouco mais de silêncio e um suspiro cansado.
- Bem, agora eu não sei exatamente o que vou dizer na nota, mas me liga amanhã, ela deve ser emitida à imprensa. – ele disse por fim – Estou orgulhoso de você garoto, agindo como uma pessoa responsável. É importante já ter o exame porque assim ninguém pode duvidar dela...
- Era o que eu estava pensando.
- Ok, agora pare de engravidar garotas!
- Mas ela foi a primeira – franzi o cenho e ri.
- E espero que seja a única.
- Também espero – eu ri mais uma vez.
- Não brinca com isso! – ele me repreendeu e eu pigarreei.
- Foi mal.
- Não se esqueça de me ligar quando o resultado do exame estiver em suas mãos.
- Você quem manda – eu disse passando a mão pela minha barriga, estava começando a ficar com fome.
- Se cuida.
- Tchau Fletch – e desliguei o telefone.
Fui pra cozinha ver se encontrava algo para comer. Hoje, apesar de um pouco cansado, eu estava inspirado. Tinha acordado cedo e, assim como ontem, caminhei com o Snoop pra ver se ele se animava e até que deu certo, agora ele não fica se arrastando de um lado para o outro atrás de mim com aquela cara de cão abandonado, ficou mordendo e puxando a almofada dele, brincando. Já eu, parei de tossir e espirar, mas ainda sentia a garganta arranhar, o nariz congestionava, eu pigarreava constantemente e o corpo parecia pesar toneladas. Mas não me venha com sermões, esqueça, eu não vou ao médico! Tenho certeza de que vão me entupir de remédios, então sem chance!
Abri os armários e graças a Deus tinha coisa lá dentro! Fiquei um bom tempo olhando para os armários abertos e senti falta de panquecas, decidi na hora que era isso que eu ia fazer. Panquecas... E um pouco de bagunça, já que não sou um dos melhores cozinheiros do mundo e eu estou sempre fazendo uma bagunça. Sempre, era quase parte do repertório. Peguei o fermento e o açúcar, colocando-os na pia e então ouvi a campainha tocar, seguido de um latido do Snoop. Devia ser a Poppy, hoje ela estava arrumando o andar de cima desde cedo e como ela lavaria os banheiros, precisava de certos produtos de limpeza que eu não havia comprado. Será que eu não dei a chave reserva antes de ela ir para o mercado? Eu jurava que sim. Enfim, deixei os armários abertos e segui para a sala, peguei a coberta que eu tinha deixado no chão junto aos papéis e a joguei sobre o sofá, pigarreei e segui para a porta com Snoop em meu encalço, abrindo a mesma.
Engoli a seco. Erm... Não era a Poppy.
Ela estava de all star preto, calça jeans, que modelava bem suas lindas pernas e estava com as mãos enfiadas nos bolsos de um moletom sem zíper também preta, os cabelos soltos caindo sobre os ombros e sem nenhuma maquiagem no rosto. Eu gostava quando ela estava vestida com roupas que a tornavam uma mulher sexy e bem decidida de apenas 23 anos, mas também senti falta de ver aquela garota que não se importava com os outros e vestia exatamente o que queria, até mesmo porque não precisava fazer muito esforço para ficar linda. Não pude evitar que meus lábios se curvassem num leve sorriso ao vê-la vestida assim e por poder sentir seu perfume novamente. Ela respirou fundo e fixou seu olhar ao meu, dando um passo a frente.
- Joe – ela disse simplesmente, inconscientemente num timbre de voz sensual e tentador.
Ou talvez conscientemente.
Estremeci por dentro e levei a mão à nuca. Porcaria de efeitos.
Ou talvez seja só uma viagem da minha cabeça.
- Oi Demi – eu disse com os olhos fixos nos seus.
- Ahm... Tudo bem com você? – sorriu fraco encolhendo os ombros.
- Tudo e com você?
- Também. – ela disse e mordeu os lábios olhando brevemente para o chão, parecendo um pouco desconfortável – Está melhor? Você me pareceu um pouco cansado ontem.
- É, a gripe não aliviou para o meu lado. – pigarreei – Por favor, entre. – eu disse e abri espaço.
- Não precisa, eu só...
- Eu insisto. – a interrompi. Ela sorriu fraco, passou a mão pela cabeça de Snoop e por fim entrou.
- Desculpe aparecer sem avisar, – a ouvi dizer enquanto eu fechava a porta – espero não estar te atrapalhando.
- Tudo bem – eu disse me virando, ela olhava para os papéis espalhados pelo chão em que Snoop pisava em cima para ir até a sua grande almofada – eu não estava fazendo nada de mais, – e me aproximei – isso aqui é só... Um pouco de bagunça.
- Ah, sim, entendi. – ela me olhou rapidamente e soltou uma risada contida – Na verdade Joe, eu tentei ligar antes... Umas... – gesticulou – Sei lá, 30 vezes ou mais.
- Tem certeza? 30 vezes? – eu ri.
- Ok, foram 3 vezes – ela disse levantando a mão, mostrando os 3 dedos e sorriu mordeu o lábio inferior.
- Ah, agora está explicado – eu arqueei as sobrancelhas e cruzei os braços.
- Liguei, mas nem esperei pra saber se você atenderia, – ela disse e jogou uma mecha do cabelo atrás da orelha – eu vim, mas também esperava que você não estivesse aqui, seria mais fácil, pra pelo menos poder dizer que eu tentei falar contigo.
Franzi o cenho e Demi finalmente me encarou.
- Admitir erros não é a coisa que mais gosto de fazer, mas eu lhe devo desculpas Joe, você está aceitando muito bem a Melannie e eu não estou te dando os devidos créditos por isso. – riu fraco – Provavelmente você não saiba, mas antes de te contar e de contar a ela, Melannie já ficava me dizendo como adoraria que o pai dela fosse exatamente como você.
Ela disse e eu, lembrando o que Melannie disse ontem quando me abraçou, senti uma ligeira dificuldade para respirar, então passei as mãos pelo rosto.
- Você não tem que se desculpar por nada Demi, – eu disse voltando a cruzar os braços e pigarreei – sério, eu estou só fazendo o que é certo.
- Não, eu estava frustrada comigo mesma e descontei em você, fui muito insensível, – ela disse encolhendo os ombros – desculpe, eu não quero que esse clima estranho entre a gente continue, não é bom pra nenhum de nós dois... E não é bom principalmente para Melannie.
Suspirei.
- Ela sabe que eu faço qualquer coisa que me pedir, – ela sorriu e fitou o chão balançando a cabeça negativamente – percebeu o modo como nos falamos na clínica e me convenceu a falar com você.
- Ela é... Realmente uma menina incrível! Você tem feito um ótimo trabalho. – sorri de lado e ela tornou a me encarar – Onde ela está?
- Com a tia – disse simplesmente.
- Hm, ok mãe da minha filha, – eu disse levantando o dedo mínimo e ela riu – a gente pode voltar a ficar de bem – arqueei as sobrancelhas e ela sorriu, entrelaçando seu dedo gélido ao meu.
- Mas o resultado nem saiu ainda...
- Não tem o que discutir, ela tem os meus lindos olhos castanhos – pisquei.
- Você não existe, sabia? – Demi sorriu soltando seu dedo do meu e colocando a mão novamente no bolso da blusa – Então está tudo bem, certo? Posso voltar pra casa mais tranquila?
- Claro! Mas... – eu disse olhando para o vão da porta que levava até a cozinha, sentindo a fome apertar e Demi seguiu o meu olhar – Ahm, você está com pressa?
- Por quê? – perguntou me olhando com o cenho franzido.
- Porque eu estou com fome, inventei de fazer panquecas, mas não me lembro muito bem como se faz.
- Sério? – ela comprimiu os olhos.
Não.
- Sério. – estalei a boca – Será que você pode me ajudar?
- Bem... – ela mordeu os lábios balançando o corpo para frente e para trás, pensando.
- Claro que pode, não é? – eu disse – Afinal, eu lembro que você ficou de me ajudar com as compras, mas eu já fiz e agora você está me devendo uma! – sorri e ela abriu a boca incrédula.
- Eu não disse que com certeza ajudaria, – ela riu – disse apenas que pensaria no seu caso.
- Ah, legal! E enquanto você pensa, eu passo fome? – ironizei.
- Verdade, – ela riu mais ainda e levou a mão à boca – desculpe, pensando assim foi muita maldade da minha parte.
- Pois é, agora pode vir comigo pra cozinha, – eu disse passando o braço sobre seus ombros e nós seguimos para a cozinha lado a lado – você tem que se redimir.
- Ok, eu vou. – Demi me olhou pelo canto dos olhos – Só me lembre de nunca mais te prometer alguma coisa, não é sempre que terei tempo para cumpri-las cozinhando.
- Beleza – eu ri a soltando e abri a geladeira.
- Hm... O que você quer que eu faça exatamente?
- Será que você alcança a farinha no armário? – perguntei colocando a bandeja de ovos e o leite em cima da pia, e olhei para ela – Ou é muito alto para você?
- Eu alcanço, ok? – ela disse colocando as mãos na cintura e eu ri.
- Eu não disse nada de mais! – eu disse levantando as mãos na altura dos ombros em sinal de inocência – Está naquele armário ali. – indiquei com a cabeça.
Demi olhou de mim para o armário, do armário para mim e eu ri pegando o frasco de mel. Aquilo seria engraçado, ela não alcançaria nunca! Encostei-me contra a pia e abri o frasco, vendo-a se esticar para alcançar o pacote de farinha que estava no armário que eu tinha deixado aberto antes de atender a porta, despejei um pouco de mel na boca e cruzei os braços, Demi ficou na ponta dos pés, deu alguns pulinhos e bufou frustrada.
- Quer ajuda? – perguntei segurando para não rir.
- Não, – ela abanou o ar sem olhar para mim – eu estou quase conseguindo.
- Não é o que me parece – eu disse num tom brincalhão.
- Eu só preciso de uma cadeira...
- Não, você precisa de mim – eu disse deixando o frasco de mel sobre a pia e fui até ela, ficando ao seu lado e estiquei o braço, ou pelo menos tentei, mas Demi não deixou.
- Jonas, eu consigo! – ela disse segurando meu braço e seus dedos gélidos sobre a minha pele fizeram com que eu me arrepiasse. Uma sensação que eu gostei bastante, diga-se de passagem. br>- Qual é Demi? Você é baixinha demais pra alcançar.
- É, mas você também não é um dos mais altos – ela riu.
- Do que você está falando? – franzi o cenho – Eu sou maior que você – eu disse e ela chegou mais perto, encostando seu braço ao meu, nos medindo pelos ombros.
- Eu sou quase do seu tamanho – ela disse com um sorriso divertido brincando em seus lábios e eu gargalhei.
- Como quase? Falta um palmo, ou mais, para o seu ombro ficar na altura do meu!
- É que eu estou sem salto, – ela riu colocando um pé para frente, mostrando o all star – hoje é uma exceção, mas normalmente eu estou sempre de salto, é quase parte de mim! – deu de ombros e eu joguei a cabeça pra trás, gargalhando ainda mais.
- Jura? – perguntei entre risos – Então por hoje ser uma exceção, eu pego...
- Não, Joe...
Demi tentou protestar e nós dois esticamos os braços para alcançar o pacote de farinha, ela alcançou a pontinha com a ponta dos dedos, mas o que não tínhamos visto era que o saco estava praticamente aberto, somente com um nó frouxo, muito do mal feito! E sem saber, eu puxei o fundo, fazendo com que o saco virasse e despejasse toda a farinha sobre nós. Não podendo fazer nada para impedir, eu só fechei os olhos segurando a embalagem e sentindo todo aquele pó branco cair.
- Que maravilha. – ela disse irônica. Eu abri os olhos e gargalhei.
- Você está toda branca! – eu disse passando a mão na sua cabeça, fazendo a farinha se espalhar no ar.
- A culpa é toda sua! – ela me deu um tapa no braço, segurando para não rir – Nada disso teria acontecido se você tivesse me deixado pegar a cadeira.
- Ah! Demi, não fica brava, – eu ri e coloquei a embalagem em cima da pia, a empurrando um pouco para que se juntasse com os outros ingredientes que eu já havia deixado ali e tornei a atenção para as minhas roupas – tem que aprender a brincar.
- Ei! Eu sei brincar sim! – protestou se afastando um pouco e eu estalei a boca.
- Sabe nada – eu disse passando as mãos pelos cabelos, fazendo o excesso de farinha cair.
- Sei sim, quer ver? – perguntou e eu olhei para ela, que estava com as sobrancelhas arqueadas e um sorriso discreto no canto dos lábios.
- Quero! – eu disse e me aproximei cerrando os olhos e em seguida senti a mão dela esmagando um ovo sobre minha cabeça – Não, você não fez isso! – eu disse entortando o maxilar.
- Ah, eu fiz sim – ela fez careta rindo e limpou a mão no meu rosto – e adorei.
- Então se prepara, porque agora é guerra! – declarei e a agarrei pela cintura, a arrastando pra mais perto da bandeja de ovos e Demi soltou um gritinho.
- Não Joe, por favor, – ela pediu entre risos tentando se soltar – por favor...
- Tarde demais...
Eu ri pegando um ovo de cada vez e quebrei três na cabeça dela. Quando Demi conseguiu se soltar, ela pegou o frasco de mel e o apertou, esguichando mel no meu rosto, pescoço e por toda a minha camisa, peguei o saco de farinha e o pouquinho que tinha lá eu joguei nela.
- Ai! Joe, meus olhos – ela jogou o frasco de mel no chão, levou as mãos ao rosto e eu me desesperei na hora, vendo-a se curvar um pouco para frente.
- Meu Deus, Demi, me desculpa, desculpa, desculpa... – pedi repetidas vezes colocando as mãos em sua cintura e tentei ver seu rosto – por favor, me perdoa...
- Estão ardendo – choramingou.
- Deixe-me ver – eu disse a guiando, fazendo com se encostasse contra a pia.
- Não!
- Demi, por favor – pedi apoiando as mãos na pia, uma de cada lado de seu corpo.
- Não.
- Por favor, Demi, é sério – eu disse e ela suspirou.
- Ok – ela abaixou as mãos as colocando atrás do corpo, ainda com os olhos fechados.
- Agora abre os olhos. – eu disse e ela riu apertando os olhos – Abre os olhos, mulher!
Ela se mexeu entre meus braços, abriu os olhos e... PÁ! Um ovo esmagado na minha testa e Demi gargalhando da minha cara.
- Você me enganou – fechei os olhos passando uma das mãos pelo rosto, afastando toda aquela meleca do meu rosto e suspirei derrotado – e acabou com a minha chance de comer panquecas... Voltamos a ser adolescentes, é?
- Você me desafiou, disse que eu não sabia brincar – ela disse entre risos.
- Mas você gostou! – arqueei as sobrancelhas e ela tentou reprimir o sorriso. Olhei em volta jogando pra trás os fios de cabelo que grudavam em minha testa – A Poppy que não vai gostar nem um pouquinho.
- Poppy?
- Minha nova empregada – eu disse simplesmente, tornando a encará-la.
- Hm... Ela cuida de crianças também?
- Não sei, por quê? – franzi o cenho.
- Mi não vai ficar aqui pra sempre, – deu de ombros com um pouco de tristeza em seu tom de voz – ela quer voltar pra casa depois do meu casamento.
- Sério? – estranhei e ela abaixou o olhar.
- Aham. – murmurou e eu senti seu dedo passar suavemente pela base de meu pescoço, Demi encarou o polegar, que agora tinha um pouco de mel e o levou até os lábios.
Tentei me convencer de que fora um ato inconsciente da parte dela, que aqueles pensamentos que me inundavam agora eram apenas mais uma obra da minha cabeça, me pregando peças novamente, e que meu corpo só estava sentindo coisas pelas quais ele clamava loucamente. Um contato maior com a pele dela, de imediato. Ouvimos o barulho da tranca da porta principal, Demi me encarou e eu suspirei. Qual é? Isso é pior do que tortura!
- É a empregada? – Demi perguntou quase num sussurro.
- É – eu disse sem conseguir tirar os olhos de sua boca.
- Senhor Jonas? – ouvimos a voz se aproximar, mas não movemos um só músculo – Ai, meu Deus, o que houve aqui?
Ouvimos minha empregada perguntarm. Demi e eu rimos e relutantemente, eu me virei para Poppy, que estava empacotada em roupas de frio e com as bochechas rosadas, segurando algumas correspondências entre as mãos, ela olhava para a cozinha com os olhos arregalados. Pigarreei.
- Poppy, esta é a Demetria, – eu disse e as duas apenas sorriram trocando um leve aceno de cabeça – é provável que você a veja bastante nesses próximos dias e com certeza ela é a causadora de toda essa bagunça.
- Joe! – Demi repreendeu rindo, me deu um tapa no braço e depois tornou o olhar à Poppy; percebeu com ela está adorando me bater hoje?
- Vândala!
- Olha Poppy, – ela rolou os olhos me ignorando – eu sinto muito por isso, mas pode deixar que nós vamos limpar.
- É um prazer conhecê-la, – Poppy sorriu daquele seu jeito cordial – mas não precisa se preocupar, limpar e arrumar a bagunça do senhor Jonas é parte do meu trabalho.
A Poppy está muito preparada para as minhas bagunças... Aposto que foi minha irmã quem já a alarmou sobre isso. O que é bom, porém um pouco constrangedor por ser uma má fama.
- E com certeza essa farinha deve estar te incomodando... – ela continuou – É farinha, não é?
Demi e eu nos entreolhamos e começamos a gargalhar. Com certeza aquela farinha estava nos incomodando, e muito, entrando em lugares que não devia.
- Sim, é farinha. – eu disse e respirei fundo, recuperando ar – Desculpe Poppy, daqui a pouco eu desço para nos acertamos, pode ser?
- Está ótimo!
- Vem Demi, – eu disse e peguei em sua mão, a puxando para fora da cozinha – vamos dar um jeito nessa farinha e nesse cheiro de ovo.
- Já está enjoando, não é? – ela me olhou rindo – E desculpe mais uma vez – disse por cima do ombro e Poppy riu.
- Tudo bem...
Entrelaçamos nossas mãos e enquanto subíamos as escadas Demi riu fraco.
- Não posso voltar pra casa assim – ela disse – Sair daqui toda lambuzada definitivamente não estava nos meus planos.
- Por quê? Robert não vai gostar? – eu disse de má vontade e a olhei com as sobrancelhas arqueadas.
- Não, Robert foi viajar. Não estou de carro, então minha preocupação é com as pessoas na rua, que me olhariam como se eu fosse louca... – ela coçou a nuca e eu ri abrindo a porta do meu quarto – Principalmente Miley... EMelannie então?
- Não se preocupe, você pode tomar um banho, nós colocamos sua roupa pra lavar e fica tudo certo – eu disse entrando no quarto, puxando Demi junto comigo.
- Não me parece uma má ideia – deu de ombros.
- Eu vou pegar uma roupa pra mim e vou para o quarto de hóspedes. – gesticulei com a mão livre – Você pode ficar a vontade aqui e pegar qualquer roupa no closet, já que terá que esperar suas roupas secarem, e tem toalha limpa no banheiro.
- Ok.
Olhei para nossas mãos ainda entrelaçadas por breves segundos e encarei Demi, que fitava o chão mordendo o lábio inferior. Tentação, essa era a palavra que poderia definir Demi nesse momento para mim, mas agora, se eu quiser que tudo ocorra bem, tenho que pensar bem antes de fazer qualquer coisa. Então, mesmo ainda relutante ao tentar me afastar dela, eu a soltei e levei a mão à nuca, um pouco sem graça, a deixando no centro do cômodo, e fui até o closet. Tenho certeza de que nesse momento não tem ninguém no mundo mais indeciso no que fazer e confuso no que pensar do que eu. Abri a porta somente o necessário para que eu pudesse entrar e recolhi as roupas que estavam espalhadas – estavam limpas, só estavam largadas porque na pressa de achar a que queria eu as jogava no chão. Peguei a caixa azul-bebê – que desde que resolvi revirá-la ainda se encontrava à vista –, fechei e a coloquei no alto, em uma das prateleiras. Peguei a roupa que usaria e deixei o closet.
- Eu vou... – eu disse passando por Demi e apontando para a porta.
- Ah, ok. – ela sorriu e eu, que estava já no corredor, levei a mão livre à maçaneta a fim de fechar a porta – Ahm...Joe?
- Sim? – a encarei e ela veio até a porta.
- Espero que a gente continue assim, – sorriu sincera – eu gosto de ter você por perto.
- Não se preocupe com a gente, – eu disse dando um passo a frente, segurei delicadamente seu rosto com uma das mãos e beijei sua testa – nós estamos bem, – e me afastei – nós sempre acabaremos bem.
Demi mordeu os lábios e assentiu, desviando o olhar do meu para um ponto qualquer no chão, talvez fazendo o mesmo que eu: Tentando se convencer de que o que eu disse era verdade. E deu um passo para trás, enquanto minha mão tornava a maçaneta e então eu fechei a porta, mas permaneci ali, parado no corredor com o olhar perdido e a mão firme em volta da maçaneta. Será mesmo que nós acabaremos bem? Eu nem me lembro como eu era antes de ela aparecer. A minha história e eu só acabaríamos bem se ela estivesse comigo, se Demi e Melannie estivessem comigo. Pois é, eu quero o pacote inteiro, tem como?
Segurei o meu próprio suspiro ao ouvir um murmúrio e um suspiro profundo do outro lado, seguido de passos e o som de uma porta se abrindo. Eu estava a ponto de abrir a porta novamente, mas pensei duas vezes e resolvi deixar meus devaneios de lado, desci para a cozinha e ri fraco ao encontrar Poppy limpando a bagunça que a Demi fez.
- Poppy, quando terminar na cozinha você já pode ir, ok? – eu disse e ela me olhou.
- Tudo bem – deu de ombros.
- Outra coisa... Você sabe fazer panquecas? – perguntei e ela sorriu franzindo o cenho.
- Sei. – e soltou uma risada contida – Era isso que estavam tentando fazer?

- Joe! – ouvi Justin gritar meu nome, mas não movi nenhum músculo do meu corpo.
- Que placa é essa? – a voz de Liam se aproximava – Mas que diabos...?
- Joe, dude, – Liam ajoelhou-se na minha frente.
Eu diria que ele tinha a expressão preocupada, mas eu não conseguia enxergar direito, minha vista estava embaçada. Eu chorei por ela mais uma vez.
-Você está bem? O que aconteceu?
- Não tem ninguém na casa – Justin disse calmamente.
- Joe! – Liam chamou, mas eu continuei da mesma forma.
Eu não via nada além dos olhos de Liam, que me encarava fixamente. Não me atrevi a mexer um dedo sequer, sabe-se lá o que mais eu poderia estragar. Liam tirou Liam da minha frente e agarrou meus ombros.
- Porra Joe! Fala com a gente!
- Ela foi embora – funguei e passei as mãos nos olhos.
- E essa caixa ai? – Justin perguntou e eu me abracei mais a ela.
- Ela deixou aqui para mim. 

Deixei Poppy terminar de arrumar a cozinha e eu subi pra o segundo andar, quando cheguei ao topo da escada senti o corpo pesar mais uma vez e uma dor nas costas lancinante. Incrível que durante todo aquele pequeno tempo em que estive hoje com a Demi, eu não senti nada, nem uma pontada de dor. Espreguicei-me a fim de afastá-la, segui para o banheiro do quarto de hóspedes e finalmente tomei o meu banho, relaxando sob a água quente. Quando terminei, coloquei a roupa e desci as escadas o mais rápido que pude, afinal, minhas panquecas esperavam por mim.
- Ah, eu adoro, se a senhora precis...
- Poppy, senhora não, por favor! Pode me chamar de Demi, – ela riu – sou mãe, mas só tenho 23 aninhos e ainda nem me casei.
As duas estavam de costas para mim. Demi estava de meias, com o meu short branco – daqueles que tem um cordão por dentro para que possa ajustá-lo –, que para ela parecia mais uma bermuda, e com a minha camisa preta de manga longa do The Who, a qual eu já nem me lembrava mais. Onde será ela achou aquela camisa? Ficou bem melhor nela do que em mim. Seus cabelos estavam úmidos e penteados, a toalha que ela usou estava sobre um de seus ombros.
- Ok, – Poppy disse entre risos – mas se precisar, é só falar comigo.
- Precisar de que? – perguntei entrando na cozinha e elas se viraram para mim.
- De alguém que cuide da Melannie depois que a Mi me abandonar – Demi fez bico e deu de ombros enquanto eu me aproximava.
- Sério? – franzi o cenho me postando ao lado dela.
- Aham – piscou e mordeu o lábio inferior.
Já disse como eu adoro esse modo doce como ela olha pra mim?
Pigarreei.
- Você vai mesmo roubar a Poppy de mim? – brinquei e elas riram.
- Jonas, ela adora crianças, – ela sorriu de lado e tornou a atenção a empregada – e eu lhe asseguro de que sou uma patroa muito melhor – e deu uma piscadela para a mesma.
- Não tem vergonha de falar essas coisas na minha cara? – me fiz de ofendido.
- Claro que não, eu não disse nada de mais. – riu balançando a cabeça negativamente. Olhou para o celular em mãos que começava a tocar e eu tirei minha mão de sua cintura, sem conseguir me lembrar em que momento eu tinha a pousado ali – Falando em patrão... Com licença.
- A toalha – eu disse puxando a toalha que estava em seu ombro.
- Obrigada – sorriu agradecida, logo se virado, e eu a segui com o olhar até ela desaparecer pelo vão da porta.
- Gostei dela. – Poppy disse depois de um tempo – Vocês vão se casar em breve?
Poppy colocou sobre a bancada o frasco de mel, que estava pela metade e um prato com uma pilha de panquecas que me fizeram aguar. Senti meu estômago se contorcer e eu só conseguia pensar em comida. Precisava colocar alguma coisa pra dentro agora! Eu já estava pra agradecer Poppy pelas panquecas, dizer que não sabia o que faria sem ela, mas então me dei conta do que ela tinha acabado de me perguntar.
- Casar? – franzi o cenho pegando um pedaço de panqueca com a mão livre e coloquei na boca.
- Sim, eu notei o lindo anel na mão dela, – disse calmamente e pegou a toalha que eu ainda segurava – notei também o modo como se falam, olham; com respeito, carinho... – eu ri e ela ruborizou – E eu já estou falando demais, não é? Desculpe a indiscrição senhor Jonas!
- Tudo bem! – pigarreei – Eu gostaria de dizer que sim, mas – eu ri sem humor jogando mel sobre as panquecas – infelizmente não fui eu quem lhe deu aquele anel e não é comigo que Demi vai se casar.
- Ah, sinto muito – disse meio sem graça enquanto eu me sentava num dos bancos altos junto à bancada, e colocou a minha frente uma jarra de suco, um copo e talheres.
- Um dia desses, eu te explico melhor sobre Demi e eu.
- O senhor não precisa... – se apressou a dizer, mas eu a interrompi.
- Acredite, se amanhã tudo sair como eu espero, é importante que você saiba o que acontece entre a gente – eu sorri amigável, pensando no exame de DNA, e ela retribuiu assentindo.
- O senhor precisa de mais alguma coisa?
- Não Poppy, obrigado, você é um anjo, fez tudo e muito mais – eu disse apontando para o chão e todos os outros lugares que ela teve que limpar depois da tentativa fracassada minha e de Demi de fazer panquecas. E ela sorriu.
- Ok. – ela se afastou, foi provavelmente na lavanderia para pendurar a toalha molhada no varal e depois passou por mim – Até mais!
- Até! – eu disse.
Respirei fundo, ignorando a breve dor no peito, costelas, sei lá! Só sei que doía tudo. Então tornei a atenção às minhas tão queridas e esperadas panquecas. No prato tinha pelo menos seis daquelas bem gordinhas e deliciosas, não sei ao certo, não me dei ao trabalho de contar. Saboreando cada pedaço, ouvi Poppy se despedir de Demi e logo depois o som da porta principal se fechando, coloquei mais um pedaço na boca e servi meu copo de suco.
- Joe? – ouvi Demi me chamar e levantei o olhar, ela estava no vão da porta – Acho que vou embora...
- Ahm? – franzi o cenho e ela riu.
- Acho que vou embora – repetiu dando alguns passos a frente e eu balancei a cabeça negativamente.
- Quê? – perguntei mastigando e engolindo o mais rápido que pude pra poder falar alguma coisa que prestasse, que não desse a impressão de que estava ficando surdo e me levantei, andando até ela – Sua roupa nem deve estar limpa ainda, quanto mais seca, vai embora como?
- Não sei, eu dou um jeito! – deu de ombros e postei as mãos em seus braços, sem parar de andar, fazendo-a dar passos cegos para trás – Já estou te dando trabalho demais e estou me sentindo envergo...
- Não, não, não, fica! – disse com os olhos cravados aos seus e um sorriso brotando no canto de meus lábios – Lembra do que disse lá em cima? Que não era uma má ideia.
- Acho que agora eu não tenho tanta certeza disso – disse num tom baixo.
- E não está me dando trabalho nenhum, você sabe muito bem que eu te quero aqui. – eu disse, então ela parou abruptamente de andar quando já estávamos praticamente na sala e continuou a me encarar em silêncio – Combinamos ficar de bem, sem clima estranho entre a gente, mas isso não será possível se você tentar fugir de mim de novo.
- Eu não fujo de você – ela disse desviando seu olhar do meu por alguns segundos e eu ri franzindo o cenho.
Ela estava mentindo. Eu sabia, não somente por alguns fatos que ocorreram anteriormente, mas também pelo modo como disse. Ela desvia o olhar, sua voz adota um timbre que mostra que nem ela acredita no que está dizendo, um tanto inseguro, perde a firmeza. Demi não gostava de mentiras e não era difícil identificar quando a própria estava o fazendo, ou pelo menos o tentando.
- Isso não me soou tão convincente.
- Ok, não é nenhuma novidade que eu não sei mentir, então não me pressiona – rolou os olhos mais uma vez, rindo derrotada.
- Não estou te pressionando! – eu disse arqueando uma das sobrancelhas – Nós estamos apenas conversando... Uma conversa casual.
- Sério? – ela comprimiu os olhos – Você vai largar suas panquecas por uma conversa casual?
- Ah não, também não é pra tanto... – eu disse a puxando de volta para a cozinha e Demi jogou a cabeça para trás, soltando uma gargalhada gostosa – A gente pode conversar perto delas.
- Da próxima vez a gente pode fazer brigadeiro, – ela disse e eu arqueei as sobrancelhas, tornando ao meu lugar frente às panquecas – é muito mais fácil e muito mais gostoso.
- Bri... O que? – franzi o cenho enfiando o garfo num pedaço de panqueca e ela riu, debruçando-se sobre a bancada de mármore.
- Brigadeiro – ela disse pausadamente, como se estivesse falando com uma criança, mas, para mim, seus lábios eram provocantes demais.
Tentei repetir do mesmo modo o que ela havia dito. De primeira eu gaguejei, por precisar de breves segundos para me recuperar do efeito que ela havia causado sobre mim, e da segunda vez eu pensei ter acertado, mas ela riu novamente.
- Português não é o seu forte.
- Quem vê, pensa que você é brasileira – rolei os olhos.
- Mas eu sou! – ela riu.
- Nasceu, morou lá... – dei de ombros, indiferente – Mas você sabe que a sua vida é aqui.
Se havia mais coisas por trás de minhas palavras? Claro! E eu não desviei meu olhar do seu um só segundo, até ela sorrir meio sem jeito.
- É, você tem razão, com sotaque britânico é mais bonito – tentou mudar de assunto e eu sorri de lado.
- Está me cantando, Demetria Lovato? – arqueei uma das sobrancelhas e enfiei o pedaço de panqueca na boca pra não rir da cara que ela fez.
- Eu? – perguntou acertando a postura.
- Aham. – murmurei sorrindo – Por acaso você não estava com medo de ficar aqui sozinha comigo, estava?
Capítulo 16.
- Com certeza tem várias já espalhadas por ai, em revistas, na internet, em programas de fofoca... Eu não sei, não procuro ver essas coisas por ai, as fotos tudo bem, mas o que dizem é muita mentira inventada!
- Acho que essa foi tirada ontem, – e balançou a cabeça negativamente – acho não, pensando bem, eu tenho certeza, são as mesmas roupas que vocês usavam ontem.
- E como era?
- Você a abraçava e ela estava com os olhinhos fechados com força.
- Ela disse que sempre sentia minha falta – eu disse calmamente e Demi abaixou o olhar.
- Acha que vão me julgar por isso? – perguntou e riu sem humor – Porque sinceramente, eu mesma já estou me julgando, condenando...
- Eu falei com o Fletch hoje, – eu disse e ela me encarou – provavelmente não farão isso se tivermos o exame em mãos e se eu deixar bem claro de que é a minha vida, e se por mim está tudo bem, ninguém deve se preocupar com nada.
- Suas fãs vão achar que sou uma bela de uma golpista e me odiar pra sempre – ela riu.
- Ah sim, pode esperar por um ataque pelo twitter, será a primeira guerra virtual! – brinquei rolando os olhos e ela riu mais ainda.
- Melhor do que um ataque na rua...
- Isso você pode esperar dos parasitas – eu disse, ela fez careta e suspirou.
- Será que podemos abrir o laudo juntos? Melannie, você e eu?
- Claro. – eu sorri e ela assentiu levemente.
Então ela suspirou e deixou que um sorriso brotasse em seus lábios.
- Ok, agora me conte alguma coisa sobre você, – ela disse animada – mas alguma coisa que eu ainda não saiba.
- Sobre mim? – franzi o cenho rindo e ela assentiu – Não tem nada que ninguém saiba sobre mim, minha vida é um livro aberto!
- Ah, corta essa Joe, até parece que você não tem um segredinho sequer! – ela disse e eu pensei bem.
Alguma coisa que Demi ainda não saiba...
- Não me lembro de nada agora.
Mentira.
- Sério? – ela fez bico. Covardia.
- Ok, eu lembrei! – eu disse jogando as mãos para o alto e ela riu – Uma coisa que você ainda não sabe é que... – pigarreei – Bem, euaindatenhoacaixaazul-bebê.
- Quê? – franziu o cenho acertando a postura.
- Eu ainda tenho a caixa azul-bebê – eu disse e mordi o lábio inferior, envergonhado. Afinal, vamos combinar, no começo você pode até pensar que isso é bonitinho, que eu guardei a caixa porque senti falta de Demi, mas pense melhor, que tipo de cara guarda as coisas da ex-namorada por tanto tempo? Um problemático, sem vida, ou sei lá.
- Eu sei disso. – ela disse simplesmente e foi a minha vez de franzir o cenho – Eu entrei no seu closet por engano no dia seguinte a patinação no gelo, achei que era o banheiro.
- Ela estava no chão – como eu sou idiota, é óbvio que ela teria visto, quem mandou deixar no chão?
- É, – ela sorriu docemente – acho até eu que mereço meu cachorrinho de pelúcia de laço azul de volta – encolheu os ombros e eu ri.
- Eu estava pensando em dá-lo a Melannie...
- Não, Melannie quer um de animal de estimação, um bicho de verdade, dar um de pelúcia não vai ajudar muito. – ela disse e eu me levantei – Aonde você vai?
- Já volto!
Subi as escadas, tossi algumas vezes abrindo a porta do meu quarto e peguei no closet a caixa azul-bebê e uma blusa, estava esfriando. Coloquei a mesma e voltei para a sala. Sentei-me no sofá novamente sob o olhar atento deDemi e coloquei a caixa no chão, abri a mesma e tirei de lá cachorro de pelúcia.
- Cuida bem dele, viu? – eu disse e ela riu o pegando a minha mão.
- Acredita que depois eu me arrependi de tê-lo deixado pra trás? – sorriu e o abraçou – Ele tem o seu cheiro.
- Tem?
Engraçado, sempre achei que fosse o contrário, que ele tivesse o cheiro dela, talvez por causa disso eu tenha passado muitas noites dormindo abraçado àquele cachorro. Talvez não, com certeza foi por isso.
- Sim, – assentiu olhando e arrumando o laço azul do cachorro de pelúcia – levemente amadeirado, com bergamota, maçã verde...
Ela deixou a frase morrer ali e eu pisquei. Vem cá Demi, você leu o rótulo do meu perfume, ou realmente sabia disso?
- E pode deixar, eu vou cuidar muito bem dele. – ela me encarou sorrindo levemente, eu apenas assenti, sem saber ao certo o que dizer – Mas então, acho que você ficou me devendo, porque essa “revelação” não valeu.
- Lógico que valeu! Acho que essa é uma das únicas coisas que ainda não saiu estampado numa revista. – eu disse e ela riu – Estou com sede, quer beber alguma coisa?
- O que você tem ai? – perguntou e eu franzi o cenho olhando para o alto, tentando visualizar a porta da geladeira aberta.
Memória fotográfica? Não, apenas o hábito de colocar tudo no mesmo lugar.
- Água, leite, suco... Vinho! – eu disse tornando meu olhar a ela e me levantei – Demi, eu tenho um ótimo vinho...
- E desde quando vinho mata sede? – perguntou arqueando uma das sobrancelhas e eu ri dando de ombro – Sério, acho melhor não...
- Por quê?
- Joe, você ainda não está bem de saúde, – disse colocando uma mecha do cabelo atrás da orelha – tem certeza de que pode tomar vinho? Sério, vinho? – repetiu para dar ênfase e eu ri.
- Faz bem para o sangue – dei de ombros mais uma vez.
- Aham, – disse num tom divertido – por que eu ainda concordo com as suas ideias, hein?
- Simplesmente porque você gosta de mim e das minhas ideias, – eu disse andando até a cozinha e a ouvi rir – mas principalmente porque gosta de mim.
- Ah, com certeza! – ela disse elevando o tom de voz.
Na cozinha peguei as taças e procurei pela garrafa de vinho que eu tanto gostava, não sei, aquele vinho devia ser feito por deuses, porque era bom demais. Tirei a rolha da garrafa e servi as duas taças, beberiquei um pouco em uma delas e quando voltei para a sala, que era iluminada apenas pela luz baixa do abajur, vi Demi próxima à porta de vidro que levava a varanda e ao Snoop, que estava deitado em sua grande almofada, dormindo, sem se importar com nada. Coloquei a garrafa em cima da mesinha do abajur, junto do meu celular. Percebi que ele estava com uma luz baixa, passei o dedo sobre a tela e ela se acendeu revelando o desenho de um envelope, cliquei sobre o mesmo e a mensagem se abriu, e era uma mensagem de Miley. Dei de ombros. 

“Sei que ela ainda está contigo, então pede para ela ficar e dormir ai, ou sei lá! Mas juízo, hein! Beijo, Mi”. 

Simples assim. 
Sorri com isso e desliguei o celular. Já disse que a Mi é meio doidinha? 
Demi? – chamei parando atrás dela, que se virou para mim. 
- Obrigada – ela sorriu pegando a taça que eu lhe oferecia. 
- O que está fazendo parada aqui? 
- Eu havia me esquecido – disse simplesmente e deu um passo para o lado, me dando espaço e tornou a olhar para fora. 
- Esquecido? – perguntei e ela apontou para a lua cheia acima de toda a cidade, brilhante, quase num tom azul claríssimo em meio àquele céu negro. 
A lua e a noite, estava tudo muito lindo lá fora. Estranho perceber como eu nunca tinha parado para notar essa vista privilegiada até hoje. 
- É noite de lua cheia – explicou-se e eu a encarei, seus olhos brilhavam intensamente e não era somente pelo reflexo da lua. 
- O que tem de mais? É nesta noite que os lobos estão à solta? – brinquei e ela riu batendo levemente seu cotovelo em minhas costelas – Vai dizer que gosta de Crepúsculo, da Bella sem sal, do Edward...? 
- Não, idiota. – ela disse com um sorriso divertido e se sentou no chão com as pernas em volta do corpo – Você, como músico, devia ser mais sensível – e tomou um gole de seu vinho. 
- Eu posso ser sensível, muito romântico e me portar como um cavalheiro quando quero, – eu disse me sentando ao seu lado e ela me olhou com as sobrancelhas arqueadas – mas aquele filme é muito gay e aqueles personagens não são vampiros, são borboletas que brilham ao sol! 
- Ah é, você tem toda a razão! – ela disse tentando parecer indignada e eu soube que estava entrando na brincadeira – E agora? Onde ficam as capas pretas, os caixões, crucifixos, o banho de sangue...? – gesticulou, mas segurava para não rir. 
Eu apenas sorri, apreciando sua companhia. 
- Viu só? Não fazem mais vampiros como antigamente – balancei a cabeça negativamente. 
- É, não fazem – riu e tornou a encarar a lua. 
- Como chegamos neste assunto mesmo? – perguntei e nós rimos – Ah sim, a lua... Então me diga Demi, o que a lua significa pra você? – e tomei um pouco do meu vinho. 
Demi comprimiu os olhos para a lua e um lindo sorriso moldou seus lábios. 
- Respostas. – ela disse, mas aquilo me soou muito mais como uma pergunta – Não sei ao certo, apenas gosto quando ela aparece assim, eu me sinto bem e penso em tudo, – e me olhou brevemente – em todos. 
Ri fraco e coloquei minha taça no chão, um pouco afastada para que eu não pudesse fazer nenhum estrago. Em minhas circunstâncias, eu não precisava da lua para isso, para me sentir bem e ter respostas, o que eu precisava estava aqui comigo e eu queria que ela soubesse disso. 
- Acho que consigo te entender... – comecei com o olhar fixo em Demi, que apenas me ouvia, ainda olhando para fora – Ela chama sua atenção, te intriga e por ela ser única, você pensa que ela tem as respostas de todas as perguntas e dúvidas que você possa ter em toda a vida, seja lá sobre o que for. – e então ela me encarou – Mas só de olhar para ela, você tem a certeza de que está tudo bem e de que fez a escolha certa. – eu disse e a toquei levantando delicadamente seu queixo – E o que mais te fascina é que sempre que a vê, ela lhe parece ser cada vez mais linda, mais certa. – eu disse abaixando o tom e me aproximando mais a cada palavra sem tirar os olhos de seus lábios – Posso? 
- Desde quando Joe Jonas pede permissão? – perguntou no mesmo tom que eu. 
- Desde quando eu percebi que prefiro dormir tendo certeza de que vou acordar amanhã e ainda estará tudo bem entre nós dois, – eu disse encaixando minha mão em seu pescoço e acariciando seu rosto com o polegar – de que você vai me olhar nos olhos e conversar abertamente comigo, sem segredos. 
Eu podia sentir seu hálito, sua respiração quente batendo diretamente contra minha boca, mesmo tendo dito tudo aquilo eu queria seus lábios nos meus. Ela riu fraco e afastou um pouco seu rosto do meu. 
- Então é melhor não. – ela disse com um sorriso no canto dos lábios e virou o rosto, obrigando-me a afastar minha mão de si. 
- Você veio aqui hoje só para me provocar, não é? – eu sorri enquanto ela tomava mais um pouco de seu vinho. 
- Não é verdade – ela riu. 
- Aposto que é. – murmurei – Sua vez! 
- Minha vez? – me olhou sem entender. 
- De contar alguma coisa que eu não saiba. 
- Sobre o que quer saber? 
- Alemanha! – arqueei as sobrancelhas e ela sorriu balançando a cabeça negativamente. 
- Passo. 
- Quê? Demi, isso não vale – eu disse e nós rimos. 
- Não vou falar sobre isso e pronto. – ela disse levantando levemente o ombro – Primeiro porque não sou boa em mentir, e depois porque não quero ter de tentar mentir para você. 
- Mas por que você mentiria? 
- Porque não foi uma fase muito legal na minha vida. 
- Por quê? – insisti e ela comprimiu os olhos para mim. 
- Você está me enrolando! – ela riu – Enfim, não vou falar sobre isso – cantarolou levando a taça de vinho à boca. 
- Ok, – concordei relutante com um meneio de cabeça – então fale sobre Melannie... Você vai trocar os registros, ou seja lá o que for preciso, e dar a ela o meu sobrenome? 
- Se é o que você quer – ela sorriu. 
- Vou poder vê-la quando eu quiser, não é? – perguntei comprimindo os olhos – Nada daquelas palhaçadas de somente nos fins de semana, feriados e nas férias... – eu fiz careta, não suportava essa ideia, era horrível! – Acho até que mereço mais que isso... 
Demi riu e tocou suavemente minha mão. 
- Espero que saiba que você será um ótimo pai. – ela disse e eu entrelacei nossos dedos – E era isso, só isso que eu queria para Melannie e ninguém seria melhor do que você. 
Eu sorri e beijei o dorso de sua mão. Demi tomou um longo gole de vinho, acabando com o conteúdo de sua taça e depois de colocá-la junto a minha, que ainda estava meio cheia, virou o corpo, ficando de frente para mim. 
- Ela tem muito de você. 
- É, eu sei, os olhos, talvez até o cabelo... 
- Não, não só nisso! Acho que o gosto pela música e até quando dorme, tem que sempre estar abraçada a algo ou alguém, porque senão acorda no meio da noite. Deve ser genético, ou sei lá. 
- Para Demi, isso está parecendo coisa de histórias de uma adolescente – eu disse com um sorriso divertido no rosto e ela riu. 
- Lógico que não! 
- Aposto que nós apenas fazemos parte da imaginação de uma garota... 
- Mas é verdade! 
- GAROTA! – eu gritei olhando para cima e até o Snoop que dormia tranquilamente, se mexeu em sua almofada,Demi gargalhou – Se tem mesmo alguém ai escrevendo a história da minha vida, por favor, tem algumas partes que merecem melhoras, até mesmo a Demi, ela não está falando coisa com coisa! 
Joe! – ela disse entre risos e eu tornei a encará-la – Ouça, você sabia que eu trabalhei em um instituto de música? 
- Hm, agora melhorou, está fazendo mais sentido – gesticulei com a mão livre, arrancando mais risos de Demi. 
Ou ela estava muito alegrinha, ou eu que era muito tonto. Mas só com uma taça de vinho, hm, acho que a segunda opção seja mais provável. 
- Acho que vou ter que conversar mais vezes com essa garota. 
Sério, quem sabe ela – a garota que, hipoteticamente falando, está escrevendo a história da minha vida – não pode apagar qualquer coisa ruim que possa ter acontecido com Demi enquanto eu não estava por perto, ou até mesmo tirar Robert do meu caminho. Sei lá, essas são as minhas humildes sugestões. Estou até aceitando outro filho, mesmo que o Fletch tenha dito não. Mas da Demi, ok? Só para deixar bem claro. 
- Mas caramba, presta atenção! 
Ela me repreendeu com um sorriso lindo no rosto e eu juntei os dedos, indicador e polegar, passando-os sobre meus próprios lábios, mostrado que ficaria em silêncio a partir de agora. 
- Ótimo, a... Ahm... Joe, sobre o que eu estava falando mesmo? – mordeu o lábio inferior e nós rimos – Ah, lembrei! Quando eu trabalhei na secretaria desse instituto, que era perto de casa, a Melannie já tinha um ano e pouquinho, e sempre que eu podia ligava para a minha tia pedindo para que ela aparecesse por lá. – e colocou uma mecha do cabelo atrás da orelha – Eu não aguentava ficar muito tempo longe dela. 
- Seu chefe não se incomodava? 
- Na verdade não, todos gostavam quando ela estava lá comigo, – ela sorriu meigamente –achavam incrível ver que ela não se abalava com os sons e que ela até gostava! Eu a sentava sobre a minha mesa, de frente para mim; a sala dos alunos de violão era a que ficava mais próxima da secretaria e mesmo com o isolamento acústico, era possível ouvi-los tocando, então quando parava de tentar pegar as minhas canetas e prestava atenção aos sons, ela me olhava com aqueles olhos castanhos brilhando, sorria e começava a bater palminhas ou a tentar dançar. Sei lá, eu ficava toda boba, rindo sozinha porque aquilo era... Era fantástico! – ela riu e eu sorri amarelo sem conseguir esconder minha frustração. 
Eu estava feliz por ela me contar aquilo, claro que estava, mas não conseguia deixar de pensar que eu mesmo poderia ter visto isso e muito mais! Poderia ter acompanhado cada mês da gestação, assistido ao seu nascimento – sim, eu acredito que teria estômago para isso –, não me importaria de ter passado noites em claro, trocado fraldas, feito mamadeira, ter visto seus primeiros dentinhos nascerem, os primeiros passos, as primeiras palavras... Principalmente as primeiras palavras! Porque depois eu veria que tudo havia valido a pena. Eu não podia deixar de evitar isso, evitar a falta que eu sentia de coisas que nunca existiram para mim. Você já sentiu isso, falta do que nunca existiu? Pois é, eu também não sabia que isso era possível. 
- Desculpe, – ela pediu abaixando o olhar para suas mãos que brincavam distraidamente com a minha, por breves segundos – sei o que está pensando, eu falei sem pensar, me desculpe. 
- Qual foi a primeira coisa que ela disse? – perguntei e ela sorriu de lado. 
- A maioria das pessoas que conhecemos, acham que ela chamou pela minha tia, mas não é verdade. Uma semana antes disso, por incentivos da Miley... – riu fraco – Ela chamou pelo pai, chamou por você! 
- Não está me dizendo isso só para que eu me sinta melhor, não é? – comprimi os olhos. 
- Por que eu faria isso? – piscou esperando por uma resposta. 
Eu senti um frio na barriga e um sorriso se formar em meus lábios, apenas levantei os ombros levemente. De alguma forma, ouvir isso realmente fez com que eu me sentisse melhor. Já estava cansado de ficar sentado naquela posição e minhas costas começaram a reclamar, estou ficando velho tão rápido assim? Joguei o corpo para trás, me deitando de costas no chão e Demi me olhou sobre o ombro. 
- Gostei de ouvir isso, – admiti e Demi riu, deitando-se da mesma forma ao meu lado e eu puxei sua mão pra cima do meu peito, começando a acariciar a palma da mesma – e tudo bem, eu quero ouvir mais histórias como esta, a ideia de ser pai, principalmente por ser Melannie, por ser você... Está me parecendo ótima. 
- Mesmo... – ela hesitou por um momento e se virou para mim, me olhando com ternura – Mesmo depois de tudoJoe? 
Talvez ainda mais depois de tudo, pensei, mas isso eu não quis admitir. Mais uma vez eu estava nas mãos dela, ou talvez nunca deixei de estar. Abaixei meu olhar, toquei as pontas de seus dedos com os meus e os deslizei até metade de seu antebraço, sorri por um momento por ela ter se arrepiando, mas logo franzi o cenho ao perceber uma marca roxa em seu pulso. 
Demi, o que é essa... Como... – comecei tentando escolher as palavras e ela se soltou de mim, tornando a deitar de costas e puxou a manga da camisa para cima. 
- Eu sou tão descuidada, – riu e tirou o celular do bolso, que começava a tocar, o deixando na altura do rosto – não se preocupe com isso. É a Melannie, vou colocar no viva-voz, ok? – ela não me deu nem tempo para responder e atendeu a ligação – Oi amor. 
- Amor é o cacete Demetria, você não vem pra casa? – ouvimos Mi falar, Demi riu e eu não tive como não acompanhar. 
- Nossa, eu também estou sentindo a sua falta, priminha linda do meu coração! – Demi riu – Diz oi para o Joe. 
- Oi Joe, como vai a vida? 
- Bem, e a sua? 
- Também. Recebeu a minha mensagem? – ela perguntou e Demi me olhou com o cenho franzido, como se me questionasse. 
- Recebi – eu sorri. 
- Ok, beleza, chega, desde quando vocês dois ficam trocando mensagens? Eu hein... – Demi comprimiu os olhos e nós rimos – Sai daí Mi, quero falar com a pequena. 
- Ih, chata! – Mi riu. 
Ouvimos um murmúrio do outro lado da linha. 
Joe? Mãe? – a voz de Melannie soou e eu senti um sorriso involuntário brotar em meus lábios. 
- Hey pequena – eu disse. 
- Oi minha princesa, está tudo bem por ai? 
- Está sim, adivinhem o que eu estou fazendo? – a menina perguntou e Demi e eu nos entreolhamos sorrindo, dei de ombros. 
- Ahm... Assistindo um filme bem legal e comendo porcaria? – Demi arriscou. 
- Não, jogando videogame com o Liam! – ela disse toda empolgada e nós nos entreolhamos mais uma vez. 
- O Liam? – indaguei. 
- Aham, – a menina disse e nós rimos – a tia Mi queria mandar ele embora, mas ele trouxe doces... 
- Doces, sempre o nosso ponto fraco! – Demi me disse bem baixinho, quase num sussurro, sorrindo. 
- Ai ela deixou que ele ficasse. 
- Então aproveita bastante pequena – eu disse me aproximando mais de Demi. 
Eu a puxei delicadamente, passando um braço por seus ombros e outro por sua cintura, colando nossos corpos, fazendo com que ela apoiasse a cabeça em meu ombro. 
- É, porque amanhã tem aula – Demi completou e a menina suspirou. 
- Tudo bem... Mas mamãe, você vem pra cá hoje? 
- Não, – eu disse antes de Demi pensar em abrir a boca, e ela me olhou com as sobrancelhas arqueadas – está muito tarde. 
- Mas eu tenho que trabalhar. 
- Você não pode ir depois do almoço? Assim nós três podemos pegar o exame com mais calma – expliquei. 
- Na verdade eu posso, tenho horas positivas daquele dia da reunião. – ela sorriu e tornou a atenção ao celular – Então é isso filha, hoje eu não volto pra casa da sua tia, você vai pra escola amanhã e Joe e eu vamos te buscar mais tarde, ok? 
- Ok, então tch... Ah, a tia quer falar com você. 
- Boa noite meu anjo, manda um beijo para o Liam. – disse se aconchegando mais a mim – Eu te amo. 
- Eu também... Ahm, boa noite Joe. 
- Boa noite Melannie – eu disse e ouvi um riso baixo antes de um barulho tomar conta da ligação. 
- Oi, oi, pronto! – Miley disse rindo. 
- Está se divertindo bastante com o Hemsworth ai, prima? – Demi alfinetou. 
- Cala a boca! – ela repreendeu e nós rimos – Não Demi, é sério, tenho uma coisa muito importante pra te contar. 
- Pois conte – ela disse entre um bocejo. 
- Tem certeza? Assim, no viva-voz, em inglês e tal...? – ela disse com tanta cautela que eu até estranhei. 
- Tenho, pode falar – deu de ombros. 
- Ok, eu acabei de checar meus e-mails e adivinha... – começou e Demi apenas murmurou para que ela continuasse – Tinha um da minha mãe, perguntando mais de Melannie você do que de mim, da própria filha! Acredita numa coisa dessas? 
- E como estão as coisas por lá? 
- Está tudo bem, minha mãe disse que está com saudades de nós, de mim, mas não da minha preguiça para arrumar a casa. – ela disse e nós rimos mais uma vez – Mas enfim, ela disse que seu pai foi procurá-la, que lhe fez algumas perguntas um tanto quanto vagas sobre você, depois mudava de assunto, mas sempre voltava em Melannie e você. De novo, como daquela última vez. 
- Você acha que ele precisa de algo? Sua mãe disse mais alguma coisa? Talvez ele precise de dinheiro ou sei lá... 
- Você sabe o que ele quer! – Mi disse e Demi respirou profundamente – Ele está ficando velho, não quer mais ficar sozinho, quer te ver, conhecer Melannie. 
- Ah Mi, eu não sei se... 
Joe, por favor, – ela a interrompeu, Demi levantou seu olhar para mim e balançou a cabeça levemente em negação, então eu permaneci em silêncio – fala pra ela parar de ser cabeça dura e dar uma chance pra ele? Poxa Demi, é o seu pai. 
- Podemos falar sobre isso depois? – ela perguntou para a prima, que suspirou. 
- Ok. 
- Beijo – ela disse e desligou. 
O silêncio tomou conta de nós por alguns longos minutos, mas não era um silêncio incomodo, eu estava gostando de sentir a sua presença, o seu corpo quente contra o meu. Em alguns momentos eu pensava sobre o que Miley havia contado pelo telefone, mas nisso eu já não posso tentar interferir, podia? Afaguei seus cabelos. 
- Tudo bem? – perguntei num tom baixo. 
- Tudo. – ela disse da mesma forma – Você acha que ela tem razão? Acha que eu estaria fazendo a coisa certa se voltasse ao Brasil por ele... Não para morar, claro, mas para vê-lo? 
- Eu não sei Demi, – eu disse e ela se soltou um pouco de mim, deitando de barriga para baixo, apoiando os cotovelos no chão, me olhando – a Mi conhece seu pai, sabe como foi, como é a sua relação com ele, mas na verdade, só você sabe se seria certo encontrá-lo. Todo mundo merece uma nova chance – dei de ombros. 
Ela comprimiu os olhos, parecendo ponderar em relação as coisas que eu disse, mordeu o lábio inferior e riu fraco. 
- Bom argumento. – disse apoiando o queixo em uma das mãos – Mas então, parece que eu vou passar a noite aqui, não é? 
- Sim, – eu sorri – e nem pense em fugir! 
- Não vou – ela disse passando as mãos pelos olhos. 
- Quer subir? 
- Não, está bom aqui! – choramingou deitando a cabeça sobre meu peito e eu ri – Até o chão da sua casa é confortável. 
- Tecnicamente falando, você está praticamente deitada em cima de mim, – eu disse e ela gargalhou – então não é o chão que é confortável. 
- Mas ainda assim estou com preguiça de levantar. – disse entre risos – Podemos ficar aqui só mais um pouquinho? 

- Ei, eu te procurei por todo canto! – ela me olhou pela janela aberta do carro com o cenho franzido e abriu a porta do mesmo – Sério que você esteve aqui esse tempo todo?
- Talvez... – dei de ombros.
Demi suspirou e entrou no carro sentando-se no meu colo, com uma perna de cada lado de meu corpo, me deixando com uma bela visão de suas coxas, já que ela estava de vestido. Um vestido muito bonito, diga-se de passagem. E fechou a porta.
- Ok, – ela estalou os dedos frente ao meu rosto, fazendo com que eu a encarasse – o que aconteceu?
- Você está tão linda.
- E você, está bêbado? – franziu o cenho e eu ri.
- Não.
- Então o que foi? A festa está chata? Não se preocupe, está quase acabando.
- Estou cansado, só isso – eu disse passando uma das mãos carinhosamente por sua perna descoberta.
- Ah, que pena, – fez bico – eu estava te procurando justamente pra te chamar pra dar o fora daqui e ir fazer alguma coisa mais, ahm, interessante... – ela disse aproximando seu rosto do meu e subindo as mãos lentamente pelo meu peito, mas quando eu tentei avançar contra seus lábios, ela se afastou – mas você está cansado, não é?
- Ah, para com isso e vem cá – eu ri e a puxei pela nuca, colando nossos lábios. Logo senti sua língua quente em contato com a minha e seu gosto me invadir, subi uma das mãos para dentro de seu vestido enquanto entrelaçava a outra e seus cabelos.
- NÃO! – ouvi alguém praticamente gritar em meus ouvidos e então nós nos separamos. Era Liam, nos olhando com cara de nojo enquanto Justin e Liam, na entrada da casa alugada, se acabavam de rir – Joe, não com a minha maninha, não no meu aniversário, muito menos no meu carro!
- Nós não estamos fazendo nada de mais Liam, eu juro – Demi disse o olhando com cara de cachorrinho abandonado.
- A mão dele está debaixo do seu vestido Demetria! – ele a repreendeu e ela deu um tapa em minha mão, a afastando dali e me encarou com os olhos arregalados, segurando para não rir – Pouca vergonha...
- Ah Liam, tchau! Vai curtir o final da sua festa – ela rolou os olhos subindo o vidro e abaixou o pino, trancando o carro.
- Eu não posso ver isso – ele balançou a cabeça negativamente e nós rimos enquanto ele voltava pra dentro da casa.
- Onde estávamos? – sorri malicioso e ela riu se aproximando mais uma vez, roçando seus lábios aos meus.
- No nada de mais – ela sorriu da mesma forma.
- Podemos pular essa parte então?
- Com certeza. 

Senti que ela tentava sutilmente se desvencilhar de meus braços e abri os olhos com um pouco dificuldade, minhas pálpebras estavam pesadas e quando consegui enxergá-la, ajoelhada de frente para mim, ela passou uma das mãos sobre meu rosto e pousou o dorso da mesma sobre minha testa. 
Joe? – chamou baixinho, começando a se levantar. 
- Não, fica aqui, está frio. 
- Você está com febre. 
- Não... 
- Vem, levanta do chão. – ela disse e eu me levantei bem devagar, rumando em direção ao sofá, mas ela envolveu seus braços em minha cintura, me fazendo parar – Não, não, para o quarto! Eu te acompanho. 
Coloquei um dos braços sobre seus ombros e passei a mão livre pelo meu rosto, tentando ficar mais atento aos degraus da escada. Demi abriu a porta do quarto e nós entramos, acendi a luz do abajur, me deitei e ela se sentou ao meu lado, na beira da cama com um olhar preocupado. Passou a mão suavemente pelo meu rosto mais uma vez e suspirou. 
- Você não se cuidou nem um pouquinho, não é? Desde aquele dia... 
- Não é verdade, – eu a interrompi segurando sua mão sobre meu peito – eu tomei uns remédios ai, mas não adiantaram de nada. 
- Ok, mas nós precisamos de um para baixar a sua febre, então – ela disse olhando em volta – onde ficam os remédios? 
- Não ficam. – eu disse e ela me olhou com as sobrancelhas arqueadas – Não tenho mais remédios aqui. 
- E agora? – ela perguntou ainda com aquele olhar preocupado e eu levantei levemente os ombros – Desculpe, se você está assim é por minha causa. 
- Eu vou ficar bem. 
- Descanse, porque amanhã... – ela disse, se levantando e soltou da minha mão, tirando o celular do bolso – Aliás, hoje nós vamos sair mais cedo e passar no hospital antes de fazer qualquer coisa. 
- Você, por acaso, sabe o quanto eu estou evitando ir ao médico? – eu rolei os olhos e ela riu. 
- Mas você está doente e vai, querendo ou não! – ela disse e eu sorri – Percebi que de vez em quando você sente falta de ar. 
- Você vai ficar aqui e cuidar de mim, não vai? – perguntei puxando os cobertores para me cobrir e me afastei para o outro extremo da cama, lhe dando espaço. 
Joe, eu não... 
Demetria, eu estou doente, vai mesmo me negar isso? – perguntei em falsa incredulidade e ela gargalhou – Só estou pedindo para você se deitar aqui ao meu lado, nada de mais. 
- Você é tão dramático – ela bocejou entrando debaixo dos cobertores, deitando-se de lado, ficando de frente para mim. 
- Só um pouco – sorri e coloquei uma mecha de seu cabelo atrás da orelha, Demi piscou profundamente enquanto eu acariciava seu rosto e suspirou. 
- Você está acabando com o pouquinho que ainda resta do meu estoque de autocontrole – ela me olhou e eu ri fraco. 
- Não estou fazendo por mal, juro. 
- Eu sei. 
- Mas posso ir para o outro quarto se quiser. 
- Esse que é o meu maior problema, – ela disse e eu franzi o cenho – eu não quero. Sei que não é certo, sei que não posso, mas quero ficar com você. 
Suspirei. 
Demi, não é errado! Está me entendendo? – eu disse pausadamente, ela franziu o cenho mordendo os lábios – Vai adiantar eu perguntar por que você não pode? Por que não pode fazer o que realmente quer sem que se sinta tão culpada? 
- Porque Robert te odeia? – sugeriu arqueando as sobrancelhas – Ou talvez porque é com você que eu tenho uma filha, ou porque foi com você que eu o traí e é na sua cama em que eu estou deitada neste exato momento... 
- Mas não estamos fazendo nada – tentei argumentar. 
- Mas não muda a situação de que uma noiva está na cama com um cara solteiro. – ela disse e eu comprimi os olhos, refletindo sobre isso – Sim, eu me sinto culpada, pois não consigo evitar algumas situações, – e deu uma risada contida – pois estou reclamando, mas continuo aqui... No mesmo lugar. 
Ela me olhou confusa com seus próprios pensamentos e ruborizou. 
- Eu sou tão idiota – ela fechando os olhos com força, levou as mãos ao rosto e eu gargalhei a abraçando. 
- Não, você não é. – eu disse entre risos, a trazendo para mais perto de mim – Na verdade, acho estamos evoluindo. 
- Hã? – descobriu o rosto e me olhou – Como assim? 
- Pra quem me escondia um monte de coisas e não queria nem dizer que Melannie é minha filha, você está se saindo muito melhor – eu disse calmamente com o olhar fixo em seus lábios, que estavam tão próximos. 
- É? 
- Aham – murmurei e selei rapidamente meus lábios aos seus. 
Joe, você, por acaso, realmente ouviu alguma coisa do que eu disse? – ela disse de um jeito divertido. 
- Desculpe, mas você já acabou com o meu estoque de autocontrole faz tempo.
Capítulo 17.
Acordei com a respiração curta e incomodado pelo frio que sentia, sem dúvidas, eu ainda estava febril e mesmo não querendo soltei Demi de meus braços, a aconchegando entre os cobertores e me levantei, rumando para o banheiro. Fiz minha higiene matinal – bem lentamente, quase parando, mas fiz – e encarei meu reflexo no espelho por alguns segundos, cabelo de qualquer jeito, barba rala já começando a aparecer e um pouco pálido. Eu estava com uma aparência ruim, não estava horrível, mas poderia estar melhor. Balancei a cabeça negativamente afastando meus pensamentos inúteis e procurei no gabinete por uma escova de dente que eu havia comprado da última vez que fui ao mercado, ela ainda estava na embalagem, então a deixei sobre o lavatório. Sai do quarto e desci as escadas, peguei as roupas secas de Demi na lavanderia e passei, eu queria ter feito melhor, mas definitivamente não nasci pra passar roupa, então fiz o que pude e tornei a me arrastar escada à cima. Fiz tudo isso bocejando a cada cinco minutos e piscando pesadamente. Quando cheguei ao quarto, Demi ainda estava dormindo, deitada de lado com uma expressão calma em seu rosto. Coloquei suas roupas no banheiro junto à escova de dente que havia separado especialmente para ela e voltei para o quarto, me sentado na beirada da cama, próximo ao seu corpo.
- Demi? – chamei pousando uma das mãos sobre seu braço e ela se mexeu, deitando-se de barriga para cima – Acorda, temos que ir.
- Aham – ela murmurou ainda de olhos fechados e eu não pude deixar de sorrir.
Quando é que eu poderia imaginar essa situação?
Tive que lutar arduamente contra a minha imensa vontade de tornar a me deitar na cama com ela. Não gosto de nem um pouco de hospital, sempre evito o máximo que posso, mas já estava começando a ficar preocupado com tudo aquilo que vinha sentindo de uns dias pra cá. E bem, agora eu tenho uma filha para cuidar, se não eu fosse agora, não iria nunca ao médico.
- É sério, Demi, acorda. – disse deitando a cabeça sobre sua barriga e logo senti seus dedos se perderem em meus cabelos.
- Aham – repetiu.
- Vamos, já está ficando tarde! – disse entre um bocejo aproveitando o cafuné que ela fazia em mim – Nós temos que ir ao hospital, buscar Melannie na escola e depois os resultados do exame.
- Só mais dez minutos – ela disse baixinho e eu me levantei relutantemente.
- Tem certeza de que vai trabalhar hoje?
- Aham – murmurou de novo, mas dessa vez se levantando e eu ri.
Ela parou de frente para mim me olhando com os olhos miúdos de sono e me aproximei, tentando selar seus lábios aos meus, mas ela se afastou.
- Está ficando maluco? – perguntou com a voz um tanto rouca e eu ri.
- Não custa tentar. – dei de ombros e beijei sua testa – Bom dia.
- Bom dia – ela sorriu de lado.
- Suas coisas estão no banheiro – eu disse e ela assentiu, se afastando.
Demi foi direto para o banheiro e eu fui para o closet, coloquei uma calça jeans escura, camiseta branca, uma camisa quadriculada azul e por cima uma jaqueta de zíper e capuz preta, sai do quarto enfiando as meias e os tênis pretos nos pés e desci novamente as escadas. Juro que um dia eu ainda terei uma casa, ou um apartamento, plano, sem escadas. Sério, estou tentando deixar de ser sedentário, mas escada é realmente uma porcaria.
- E ai amigão! – eu disse para Snoop enquanto ele se levantava preguiçosamente de sua almofada e começou a me seguir.
Entrei na cozinha um pouco ofegante, mas resolvi ignorar esse fato. Peguei as correspondências que Poppy havia trazido ontem, as deixando sobre a bancada e coloquei ração para o Snoop. Abri alguns armários, puxei a caixa de cereais e duas tigelas, abri uma das gavetas, pegando colheres e a caixa de leite na geladeira, por fim coloquei tudo sobre a bancada e me sentei de frente para a mesma. Preparei meu “café da manhã” e enquanto comia conferi as cartas.
Jornal pra ajudar a limpar as sujeiras do Snoop, propaganda dos cartões, mais propaganda, cobrança, carta encaminhada da casa da minha mãe, propaganda, minhas revistas. Uma sobre música, instrumentos e outra de...
- Revista de mulher pelada Joe? – ouvi Demi dizer e pulei de susto jogando a revista pela janela. Ou melhor, na janela – Por que você fez isso? – perguntou com o cenho franzido, mas se esforçava para não rir.
- A Poppy está fazendo um ótimo trabalho, você não acha? Poderia jurar que a janela estava aberta – eu disse balançando a cabeça negativamente e ela gargalhou.
- Ok, nem vou comentar sobre isso! – ela disse com um sorriso divertido no rosto e se sentou ao meu lado – Então, está se sentindo melhor?
- Não sei, acho que um pouco – eu disse empurrando a tigela para ela, que passou a se servir.
- Sua respiração está alta – ela disse me encarando com um olhar preocupado e eu pigarreei.
- Eu estou bem.
Tentei normalizar minha respiração e tornei a atenção para as correspondências. Juntei todas as cartas de propagandas inúteis, as rasguei e enquanto eu abria outra revista – aquela de classificação livre –, Demi pegou a carta que viera encaminhada.
- Este aqui não é o brasão do nosso antigo colégio?
- É, pode rasgar – dei de ombros.
- Por quê?
- É bobeira – fiz careta e ela rolou os olhos sorrindo.
- Vou abrir, se você não se importar claro. – disse e eu dei de ombros mais uma vez voltando minha atenção para a minha revista e o meu cereal – É um convite para a reunião de ex-alunos.
- Eu sei, eles fazem isso quase sempre – eu disse de boca cheia sem tirar os olhos das páginas da revista que até estava interessante nessa semana, eu precisava mesmo comprar umas coisas novas.
- E você foi alguma vez? – Demi perguntou e eu balancei a cabeça em negação – E os meninos?
- Também não. Nunca.
- Por que não?
- Porque é só uma reunião idiota.
- Como sabe que é idiota se você nunca foi? – ela perguntou, franzi o cenho e tive que encará-la, ela estava com uma das sobrancelhas arqueada, com um olhar esperto, assim como sua pergunta.
Não é que fazia sentido?
- Filmes! – dei de ombros e ela riu.
- Para de imitar a Melannie!
- Mas é verdade! Estou aprendendo muito com ela – eu sorri.
- Ah é?
- Você sabe, as líderes de torcida e os gostosões, estão todos gordos, aparentando serem mais velhos do que são, com cabelo e pele ruim, e são todos empregados dos nerds e dos que eram metidos a músicos...
- Suas reflexões me deixam realmente impressionada! – disse entre risos – Mas é sério, por que vocês nunca foram?
- Ou tínhamos coisa muito melhor pra fazer, ou era pura preguiça, ou simplesmente não tínhamos vontade de olhar pra cara daquelas pessoas. – eu disse enumerando as opções nos dedos – Não tinha ninguém que nós quiséssemos reencontrar daquela época, a não ser você, claro.
- Hm – ela murmurou e abaixou o olhar.
Então um silêncio estranho e incômodo, pelo menos para mim, pairou no cômodo. Ela quer ir? Tipo, é sério mesmo que ela que ir para aquela reunião de ex-alunos idiota onde só tem pessoas hipócritas e... É sério mesmo?
- Quer ir? – perguntei e ela me olhou – Eu convenço os dudes e então podemos ir todos juntos.
- Seria ótimo.
Ela sorriu e tornou a atenção a sua tigela de cereal deixando que um silêncio bem mais confortável se instalasse entre nós, cada qual com os seus pensamentos. Quando terminamos, Demi se certificou mil vezes de que estava com o celular e as chaves de sua casa no bolso do moleton – provavelmente para não correr o risco de desencadear uma futura briga com o noivo –, e por fim pegou o seu cachorro de pelúcia, que tinha passado a noite no sofá. Eu peguei as minhas coisas, carteira, chave do carro e etc. Deixamos o apartamento e enquanto Demi apertava o botão para chamar o elevador, coloquei o capuz trancando a porta, me postei ao seu lado e então o elevador se abriu, revelando três pessoas, que para mim, era muita surpresa estarem ali, principalmente pelo fato de ser tão cedo num dia de semana.
Vêm cá, vocês não trabalham mais?
- Bom saber que ainda estão aqui. Precisamos conversar – Selena disse séria, olhando de cima para Demi, com uma das mãos na cintura.
- O que houve? – ela arregalou os olhos – É a Melannie? Cadê a minha filha? O qu...
- Pode ficar calma Demi – Taylor disse segurando a porta do elevador com a maior cara de sono.
- Não é nada com a Melannie, – Miley completou sorrindo para a prima, que suspirou aliviada – eu já a deixei na escola.
- Ai, que susto Sel! – ela disse repreendendo a amiga com o olhar – Não se diz coisas assim para uma mãe que não está com a cria por perto. Quer me matar do coração?
- Sem querer ser grosso, mas o que vocês estão fazendo aqui? – perguntei – Não deviam estar trabalhando?
- A Sel nos sequestrou – Tay disse entre um bocejo, coçando os olhos – para chegar até a Demi.
- Mas hein? – franzi o cenho.
- Se não é nada com a Melannie, então qual é o problema? – Demi perguntou me puxando e empurrando as outras três de volta pra dentro do elevador – Não me lembro de ter feito nada de errado Sel.
- Ah é? – cruzou os braços a olhando com as sobrancelhas arqueadas.
Eu pude sentir uma pontinha de sarcasmo na voz de Sel e como não estava entendendo nada, apertei o botão para o estacionamento subterrâneo e coloquei as mãos nos bolsos, me encostando num canto do elevador, ficando na minha só para ver no que aquela conversa muito estranha ia dar.
- É.
- Por que eu sou sua amiga e você é minha, não é?
- É – Demi repetiu comprimindo os olhos e olhou para a prima, como se a questionasse sobre o que estava acontecendo e a outra apenas levantou levemente os ombros.
- Então por que diabos, você não me contou sobre Melannie ser filha do Joe? – ela disse e Demi começou a rir.
- É brincadeira isso, não é? – perguntou entre risos, mas Sel continuou séria, então ela cessou o riso aos poucos e arregalou os olhos – Espera, é sério?
- Parece que sim – Mi disse baixinho atrás da prima.
É impressão minha ou o espaço nesse elevador está ficando cada vez menor?
- Selena, você está brava comigo por isso, é sério mesmo? Amiga, está tão difícil de acreditar...
- Claro que estou! Por que não me contou? Eu não era confiável para guardar esse seu segredo internacional? – ela gesticulou exageradamente – Quando eu te conheci você disse que o pai dela era só um cara e não que era JoeJonas! – e apontou o dedo no meu rosto.
Ok, minha respiração começou a ficar pesada mais uma vez e a Sel falando daquele jeito, roubando todo o ar daquele cubículo só pra ela não estava ajudando nem um pouco.
- Eu não tinha contado nem pra ele, que era quem mais importava nessa história toda...
- Então agora eu não sou importante?
- Não coloque palavras em minha boca Selena! Se eu não te contei é porque certamente eu tive uma razão para isso.
- Caralho, está difícil respirar aqui – eu disse um pouco ofegante e fechei os olhos encostando a cabeça no espelho atrás de mim.
- É, o clima está meio tenso – Mi disse.
- Não, está difícil mesmo – eu disse e puxei a maior quantidade de ar possível.
- Ai, meu Deus!
- Respira Joe!
- O que ele tem?
- Joe? – senti a mão dela sobre meu peito e a encarei, vendo três pares de olhos preocupados atrás de Demi, mas foquei apenas nos dela – Calma...
- É, não morre! – ouvi Mi dizer e eu poderia rir se estivesse em melhores condições.
- Concentre-se somente em sua respiração e em mais nada – Demi completou.
Assenti com os olhos cravados nos dela e tentei me estabilizar, sem ouvir nem mais um ruído a não ser o som da minha respiração, sentindo sua mão subir e descer junto ao meu peito.
- Ahm... Pronto? – ela sorriu meigamente e eu vi as portas do elevador se abrirem, então puxei a chave do carro do meu bolso.
- Acho melhor outra pessoa dirigir até o hospital – eu disse e ela olhou da chave para a prima.
- Mi?
- Não tirei carta nem no Brasil, esqueceu? – disse dando um passo para trás.
- Ah é. Tay?
- Tem certeza de que quer confiar em mim pra isso? – ela fez careta – Eu nem acordei direito ainda.
- Sel?
- Está me achando com cara de chofer? – perguntou com cara de poucos amigos, segurando a porta do elevador.
- Por favor, Selena, o Joe está doente, você vai mesmo negar isso a ele? – Demi usou o meu argumento da noite que se passou e eu sorri de lado. Boa garota.
- Mas é só porque ele está precisando – ela disse puxando a chave da minha mão – e porque vocês são três inúteis.
- Ei! – Taylor reclamou enquanto nos saímos do elevador – Você saiu por ai sequestrando pessoas, não está em posição de julgar ninguém...
Sel apertou o botão de destravar o carro e ele piscou no final do estacionamento subterrâneo, as meninas foram na frente brigando com Sel por várias coisas.
Por tê-las sequestrado sem dizer o verdadeiro motivo, por estar brigando com Demi, mas acho que principalmente por tê-las chamado de inúteis. Eu ri fraco, ainda tomando cuidado com a minha respiração e passei um dos braços pelos ombros de Demi, que andava lado a lado comigo.
- Ela vai superar – eu disse me referindo a Sel.
- Claro que vai, mas antes ela vai é me fazer um interrogatório assim que tiver a chance, pra saber tudo o que aconteceu antes de me conhecer e tentar entender porque não contei a ela sobre isso. – deu uma risada contida e me olhou – Você está bem?
- Vou ficar – sorri.
Demi se soltou de mim e nós entramos no carro. Assim como combinado Sel ficou como motorista, Tay no banco da frente, e então no banco de trás ficamos, Mi, Demi e eu, exatamente nessa ordem.
- No hospital de sempre Joe? – Tay perguntou me olhando por cima do ombro enquanto Sel dava a partida e eu apenas assenti.
- Não pense que se livrou, viu mocinha? – Sel disse olhando para Demi pelo retrovisor – Tenho muitas perguntas para te fazer ainda.
- Ninguém quer trocar de lugar comigo? Fiquei bem na linha de tiro – Demi disse e nós rimos.
Por toda a viagem ficamos todos em silêncio, até que já praticamente na entrada do hospital eu vi Miley pegar o cachorro de pelúcia que Demi carregava consigo até então e balançou o mesmo no ar, olhando para a prima com as sobrancelhas arqueadas, a questionando.
- Para! Ele é meu. – ela disse baixinho pegando-o de volta de um jeito quase que infantil e eu sorri comigo mesmo.
Assim que Sel estacionou o carro, nós cinco saltamos do mesmo e fomos direto para a entrada, ao balcão de recepção do hospital. Era costume ir até aquele hospital em especial e na maioria das vezes eu passava com o mesmo médico. Confiabilidade, talvez. Tem muitas coisas que faço e muitos lugares que vou que são sempre os mesmos pelo mesmo motivo. Preenchi uma ficha padrão que seria encaminhada para o clínico geral, então a moça da recepção pediu para que nos sentássemos na sala de espera que logo o médico chamaria por mim e assim fizemos.
- Estou com fome – Tay disse, sentada ao meu lado, depois de alguns minutos de espera.
- Tay, para de reclamar! – Sel disse empurrando a amiga levemente pelo ombro – Desde quando te peguei na sua casa eu só ouço “blá blá blá, Selena, sua vadia, eu estou com sono e com fome” e “blá blá blá, para na Starbucks, me leva de volta pra casa, sua vaca”.
- Eu não estaria reclamando se você não tivesse me acordado de madrugada falando que algo grave tinha acontecido – ela cruzou os braços.
- Desde quando oito horas da manhã é de madrugada? – perguntou e todos nós rimos, exceto Tay.
- Ainda assim estou com fome, sua vaca! – fez careta a Sel jogou as braços pesadamente sobre o colo diante do xingamento – Não deu pra tomar café, porque o Liam estava dormindo.
- Desculpa ai, senhora Taylor Payne que ganha café na cama do namorado – Sel riu levantando as mãos na altura dos ombros.
- Não é isso, é que quando eu não tomo café fico parecendo um zumbi, andando de um lado para o outro. – gesticulou – Fora que fui dormir tarde.
- Ui, a noite foi boa – Mi comentou fazendo as meninas caírem na gargalhada.
- Miley! – Taylor a repreendeu entre risos – Não fala dessas coisas perto do Joe.
- Ok, como se ele fosse muito virgem... – ela ironizou rolando os olhos e as meninas riram novamente – Mas diz aiDemi, você que entende do assunto! O Joe é ou não virg... Outch! – reclamou depois do belo tapa na perna que recebeu da prima.
- Não me envolve – Demi disse séria, porém com as maçãs do rosto rosadas e eu ri.
- Eu estaria curtindo muito mais essa conversa se nós não estivéssemos num hospital – eu disse entre risos passando uma das mãos pelo rosto, sentindo a barba rala e me afundei na poltrona verde em que estava sentado – Mas eu sei que é hora da fofoca, então finjam que não estou aqui, beleza?
- Não é fofoca, só estamos colocando o assunto em dia – Sel sorriu dando de ombros.
- Mas isso não é assunto pra se ter num hospital. – Demi disse calmamente e se virou para a prima – Mi, eu sei que o tempo que você passou com o Liam ontem lhe causou alguns efeitos, mas tem que se controlar prima.
- Você esteve ontem com o Liam? – Tay perguntou entre risos e Mi devolveu o tapa na perna da prima – Ok produção, agora todos os holofotes apontados para a Mi.
- Agora eu entendi o porquê de ele não ter atendido nenhuma das ligações do Justin – Sel disse comprimindo os olhos.
- Gente, a Demetria está querendo criar caso, – ela disse olhando feio para a prima, que tentava reprimir o sorriso – ela sabe que eu estava cuidando da Melannie, que ele só quis ser legal e levou uns doces pra ela.
- É, ele faz mesmo o tipo de cara que leva doces para as crianças só para ser legal – Sel disse e todas riram, mas logo cessaram quando a porta do consultório fora aberta, revelando um senhor baixo e grisalho de jaleco branco.
- Joe Jonas – ele disse e eu me levantei tirando o capuz.
- Tchau Jonas – Tay me mandou um beijo no ar.
- Boa sorte – Mi disse.
- A gente vai aproveitar e ir à cantina do hospital comer alguma coisa – Tay disse já se levantando e eu assenti passando uma das mãos pelo cabelo, o bagunçando totalmente sem nem me preocupar com isso.
Sel acenou, Demi apenas sorriu de leve e eu retribui, então segui para dentro do consultório e fechei a porta atrás de mim, me sentando de frente para o doutor que parecia analisar os papéis sobre sua mesa, provavelmente a minha ficha. Ele levantou seu olhar curioso para mim e deixou os papéis de lado.
- E então Joe, me conte como você está.

Demetria’s POV.

Depois que Joe entrou no consultório as meninas se levantaram e eu, sabendo o que estava por vir, permaneci sentada a fim de esperar por ele, fugir das perguntas de Sel e da pressão psicológica de Mi. Enquanto elas já iam andando, eu cruzei as pernas apoiando um dos cotovelos sobre o braço da poltrona e levei o dedo à boca, mordendo a ponta da unha, olhando para o chão. Resumindo: Disfarçando muito mal.
- Demi? – Sel chamou e eu levantei o olhar.
- Oi?
- Oi Demi, tudo bem? – Mi sorriu sarcasticamente. Ela devia estar louca para me ver numa encruzilhada de perguntas e claro, com o meu terrível talento em não saber contar mentiras isso não acabaria bem. Pelo menos não para mim.
- Vamos logo Demizinha linda, cunhadinha, eu estou com fome! – Tay choramingou mais uma vez e fez bico.
- Vocês podem ir, eu vou ficar aqui e esperar – eu disse abanando o ar casualmente.
- Ah vai, aham! – Sel fez careta vindo em minha direção, pegou em meu braço e começou a me arrastar pelos corredores do hospital. Minha amiga é um amor, a delicadeza em pessoa, eu sei. Mas me deixei ser levada por ela sem nem ao menos prestar atenção nos caminhos que havíamos tomado até chegar à cantina do hospital.
Como eu não estava com fome... Aliás, como eu estava um tanto ansiosa e não conseguiria comer muita coisa naquele momento, então apenas pedi para que Mi me trouxesse uma barrinha de chocolate e me sentei em uma das mesas da cantina analisando minhas unhas, esperando pelas meninas, que logo se sentaram junto a mim com seus lanches e latinhas de suco.
- Nós já estamos prontas, pode começar a falar – Sel disse abrindo sua latinha de suco e eu franzi o cenho rindo.
- Falar o que? – perguntei pegando o chocolate que minha prima me estendia, mas não para adiar o assunto – Pode ser um pouco mais específica?
- Ok, na verdade, tem apenas duas coisas das quais eu realmente quero saber. – e me olhou – Primeiro, por que não me contou?
- Naquela época você não estava namorando o Justin e os meninos já faziam sucesso aqui na Inglaterra, – dei de ombros – achei que se te contasse que tenho uma filha com Joe Jonas, – dei ênfase lembrando-me do modo como ela tinha falado no elevador – você pensaria que eu era uma fã maluca querendo se aparecer ou sei lá...
- Só eu e a minha mãe sabíamos quem era o pai de Melannie. – Mi disse ao meu lado enquanto eu abria e colocava um pedaço de chocolate na boca – Todas nós concordamos que seria melhor manter isso em segredo para que ele não recebesse a notícia de uma pessoa que não fosse a Demi, já que ele é uma pessoa pública...
- Sinto muito se ficou chateada, mas o meu primeiro pensamento era tentar esquecer, entende? – eu disse encolhendo os ombros. Tay que até então comia seu lanche silenciosamente, sorriu de leve ao meu lado e acariciou meus cabelos – Deixar tudo como estava mesmo e ser mãe solteira.
- Para com isso Sel e olha só pra ela! – ela disse enrolando uma mecha do meu cabelo em seus dedos – Demi, você é uma ótima mãe e afinal fez o que é certo, aproximou pai e filha.
- Não estou chateada, só queria e ter certeza de que o problema não era comigo, – Sel sorriu sem graça e as meninas a fuzilaram com o olhar – mas agora eu entendi e concordo com suas razões.
- Ótimo! – eu sorri – Era só isso? Posso voltar pra sala de espera?
- Não, ainda tenho mais uma perguntinha. – ela disse abaixando o tom de voz e pigarreou apoiando os cotovelos sobre a mesa – O que você está fazendo com o Joe?
Breve silêncio.
- Como assim? – franzi o cenho.
- Nunca o vi tratar uma mulher assim como te trata... – gesticulou – Ele está apaixonado por você.
- Não, ele não está apaixonado por mim – eu ri incrédula balançando a cabeça negativamente.
- Ah, claro que não. – ela disse dando uma risada contida – Ele completamente apaixonado por você.
- Sel, talvez ele até goste daquela garota de sete anos atrás, – cruzei os braços – mas não está apaixonado por mim.
- Não acredita mesmo nisso, acredita? – ela franziu o cenho.
- Ela não hesitou, não desviou o olhar quando disse – Mi disse e eu levei a mão à nuca, incomodada – porque é nisso em que ela quer acreditar.
Cala a boca Miley e para de ter razão, para de mostrar para todo mundo que você me conhece bem até demais!
- Ele mesmo já me disse que todos os relacionamentos que teve não deram certo, porque nenhuma das garotas com quem esteve era você! – ela disse e eu respirei fundo sentindo palpitações.
Palpitações? Sério coração, agora não é uma boa hora!
- Nós percebemos que ele está diferente, às vezes parece um tanto quanto conflituoso consigo mesmo, perdido em pensamentos – Tay disse se ajeitando melhor sob sua cadeira e Sel assentia a seu lado, concordando – mas a cima de tudo, ele está feliz! Ele está muito feliz, sorrindo todo momento em que voc...
- Vocês já pararam para pensar que talvez ele esteja feliz pela novidade sobre ter uma filha, mas não por mim? – eu a interrompi.
Eu não queria ouvir aquilo e tenho certeza que se fosse Melannie em meu lugar, ela colocaria as mãos sobre as orelhas fechando os olhos com força e começaria a cantar uma música qualquer fingindo não ouvir. Era exatamente isso que eu queria fazer agora, mas também não queria fazer papel de tonta e imatura, então desliguei as emoções e me coloquei no modo automático, aquele que ignora e faz com que, se for preciso, as verdades sejam ditas sem sentir ou ressentir.
- Ok Demi, ele está feliz por conta de Melannie e sim, ele foi apaixonado por aquela garota de sete anos atrás – Tay tornou a dizer dando de ombros – mas com certeza está se apaixonando por você agora, mais uma vez, seja lá quem você pensa que é hoje.
- O que você está fazendo com ele? – Sel perguntar mais uma vez e eu abri a boca sem conseguir emitir qualquer som – Você está de casamento marcado! Demi, falta quanto tempo?
- Ah, essa eu sei, eu sei! – Mi disse debilmente balançando as mãos no alto – São exatos 27 dias.
As três permaneceram em silêncio me encarando e eu senti que estava diminuindo sob seus olhares questionadores. Ótimo, agora eu sou uma péssima mentirosa e uma traidora que ilude as pessoas. Pessoas no casoJoe. Não estou fazendo nada por mal, ok? O que elas queriam de mim afinal?
- E então? – Sel me incentivou a dizer algo.
- O casamento está marcado – eu disse simplesmente tentando não deixar o tom de dúvida transparecer em minha voz e ouvi Mi suspirar pesadamente ao meu lado. Céus, eu só queria que aquele assunto acabasse logo e dar o fora dali!
- Paciência, fazer o que? Joe vai ter que aprender a lidar com isso – Sel deu de ombros e tomou um pouco de seu suco. Ela gosta de Robert.
- O que? Lidar com isso? – Tay abriu a boca incrédula – Isso é crueldade Demi, ele te ama, tem certeza de que não sente nada por ele? – e me olhou como se suplicasse por um sim. Ela gosta de Joe.
- É óbvio que sente, mas não quer admitir porque “é melhor pra todo mundo”. – Mi disse sarcasticamente fazendo aspas no ar – Mas conta pra elas Demi, por que você não pode desistir desse casamento e deixar o Robert? – disse e mordeu o canto dos lábios, eu a olhei com o cenho franzido, balançando a cabeça quase que imperceptivelmente em negação, querendo que ela calasse a boca de uma vez por todas. Ela gosta de mim.
- Não posso deixá-lo, ele precisa de mim!
- Ele precisa de tratamento! – retrucou com o tom de voz elevado, fazendo com que recebêssemos olhares feios de algumas pessoas que estavam nas mesas a nossa volta.
- Tratamento? – ouvi Tay dizer, mas Mi e eu não quebramos o contato visual.
- O que você pensa que está fazendo? – perguntei em português, aproveitando que somente ela me entenderia.
- Conta pra elas, Demetria – ela disse séria – ou senão eu conto.
- Miley, você não pode, você me...
- Prometi que não contaria ao Joe, aos garotos do McFLY e não contei! Ainda estou cumprindo a promessa. – ela disse e eu puxei as mangas da blusa até metade das palmas das mãos, sentindo um frio percorrer por todo o meu corpo – Você sabe que é exatamente por isso que vou embora depois do casamento...
- Eu não quero que você vá – eu disse baixinho.
- Então conte a elas o que aconteceu na Alemanha Demi, é a única coisa que te peço. – disse me lançando um olhar preocupado. Posso dizer seguramente que não gosto nem um pouco desse tipo de olhar – Eu não quero ver minha prima jogar a vida inteira dela no lixo.
- A felicidade de Melannie, é isso do que eu preciso e nada mais importa – sorri, mas provavelmente deve ter parecido um sorriso amargo.
Era verdade, mas falando assim soou um tanto quanto... Triste.
- Mas não é justo, você não merece isso.
- Ele prometeu que mudaria e está mudando Mi!
- Você tem que parar de acreditar em todas as promessas que te fazem, – ela disse e eu engoli a seco – não é todo mundo que as cumpre e você sabe muito bem disso.
- Erm... Olá, nós ainda estamos aqui! – Sel disse e eu as encarei – Seria bom se vocês nos incluíssem na conversa.
- O que está acontecendo com vocês? – Tay perguntou.
Suspirei sentindo meus músculos ficarem tensos por estar novamente sob a mira de seus olhares, por pensar naqueles dias que eu queria tanto apenas esquecer e seguir em frente, mas agora estava se tornando cada vez mais difícil. Eu já ouvi em algum lugar que as cicatrizes lembram de que o passado é real e agora estou tirando a prova disso.
Mordi o lábio inferior olhando para cada uma das minhas amigas.
Foi doloroso, mas passou, certo? Acho que já está mais do que na hora de me abrir e mostrar que já superei, que passei por muitas situações difíceis e que sou forte agora.
Olhei para Miley que assentiu me incentivando e suspirei mais uma vez.
- Antes de nos mudarmos para a Inglaterra, Robert e eu fizemos um acordo – eu disse simplesmente sem saber direito por onde começar, essa história é tão longa.
- Hã? – Sel franziu o cenho.
- Eu me casaria se ele me deixasse apresentar Melannie ao Joe – tentei explicar.
- Hã? – ela repetiu.
- Espera, apresentar Melannie ao Joe é um direito, por que vocês fizeram um acordo? – Tay perguntou – Não estou entendendo nada.
- Começa do começo e para de tremer – Mi disse e só então eu percebi que minhas mãos estavam trêmulas sobre meu colo.
- Ok. – eu disse ajeitando minha postura, tomei um gole do suco de Mi e suspirei, recuperando minha segurança e firmeza – Vocês sabem que Robert e eu nos conhecemos no Brasil, namoramos por um tempo e nós três moramos juntos na Alemanha, mais especificamente na casa da família dele, certo?
- Mais ou menos. – Sel me olhou de um jeito estranho que se eu não estivesse tão tensa, poderia gargalhar – Mas da família dele? Na casa? Tipo, todo mundo junto? – gesticulou.
- Qual é a dificuldade em entender isso? – Tay riu franzindo o cenho pra ela.
- Ah, sei lá... Era tipo, tudo na mesma casa? – ela perguntou novamente e eu ri, conseguindo relaxar um pouco.
- Ai, chega Selena – Mi rolou os olhos abanando o ar.
- Continua Demi! – Tay disse com um meio sorriso.
- Bem, como eu dizia, morávamos na casa da família, mas a mãe dele não é muito minha fã e me dizia coisas nada bonitas por eu ser brasileira, mãe solteira, não ter contato com meu pai e etc... Por não ser a nora com quem ela sempre sonhou – gesticulei desanimando aos poucos e deixando meu olhar cair sobre a mesa.
- Que vaca! – Tay disse e eu ri fraco. Coitada da vaca.
- Poucas vezes me queixei com Robert, mas nessas vezes ele nunca me dera razão e sempre acabávamos discutindo, então para não afetar nosso relacionamento, passei a guardar alguns sentimentos para mim e ignorar minha querida sogra. – sorri amarelo – Eu não trabalhava, pois Robert não permitia e Melannie estudava em casa, nós quase não saiamos e eu sabia que isso não era nada bom e o primo de Robert...
- Que é muito bonito e totalmente diferente de Robert, diga-se de passagem. – Mi comentou fazendo as meninas rirem e eu sorri sem a real vontade de fazê-lo – Desculpe, pode continuar.
- Ele é um doce, também percebeu que não estávamos bem e me ajudou muito, acabou que nós nos aproximamos e Robert não gostou muito, na verdade ele nunca gostou que outro homem se aproximasse tanto de mim, mas implicar com o primo já era exagero! – eu disse coçando a nuca e sem olhar nenhuma delas nos olhos, abaixando cada vez mais o tom de voz, visivelmente incomodada com o assunto – Nós brigamos de novo, mas dessa vez foi diferente, pois ele me fez acusações doidas, gritou... E... É... – estalei a boca em frustração e suspirei olhando paraMi – Não dá.
- Ele ficou com ciúmes do próprio primo? – Tay disse.
- Acho que tem alguma coisa muito errada aqui – Sel começou – esse não é o perfil do
Robert, não consigo imaginá-lo assim...
- Continua Demi, você está indo bem – Mi disse.
- Não, chega Miley, – eu disse sentindo meus olhos arderem – não quero mais ficar me lembrando dessas coisas.
Fiz menção em me levantar, mas ela segurou meu pulso com mais força do que o necessário e eu não pude evitar que um gemido de dor escapasse. Mi franziu o cenho e mais que rápido puxou a manga de minha blusa para cima, revelando a marca dos dedos de Robert em meu pulso, ainda estava um pouco roxo e um tanto dolorido, o bastante para que o olhar de Mi borbulhasse em ódio.
- Aquele filho de uma... – disse entre os dentes – Ele te machucou, Demi!
- Ele te agrediu Demi? – ouvi Tay perguntar num tom baixíssimo.
- Tem certeza de que estamos falando do mesmo Robert? – Sel riu incrédula – Robert Callagham?
- Não é óbvio Selena? Ele é doente! – Mi disse tentando manter o tom de voz ainda segurando meu braço e me olhou – Demetria, como você ainda se atreve a dizer que ele está mudando?
Puxei meu braço de volta obrigando Miley a me soltar e olhei em volta, me levantando e certificando de que não estávamos falando muito alto e que ninguém estava prestando atenção em nós. Aos meus ouvidos, parecia que estávamos berrando uma com a outra, mas talvez fosse mesmo só impressão minha.
- É melhor assim – eu disse automaticamente.
Sem emoção, sem sentimento. Coisa que aprendi com o decorrer do tempo.
- Ninguém se machuca – completei com o olhar baixo arrumando a manga da blusa e pegando minha barrinha de chocolate sobre a mesa.
- Só você, não é? – ouvi Mi dizer, mas ignorei e dei as costas começando a andar.
Pode me acusar e dizer que fujo das pessoas, das conversas e dos sentimentos, eu já não me importo mais com nada disso. Aliás, eu já não me importo com muita coisa. Eu sabia, tinha certeza de que tinha pelo menos começado a superar, mas parece que não, porque nem sobre isso consigo falar. Talvez a verdade seja que eu não sou tão forte quando gostaria ser, talvez esse seja o meu limite.
Capítulo 18.
Mas, eu estou fazendo a coisa certa, não é?
Ok, eu já começava a ter minhas dúvidas.
Olhei em volta só então percebendo que tinha apertado o passo e começado a perambular sem destino algum pelos corredores brancos e um tanto silenciosos do hospital. Suspirei nervosamente esbarrando em algumas pessoas a procura da saída, eu precisava ficar um pouco sozinha e me sentir calma novamente... Precisava sair daquele lugar imediatamente. Apesar de não ter experiências muito boas em hospitais – assim como boa parte da população do planeta Terra –, o problema não era com o lugar, mas sim comigo. Até mesmo porque me acostumei com lugares como esse, eu estava sempre passando no médico por precaução. Não queria correr o risco de ter um aneurisma assim como minha mãe, já que hereditariedade faz parte do quadro de possíveis causas para a ocorrência do mesmo. Agora eu só precisava de ar puro, depois de seguir a indicação de algumas placas espalhadas pelos corredores, cheguei ao lado de fora do prédio. Respirei profundamente sentindo aquele ar frio bater contra meu rosto e me invadir, coloquei as mãos nos bolsos do moleton e suspirei mais uma vez.
Pronto Demi, vai ficar tudo bem, tudo na mais perfeita ordem.
Olhei para trás agradecendo aos céus por nenhuma das meninas ter vindo atrás de mim. Eu não queria voltar a encará-las ainda hoje, até mesmo porque Mi já devia estar contando tudo o que sabe a elas neste exato momento e isso não era nada bom para mim. Ela não perderia essa chance e eu não posso culpá-la. Mas eu também não podia ir embora dali, não depois de ter de certa forma me acertado com Joe, não podia fazer isso com ele ainda mais hoje por conta do resultado do exame e não podia, de jeito nenhum, fazer isso com Melannie. A quanto tempo ela anseia por isso?
Andei até um dos bancos de madeira que ficavam ali por perto e me sentei tentando não me preocupar com o último acontecimento, pois eu acreditava que Robert estava realmente mudando, mas de qualquer forma, agora eu acho que voltei a sentir medo.

- É sério, fazia tanto tempo que eu não me divertia assim... – eu ri.
- Robert tem que parar de ser um idiota e aproveitar o tempo dele com Melannie e você.
- Não, ele tem andado ocupado esses dias e um pouco estressado, não é nada demais – eu disse e ele balançou a cabeça negativamente enquanto andávamos lado a lado até a porta principal.
- Eu o conheço melhor do que você, acredite.
Silêncio.
- Eu estou quebrada – eu disse entre risos tentando mudar de assunto e ele sorriu.
- Quer que eu a leve?
- Não, pode deixar – eu disse ajeitando a minha filha entre meus braços.
Quando cruzamos a porta fomos recebidos no hall por minha sogra, que tirou Melannie de mim sem dizer uma só palavra ou me olhar. Uma coisa com a qual eu tive que me conformar, ela definitivamente não gostava de mim. E então ela apertou o passo subindo a grandiosa escada revestida por madeira maciça que levava até os quartos. Já estava tarde, então pensei em subir para o quarto também, mas apenas pensei, pois quando dei o primeiro passo Robert apareceu diante de mim.
- E ai, priminho querido? – Robert sorriu estranhamente para o primo que acabava de trancar a porta atrás de nós – Será que eu posso saber onde vocês estavam e o que fazendo?
- Tentando viver – seu primo disse se postando ao meu lado com um sorriso não muito diferente e brincando com o molho de chaves entre os dedos.
Silêncio. Eu franzi o cenho alternando o olhar entre os dois e segurei o suspiro.
- Ahm, eu estou cansada, vou sub... – tentei mais uma vez dar um passo a frente, mas Robert segurou meu braço.
- Não, eu ainda não disse que você pode subir – ele disse a última parte pausadamente desmanchando o sorriso cínico que até então moldava seus lábios.
- Robert, por favor, hoje eu não quero discutir com você – eu disse num tom exausto puxando meu braço para que ele me soltasse, mas Robert só fez apertar ainda mais seus dedos em volta do mesmo.
- Solta ela, cara – disse calmamente, mas Robert ignorou o primo sem desviar seu olhar do meu.
Estranhei o olhar de Robert, nunca o vira daquele jeito antes. Claro que já tivemos discussões horríveis das quais eu não queria nem pensar em tê-las mais uma vez, mas havia uma nuvem negra sobre seu olhar, aquela que não me deixava decifrá-lo e começava a me apavorar levando em conta o fato de ele estar praticamente estraçalhando meu braço.
- Por quê? Por acaso ela é sua noiva agora? – perguntou friamente.
- Robert, – eu disse quase num sussurro e engoli a seco tentando inutilmente me soltar dele – o que está acontecendo? O que há de errado com você?
- Solta ela! – repetiu puxando o braço de Robert para que ele me soltasse.
Senti rapidamente suas unhas curtas arranharem minha pele enquanto sua mão me soltava e fechava-se em punho, acertando o rosto do primo e logo em seguida a barriga. Eu me afastei perplexa, sentindo o ar dos meus próprios pulmões me abandonar. Mas que diabos está acontecendo? 

- Demi? – ouvi uma voz conhecida me chamar e levantei o olhar.
- Me deixa em paz, Miley – eu disse encarando um ponto qualquer a minha frente, me afundando sobre o banco de madeira sem postura alguma. Já estava vestida de qualquer jeito, quem vai ligar pelo modo como eu estava sentada? Eu que não.
- Qual é, Demetria? – ela disse se sentando ao meu lado e eu a ignorei comendo do meu chocolate – Você sabe que eu tinha que contar!
- Não, você não tinha, não devia e não tinha o direito – eu disse ofendia a olhando com o cenho franzido.
- Você não me deixa te ajudar... – ela começou e eu balancei a cabeça negativamente.
- É a minha vida, esqueceu? E eu não preciso de ajuda – eu disse, ela suspirou cruzando os braços.
- Ele já te bateu uma vez, te prendeu num quarto por semanas e te ameaçou, – ela disse num tom baixo e eu abaixei meu olhar – nada o impede de fazer tudo isso de novo! E nada do que eu fizer vai adiantar se você não der queixa ou confirmar minhas acusações.
- Eu não vou fazer isso, não é necessário.
- Ah, a doce defensiva... – ela disse sarcástica e eu ignorei – Eu adoro isso, sabia?
Tornei a olhar para frente prestando atenção no movimento da rua e perto da área do estacionamento e nós permanecemos em silêncio. Quando faltava só um pedacinho para o meu chocolate acabar eu o estendi para Mi.
- Quer? – perguntei simplesmente, sem olhá-la e ela o pegou de minha mão.
- Você foi e ainda é impecável com relação à Melannie... – a ouvi dizer.
- Mi, essa não foi uma deixa para que você voltasse a falar.
- Você planejou tudo isso nos mínimos detalhes – continuou – mapeou os passos de Joe, os lugares que frequenta, onde vive e por fim conseguiu o que queria! Conseguiu encontrá-lo para sua filha. Mas como pode cometer tantas falhas consigo mesma? É trágico.
Mais silêncio.
- Você só pensa nas coisas ruins, não pensa que Robert esteve comigo esse tempo todo, que me fez e ainda faz tudo por mim... – suspirei.
- Mas é exatamente por isso, Demi, essa coisa que acontece entre vocês é ruim demais, pesa mais do que as coisas boas – gesticulou – e esse “tudo” que faz por você é só aquilo que ele acha correto, é limitado.
“É limitado do jeito Robert de ser”. Eu sabia que ela queria e estava se segurando para não dizer isso, porque sabe muito bem que odeio quando o faz. Quando insinua que Robert só faz as coisas do modo dele, do modo que acha certo, do modo que em certos momentos eu não concordo. Mas mesmo assim eu acabava cedendo. Eu tinha que concordar.
- Como será o dia em que ele perder a cabeça e Melannie estiver por perto? O que você vai fazer?
- Eu sei que posso ajudá-lo. Ele pode melhorar.
- Não cabe a você.
- Eu sou a noiva dele.
- A noiva que não o ama verdadeiramente.
Suspirei mais uma vez.
- Por favor, não quero olhares de pena e preocupação pra cima de mim – eu disse me referindo a Selena e Taylor – Eu estou bem, não preciso de nenhum tipo ajuda.
- Tudo bem, eu falo com elas. Mas e quanto ao Joe? – perguntou.
- O que tem o Joe? – eu a encarei e ela arqueou as sobrancelhas.
- Você sabe... – rolou os olhos.
- Ele merece alguém melhor que eu – dei de ombros sem me esforçar em ser convincente.
- E Robert merece uma mulher que tenha um puta saco e que minta melhor do que você, sério! – ela sorriu e eu ri fraco.

- Onde está a minha filha? – perguntei já possessa, saindo da casa rumando de encontro a Robert, que mexia em alguma coisa no porta-malas do carro.
- Saiu com meus pais e a governanta – ele disse sem me olhar e eu bufei passando as mãos nervosamente pelo rosto.
- Quantas vezes eu tenho que dizer que não quero a minha filha fora dessa casa sem a minha permissão? Sem que eu saiba onde ela pode estar? – eu disse procurando me manter calma, odiava quando isso acontecia, odiava o modo como isso estava se tornando frequente e odiava, principalmente, o fato de ninguém me ouvir naquela maldita casa – Podiam pelo menos me avisar para que eu não ficasse tão preocupada! Essa casa vazia e enorme me dá nos nervos, nunca se sabe o que está acontecendo no quarto ao lado.
Robert permaneceu em silêncio mexendo em sei lá o que, não me dando atenção, o que definitivamente não me ajudava nem um pouco a me acalmar. Postei-me a seu lado a fim de ver o que ele estava fazendo, o vi colocar uma mala junto a outras três dentro do porta-malas e fechou o mesmo logo em seguida.
- De quem são essas malas? – franzi o cenho enquanto ele esfregava as mãos uma na outra e tornava a caminhar em direção a casa – Robert?
Entrei na casa logo atrás dele e o mesmo fechou a porta, ainda sem me olhar em momento algum.
- Ei, fale comigo! – eu disse procurando por seu olhar – Seus pais e a governanta saíram com Melannie, onde está o seu primo? São as malas dele que você...
- Por que diabos você quer saber, hein? – ele disse num tom agressivo finalmente me olhando nos olhos e eu me assustei dando um passo atrás – Quer se divertir me assistindo quebrar a cara dele mais uma vez como na semana passada aqui no hall? Mas no mesmo lugar, Demetria, tem certeza?
Ele sorriu de lado balançando a cabeça negativamente, sombriamente lembrando-me do dia em que pela primeira vez ele me olhou e sorriu daquela forma fria e assustadora que com mais um pouquinho de maldade em seu jeito, podia ser facilmente classificado como mórbido. Naquele dia eu fiquei completamente atônita, sem ação alguma quando ele deixou seu próprio primo caído no chão com o nariz e o supercílio sangrando. Soltei o ar lentamente tentando não causar ruídos e arrumei a postura me sentindo intimidada. Droga Demetria, você já conseguiu ser mais firme.
- El... – gaguejei e fechei os olhos fortemente por breves segundos me amaldiçoando mentalmente por isso – Ele está indo embora?
- Você quer ir também? – disse ainda usando aquele mesmo tom que começava a me ferver o sangue e deu um passo em minha direção franzindo o cenho.
- Por acaso eu deveria querer? – imitei seu gesto sem saber realmente com quem ou o que eu estava lidando.
- Eu não quero, não admito que ele fique aqui nem mais um dia e você, Demetria, deve é cumprir o seu papel de noiva e parar de sair por ai...
- Eu não acredito no que você está me dizendo! – franzi o cenho, incrédula – Fala como se eu fosse uma vadia que sai toda noite. Robert, você está ficando doente e eu louca por insistir em ficar aqui contigo! – eu disse balançando a cabeça negativamente e comecei a andar em direção a escada.
- Onde você está indo? – perguntou vindo atrás de mim, e eu percebi seu tom se alterar.
- Vou dar um jeito de voltar para casa – eu disse simplesmente e mais uma vez, antes que eu pudesse sequer chegar perto do primeiro degrau, ele segurou meu braço sem medir forças, me virando para si.
- Você não vai à lugar algum! – disse entre os dentes e me soltou, empurrando-me contra a parede.
- Esse seu ciúme idiota está passando dos limites! – eu disse me aproximando novamente, lutando contra a fraqueza que me tentava a deixar de segurar as lágrimas – EU NÃO QUERO TER QUE LIDAR COM ISSO!
Gritei e logo senti o lado esquerdo de meu rosto esquentar, a pulsação aumentar instantaneamente e parte de minha boca ser tomado por um gosto que agora me parecia muito mais amargo. Eu me vi encarando o chão, sem reação por conta do forte tapa que ele me deu. Levei uma de minhas mãos ao meu rosto, havia trilhas de lágrimas sobre minha bochecha, meu lábio inferior dolorido e também molhado, eu afastei a mão a fim de vê-la e havia sangue nela.
- VOCÊ NÃO VAI! – gritou e eu o olhei, ele encarou minha boca por alguns segundos e depois minha mão trêmula com seu olhar frio se desfazendo – E-Eu te machuquei...
- Não chega perto de mim – eu me afastei ainda atordoada assim que ele deu um passo à frente.
- Demetria, me desculpa. – pediu me puxando vagarosamente para perto de si apesar de minha relutância – Por favor, não tenha medo de mim. Venha, eu vou cuidar de você.
Então ele começou a andar ainda comigo entre seus braços, forçando-me a acompanhar seu passo. Eu não sabia o que fazer ou o que pensar, ainda estava confusa com o que aconteceu e com medo de tentar me desvencilhar e ele acabar me machucando mais uma vez. Robert me levou para uma das suítes que ficavam ainda no térreo para os hospedes e me sentou sobre a cama.
- Eu já volto – ele disse tentando alcançar meu rosto, mas eu me esquivei.
Ainda com o olhar baixo, apenas assisti seus pés se movimentarem até a porta e assim que ele sumiu, eu curvei meu corpo para frente apoiando os cotovelos sobre os joelhos e levei as mãos ao meu rosto molhado. Por que, meu Deus, Robert estava agindo daquela forma? O que havia acontecido com o meu noivo afinal? E eu que achava que agora tudo daria certo... Doce ilusão.
Logo ele voltou e me estendeu uma bolsa de gelo, eu o olhei brevemente, mas pude perceber que sua expressão dura havia o deixado. Peguei a bolsa evitando qualquer tipo de contato físico com ele, nem que fosse o mínimo, e a levei até a parte atingida sem poder evitar que um muxoxo escapasse por entre meus lábios sentindo o olhar de Robert sobre mim. Ele soltou um suspiro pesado e passou a andar de um lado para o outro, inquieto.
- Desculpe-me, ok? Desculpe, – ele disse num tom baixo – eu não queria te machucar.
“Desculpas agora não vão aliviar a minha dor”, pensei em dizer e mesmo querendo muito, não o fiz. Eu sabia que isso não ajudaria em nada.
- E me desculpe por isso também – ele disse e eu o olhei imediatamente.
- O que você vai fazer? – perguntei tirando a bolsa de gelo do rosto, a deixando de lado e me levantei ao vê-lo se afastar em passos largos, o segui, mas ele fechou a porta e eu pude ouvi-la se trancar pelo lado de fora – Robert, abre essa porta!
Levei as mãos à maçaneta e tentei forçá-la a se abrir mesmo sabendo que era inútil. Depois de perder minhas forças chutando e batendo várias vezes contra a porta sem ter nenhuma resposta, eu soltei um suspiro entrecortado e exausto, encostei minhas costas contra a porta me deixando deslizar de encontro ao chão e abracei minhas pernas contra o peito. Chega de segurar o choro.
- Você não pode me deixar Demetria, – o ouvi dizer – não pode. 

Puxei a maior quantidade de ar possível e me levantei. Era como se tivesse mergulhado naquela terrível imensidão que eram essas lembranças, eu já estava me sentindo mal.
- Quero ir pra casa, Miley. Agora – eu disse olhando em volta, um pouco perdida.
- Opa, calma! – Miley disse postando-se a minha frente com o cenho franzido, tentou tocar meus ombros, mas eu me esquivei – Ei, nós já vamos embora.
Mordi os lábios sentindo um nó se formar em minha garganta e meus olhos arderem, levei as mãos aos mesmos. Definitivamente, lembranças não deviam causar tanto impacto.
- Soaria ridículo se eu dissesse que quero a minha mãe?
- Ai Demi, claro que não. – ela disse me abraçando e eu soltei um suspiro falho – Fique calma, pense que hoje é um dia importante para Melannie... Não é só ela quem realmente importa?
- Sim – eu disse me desvencilhando de seus braços, a encarei e funguei colocando uma mecha do cabelo atrás da orelha.
- Desculpe, mas depois você vai me agradecer muito por isso – ela disse dando um meio sorriso.
- Miley, eu não sou a mocinha indefesa que precisa ser salva.
- Então pare de agir como uma! – ela retrucou, eu estalei a boca rumando para dentro do hospital e ela veio atrás – Quer saber? Eu cansei desse assunto.
- Pois é, eu também – eu disse vendo-a ficar ao meu lado, acompanhando meu passo.
- Você é muito teimosa e cabeça dura, porque fica dando murro em ponta de faca. – ela disse e eu rolei os olhos – Mas tudo bem, agora que você não quer falar sobre isso, então me conta logo como foi a sua noite com o Jonas.
- Você só pode estar brincando comigo – eu ri parando de andar, mas sabia que ela só estava fazendo isso para me distrair.
- Vai me dizer que ele não tentou fazer alguma coisa? – disse sugestiva e eu ri mais uma vez.
- Mi! – a repreendi – Também não quero falar sobre isso.
- Ah, não quer falar do noivo idiota e nem do namoradinho, pai da filha... – gesticulou exageradamente – Está difícil hoje, hein? Quer falar sobre o que?
- Sei lá, – dei de ombros – por que não falamos sobre o Liam?
- Liam, Demetria, quem é Liam? – disse com um ar de deboche.
- O cara que foi ao seu apartamento ontem. – eu disse num tom divertido passando um dos braços sobre seus ombros enquanto tornávamos a andar – E levou doces, ele não é um amorzinho de pessoa?
- É um idiota! – ela disse cruzando os braços.
- Eu vou rir tanto quando você tiver que admitir que gosta dele.
- Eu não gosto dele! – disse num tom agudo que me fez rir – Olha aqui, sou eu quem vai rir muito, gargalhar de rolar no chão, quando você tiver que admitir que ama o cara que está tomando soro nesse exato momento e eu vou esfregar isso na sua cara pelo resto da sua vida.
- Joe está tomando soro? Por quê? – perguntei e ela sorriu esperta.
- Admitiu! – ela riu – Nossa, foi bem mais fácil do que eu imaginei.
- Joe está tomando soro? – repeti ignorando toda a sua felicidade.
- É, ele foi encaminhado para outro andar, precisava de uma boa hidratação e o médico também receitou alguns analgéticos – explicou – Mais um pouco e ele teria inflamação dos brônquios.
- E a febre?
- Era apenas o corpo reagindo – deu de ombros.
- Menos mal – eu disse distraída, agradecendo mentalmente por Joe ter me ouvido e ter passado no médico. Ele sempre odiou essas coisas.
Segui Mi cruzando com algumas pessoas pelos corredores até uma sala de espera diferente da outra em que estávamos antes. Diferente apenas por ser em outro andar, pois os móveis, as cores e até os objetos de decoração pareciam os mesmos. Mi ficou em pé de braços cruzados próxima a uma das portas que havia ali, a qual eu deduzi ser a sala em que Joe estava e eu me sentei de frente a ela em uma das poltronas verdes. Fechei os olhos por longos minutos e logo que os abri, duas pessoas se sentaram nas outras, uma de cada lado.
- Tudo bem você achar que ele pode mudar e melhorar – Sel disse.
- Sim, tudo bem, apesar de eu achar isso tudo muito errado e espero que fique bem claro a minha opinião sobre! –Tay disse ao meu lado – Mas nós estaremos aqui por Melannie e você para apoiar suas decisões e ajudar no que for preciso.
- E nem pense em esconder coisas de nós outra vez – Sel comprimiu os olhos para mim e eu dei um meio sorriso – principalmente se... Bem, você sabe, se ele passar dos limites.
- Obrigada – suspirei e as duas entrelaçavam seus braços aos meus, uma de cada lado.
- Vem cá, Mi, meu amor – Sel a chamou dando dois tapainhas na perna e eu ri enquanto as elas começavam uma conversa idiota e Tay encostava a cabeça em meu ombro.
- Para que dê certo, cunhada, você tem que admitir para si mesma. – Tay disse em um tom baixo para que apenas eu ouvisse e automaticamente senti meus músculos se tencionarem sob minha pele, já tendo uma ideia do que ela me diria – Admita que ama o Joe e está com Robert por pena.

- Não está mais tão ruim – ele disse segurando meu queixo e eu afastei sua mão de mim, me arrastando para sentar do outro lado da cama e manter uma distância segura.
- Onde está Melannie? – perguntei puxando as cobertas para mais perto. Fazia alguns dias que eu estava trancada naquele maldito quarto, a única coisa que eu queria desesperadamente naquele momento era vê-la.
- Você não vai tomar do café que eu te trouxe? – perguntou indicando a bandeja a sua frente sobre a cama. Ela me parecia convidativa, mas decidi que não iria comer enquanto permanecesse trancada ali.
- Não. Eu quero ver a minha filha. Agora.
- Você não precisa agir dessa forma comigo...
- O que você fez com ela? – perguntei com cautela mesmo sentindo um medo crescente, mas tentando parecer estável. Não adiantava me desesperar.
- Demetria... – ele começou se sentando na beirada da cama.
- Eu só quero saber sobre a minha filha – eu o interrompi.
- Ela está bem! – disse enfim – Eu não faria mal nenhum a ela, não é ela quem vem me decepcionando.
- E sou eu quem está? Você é inacreditável. – eu ri incrédula – Por que não me deixa mofar aqui sozinha?
- Demetria, eu estou tentando me entender contigo...
- Ah, então tudo bem você me bater de vez em quando? – o interrompi rindo sarcasticamente, Robert manteve o olhar baixo e maxilar tenso, eu sabia que ele não estava gostando de minha atitude, mas eu já havia explodido – Não, Robert, não tente se entender comigo! Faça logo o que você faz de melhor, me trate como lixo, afinal pra que pedir desculpas já que sou eu quem sai todas as noites agin...
- CALA A BOCA! – ele gritou jogando a bandeja contra a parede e se virou rapidamente para mim, prendendo meu pescoço entre a cabeceira da cama e uma de suas mãos, pressionando fortemente contra minha garganta – Amor, você tem que parar com isso.
- Solta – balbuciei.
Tentei puxar a maior quantidade de ar, mas era simplesmente impossível. Agarrei, cravei minhas unhas em seu braço implorando que me soltasse, Robert balançou a cabeça negativamente e passou a mão livre pelo meu rosto. Se eu já não estivesse imaginando coisas, poderia jurar que seus olhos ficaram gradativamente avermelhados.
- Eu já disse que não queria ter que te machucar. – ele disse – Não chore, meu amor, apenas prometa que será uma boa noiva, que não vai me deixar e então nós nos resolveremos. 

- Eu acho que vou embora. – Mi, que estava sentada no colo de Sel jogou todo o seu peso sobre a mesma – Joe está demorando demais e eu já sei o resultado desse exame mesmo.
- Não, a Melannie vai gostar de te ter por perto – eu disse e ela concordou dando de ombros.
- Ah, é hoje que vocês pegam o resultado? – Sel perguntou e eu assenti – Posso ir junto?
- Claro.
- Meu carro ficou em frente ao prédio do Joe, terei que voltar lá pra buscar – ela disse pensativa e nós rimos.
- Que burra! – Tay disse entre risos sentando-se corretamente – Eu vou também. Você me trouxe, você me leva.
- Já vi que ninguém vai trabalhar hoje, não é? – Mi perguntou e nós quatro nos entreolhamos.
- Até parece.
- Nem morta!
- Eu ia, mas depois dessa animação toda de vocês já até desisti – eu disse e elas riram.
- Seria tudo muito mais fácil se nós também formássemos uma banda, não é? Mas teríamos que ser mais criativas do que os meninos e não colocar o nome de alguma coisa que faça parte do cardápio do McDonald’s – Mi disse e nós tivemos que segurar para não rir alto.
- É por causa do filme, palhaça – Sel lhe deu um peteleco.
Elas sabem me distrair e descontrair muito bem. Menos de cinco minutos e aquela conversa boba já tinha me deixado muito mais leve. Com algumas indagações, mas nada em que eu não pudesse parar para pensar melhor mais tarde, agora eu estava me divertindo na sala de espera de um hospital. Quem diria?
Depois de mais um tempinho de espera com Mi falando besteiras, Joe saiu da sala com um aspecto mais saudável por não estar mais tão pálido, e uma cara de sono. Não é à toa, já que tomar soro derruba qualquer um.
- Então elas também vão? – ele perguntou em meio a um bocejo quando já estávamos do lado de fora do hospital e eu assenti.
Estávamos sentados lado a lado naquele mesmo banco em que eu estive minutos antes com Miley, que conversava com Tay em pé um pouco mais a frente na calçada, enquanto esperávamos por Sel que foi buscar o carro.
- A Mi me falou sobre uns analgéticos... – eu disse.
- Eu peguei a receita – disse puxando do bolso um papel que deve ter sido dobrado pelo menos cinco vezes até chegar àquele tamanho, e depois piscou o colocando no lugar.
Eu gostava daqueles olhos castanhos.
- E pode deixar, tomarei tudo diretinho, – tornou a dizer – não gostei de vir ao hospital.
- Ninguém mandou não se cuidar depois daquela chuva – eu arqueei as sobrancelhas e ele sorriu de lado.
Droga, eu também gostava daquele sorriso.
- Não gostei nem um pouco de ficar doente, mas quando me lembro daquela noite... – ele disse se acomodando melhor sobre o banco, cruzou os braços encostando a cabeça na parede atrás de si e fechou os olhos – Eu já não me importo mais.
Continuei a encará-lo sentindo minhas bochechas em chamas. Poxa, Joe! Você bem que podia me mandar ir passear, não é? Facilitaria muito pra mim, mas não, você tem que ser esse cara que qualquer mulher quer ter a seu lado, que não desiste, que demonstra... Que está me deixando confusa e me fazendo pensar seriamente sobre minhas decisões. E aqui estou eu mais uma vez, me sentindo uma completa idiota.
- Demi? – Mi me chamou indicando o carro que já estava parado a frente da porta do hospital.
Toquei o ombro de Joe que abriu os olhos preguiçosamente e se levantou. Ele abriu a porta do banco de trás e fez uma reverência engraçada e exagerada para que Mi e eu entrássemos e assim o fizemos, se sentou ao meu lado eTaylor foi no banco da frente.
- Já vou logo avisando que tem um monte de paparazzi lá fora, equipados até o pescoço, de carro e tudo mais – Sel disse se virando e olhando de Joe para mim.
- Sério? Quem será o famoso que está aqui? – Mi brincou olhando pela janela e Joe riu.
- Por mim tudo bem – ele deu de ombros e depois todos olharam para mim.
- Tudo bem – dei de ombros.
Tudo bem, não é? Fazer o que?
- Então vamos logo, estou ansioso – ele disse esfregando as mãos uma na outra e nós rimos.
Sel tornou a posição correta e deu a partida. Ainda um tanto insegura, levei uma das mãos à nuca e suspirei. Paparazzi já me trouxeram alguns problemas antes, mas não posso adiar o inevitável, essa nunca é a melhor opção. Fora que se Joe estava ansioso, Melannie devia estar uma pilha de nervos para ter oficialmente um pai, e confesso que eu também estava ansiosa para ter esse laudo em minhas mãos o quanto antes.
Pegamos Melannie no colégio e ela entrou no carro toda empolgada ao ver que as meninas também estavam ali. Beijou meu rosto e sentou-se no colo da tia perguntando por que Joe estava tão quieto. Ele estava com um cotovelo apoiado na porta e a mão cobrindo os olhos, e ela riu quando expliquei o que havia acontecido. Estava cochilando, coitado. Mas quando sugeri que o levássemos para casa ou sei lá, ele acordou na hora e se recusou dizendo que queria ir até a clínica, então eu tive que concordar dando o endereço e as coordenadas para chegar à clínica paraSel, que só não foi mais rápida por causa do engarrafamento daquele horário. Demoramos mais do que o normal, mas enfim chegamos.
- Joe, – eu o balancei pelos ombros enquanto as meninas já saltavam do carro – acorda! Nós já chegamos.
- Já? – perguntou depois de um tempo me olhando com os olhos miúdos e eu assenti.
Joe se ajeitou sem demoras, nós também saltamos do carro e assim que ele viu Melannie abriu um sorriso, foi de encontro a ela, que sorriu da mesma forma. Entramos na clínica e logo fomos falar com a moça no balcão.
- Que demora, hein? – ouvi uma voz conhecida atrás de mim e ri ao me virar e ver Liam, Justin e Liam ali parados à minha frente.
- Amor! – Tay sorriu largamente e abraçou o namorado – O que vocês estão fazendo aqui?
- O Justin chamou a gente.
- Justin Bieber, seu linguarudo! – Sel o repreendeu com um tapinha no braço – Eu liguei para só você vir, por acaso você sabe se a “nova família Jonas” queria a tropa McFLY inteira aqui? – ela disse nos indicando e eu levei uma das mãos à boca, rindo.
- Ei, nós conhecemos a Demi antes, temos mais direitos do que você – Liam disse apontando o dedo para ela, que fez cara feia.
- Pois é, e se teremos um novo membro na família, nós devemos estar aqui para assistir a esse momento glorioso –Justin disse cheio de pose.
- Está querendo impressionar que falando desse jeito? – Miley debochou fazendo todos rirem. Ela está toda engraçadinha hoje, não acha?
Olhei para Melannie com as sobrancelhas arqueadas e ela levantou levemente um dos ombros com um sorriso divertido moldando seus lábios. Ela sabia o que eu queria dizer.
- Podem ficar, não tem problema algum. – eu disse os olhando brevemente e voltei a atenção à moça que nos atenderia – Ahm, viemos pegar o laudo do exame.
- Nomes, por favor.
- Joe Jonas e Melannie Lovato – eu disse e ela digitou no computador.
- Srta. Demetria Lovato? – ela me olhou.
- Sim.
- Eu preciso dos documentos dos dois, por favor – ela disse e depois de entregarmos os documentos, mexeu em mais não sei o que no computador e nos devolveu os mesmos se levantando logo em seguida com um sorriso cordial no rosto.
- Os senhores podem me acompanhar? – perguntou e eu assenti levemente.
Todos nós passamos a segui-la até um escritório de piso de madeira escuro e paredes brancas cobertas por quadros cubistas coloridos. Havia uma mesa de vidro com um notebook sobre a mesma, alguns papéis, canetas e porta retratos. Frente à mesa tinha apenas duas cadeiras onde Joe e eu nos sentamos. E eu com Melannie em meu colo.
- Só um minuto, ok? O doutor já virá atende-los e fazer alguns esclarecimentos sobre o resultado – ela disse e deu um último aceno de cabeça e deixou a sala.
Melannie alisava a ponta de uma mecha de seu cabelo repetidamente, Joe balançava a perna na mesma medida e eu podia sentir os olhares dos outros pesarem sobre minhas costas. Eu já estava ficando aflita com isso, com essa tensão pela espera. Imagine essa mesma sensação por sete anos.
- Ela é gostosa – ouvi Liam dizer atrás de nós e gargalhamos.
- Boa tarde! – um moço de roupa social branca disse entrando na sala envelopes em mãos e fechou a porta atrás de si – Nossa, quanta gente – comentou sorrindo, sentando-se e eu soltei uma risada contida.
- É a família, doutor – Liam se manifestou mais uma vez fazendo todos rir.
- Ótimo, ótimo... – ele riu – Eu sou o doutor Ward. Tudo bem com os senhores?
- Aham – Joe e eu murmuramos em uníssono.
- Bem, Demetria e Joe, vamos ao que importa? Esses ficam com vocês. – ele sorriu nos estendendo os envelopes, puxou uma caneta e outro papel, colocando-o sobre a mesa, de modo que pudéssemos vê-lo – Seremos práticos, ok? Este é um exemplo do laudo que cada um dos senhores tem nesses envelopes, essas primeiras páginas – ele começou as folheando – são descrições mais detalhadas sobre processo de análise das informações genéticas e etc. Na página cinco, exatamente aqui – e circulou com a caneta em certa altura da página um número já em negrito – está descrito em porcentagem o resultado, no caso, se o senhor Joe Jonas é mesmo o pai de Melannie Lovato.
- Erm... E já pode abrir? – Joe perguntou.
- Se preferirem. – o doutor gesticulou – Seria bom, pois se tiverem alguma dúvida em relação ao laudo, ela já pode ser esclarecida agora mesmo.
Joe olhou para o envelope em mãos, ameaçou abri-lo, mas tornou a olhar para o moço a nossa frente.
- O que tem nesse envelope é o mesmo que tem no da Demi, não é? – perguntou.
- Sim, são duas vias do documento original que fica aqui na clínica.
E então olhou novamente para o envelope, para o doutor, para Melannie, para o envelope mais uma vez e depois para mim.
- Abre o seu primeiro – pediu sorrindo sem jeito.
Eu ri fraco dando atenção ao lacre do envelope, o tirei e puxei as folhas para fora do mesmo. Folheei até a página quatro assim como o doutor havia explicado as segurando com uma das mãos e senti a outra ser envolvida carinhosamente por uma mão grande, quente e até um pouco suada.

Há quantos dias eu estava ali? Fazia semanas, talvez. Eu já não tinha ideia, não comia direito e em todo esse tempo não pude ver Melannie, o que era pior do que qualquer outro castigo. Não se tem muitas coisas para fazer quando se está trancada em um quarto, a não ser olhar para o teto e pensar em uma forma como sair de dali. Eu havia entendido, mas não queria acreditar que tínhamos chegado a esse ponto. O segredo era a submissão e não adiantava travar qualquer briga entre nós, eu acabaria perdendo por ser mais fraca fisicamente e ele tão desequilibrado emocionalmente. Toda vez que bati de frente com ele, fui eu quem saiu machucada.
Pela primeira vez naquele dia eu ouvi a porta ser destrancada pelo lado de fora, me sentei sobre a cama colocando as pernas em volta do corpo e respirei profundamente. A governanta com o nome que eu nunca consegui pronunciar muito bem e menos ainda entender o que dizia, entrou no cômodo com a conhecida bandeja de café da manhã e a colocou a minha frente sobre a cama. Ela deu um leve aceno de cabeça parando seu olhar em meu pescoço e deu as costas saindo rapidamente pela porta. Se ela sabia o que estava acontecendo? Eu não tinha dúvidas. Era ela quem trocava as roupas de cama, me trazia as refeições que eu quase não comia e trazia também as roupas limpas que agora já não serviam em mim, pois eu havia emagrecido. Mas todos naquela casa deviam saber. Eu apenas torcia para que Melannie não soubesse.
Justinei um pouco do suco de laranja que estava na bandeja e vi Robert entrar. Ele fechou a porta atrás de si e se aproximou cruzando os braços.
- Como está se sentindo? – perguntou e eu o olhei dando um sorriso fraco.
- Estou bem.
- Acho melhor você comer alguma coisa.
- Eu vou – eu disse entre um suspiro e tornei minha atenção a minha bandeja.
Passei manteiga em uma das torradas que havia ali e a comi calmamente, eu já estava um pouco fraca devido aos dias sem me alimentar corretamente. E alguma coisa me dizia que todo aquele café da manhã não saciaria minha fome, mas mesmo assim eu não conseguiria comer. Robert se sentou a beirada da cama e eu o olhei de canto de olho, ele me parecia calmo.
- Eu estive pensando, – suspirou – quando se sentir melhor, você pode voltar a trabalhar.
- Ahm... As coisas não são assim, nada será mais o mesmo.
Breve silêncio.
- Eu pedi desculpas, Demetria.
- Robert...
- Por favor, – ele começou ajoelhando-se no chão ao meu lado – me diga o que mais eu posso fazer para te provar que me arrependo de tudo de ruim que te fiz?
- Eu estou com medo Robert, não te reconheço mais. – eu disse num tom baixo e ele suspirou pesadamente.
- E então você quer ir embora, é isso o que você está querendo dizer?
Mais silêncio.
- Eu não vou te deixar ir. Você não pode, eu preciso de você aqui comigo.
Engoli a seco mexendo no anel de noivado em meu dedo e ele segurou minhas mãos.
- Eu sinto muito, sei que passei dos limites, – ele disse com a voz um pouco trêmula me olhando nos olhos – mas eu vou mudar se você ficar e faço tudo o que você pedir, qualquer coisa. Você quer trabalhar, que Melannie estude numa escola? Tudo bem, eu concordo com tudo.
- Qualquer coisa que eu quiser? – perguntei num fio de voz.
- Sim, qualquer coisa – disse por fim e eu pigarreei.
- Eu quero poder tomar as minhas próprias decisões, não quero que você me prenda – eu disse ainda tentando manter a voz firme – Nós estávamos bem, Robert, você mudou de repente.
- Eu juro que vou melhorar, apenas me dê uma chance para te provar isso – ele disse e eu suspirei pesadamente.
Eu tinha um sentimento forte por Robert, se eu não gostasse dele e se ele não fosse bom comigo e Melannie, eu não teria entrado naquele avião para morarmos todos juntos aqui na Alemanha. Também tinha plena consciência de que não podia dizer seguramente que o amava. Eu já amei antes e aquele sentimento era totalmente diferente do que eu senti antes mesmo de Melannie nascer. Mas Robert esteve comigo esse tempo todo e me ajudou em muitas coisas. Eu reconheci o Robert de alguns anos atrás, aquele homem gentil e carinhoso que me tratava como se eu fosse a pessoa mais importante de sua vida, ele estava agora ajoelhado a minha frente pedindo para que eu ficasse. Eu não podia simplesmente deixá-lo para trás dessa forma, podia?
- Nós podemos tentar. – eu disse ainda em dúvida e ele deixou que um meio sorriso brotasse em seus lábios – Mas tem uma coisa que eu preciso te pedir e nós vamos fazer isso juntos.
- Qualquer coisa – disse e eu senti um pouco de ansiedade em seu tom.
- Lembra-se de quanto eu lhe contei sobre Joe Jonas? – perguntei e ele assentiu – É isso o que eu quero, quero acertar as minhas... Pendências com ele.
- E nosso noivado continua, certo?
- Acha que podemos fazer isso? – insisti e o vi sorrir verdadeiramente.
- Eu posso fazer tudo por você – ele disse e depois de um tempo eu assenti.
- Então tudo bem – eu disse e Robert me abraçou suavemente.
- Eu te amo tanto! – e beijou meu ombro – Você faz a sua parte, eu faço a minha e vai dar tudo certo! Você não vai se arrepender, eu prometo. 

- Eu queria que você fosse o meu pai.
- Queria? Não quer mais?

#Demetria’s POV End

Capítulo 19. Pausa dramática, por favor

Cos I can tell you right now that you’ll never find evidence on me, that’s the truth…
Oh, oh, oh…
Yeah, that’s the truth…
Oh, oh, oh, oh…
- Perfeito! – Liam gritou jogando as mãos para o alto com um sorriso enorme no rosto em meio aos nossos próprios assovios e palmas no final de mais uma música.
- Qual o próximo destino? Paradas de sucesso! – Liam disse entre risos e bateu na mão de Justin num high Five.
- Então terminamos por aqui? – perguntei olhando para o meu relógio de pulso e deixando meu instrumento.
- Ahm, mais ou menos – Justin disse e eu o olhei com o cenho franzido.
- Como assim mais ou menos? – perguntei me aproximando deles – Cara, eu tenho que ir...
- Temos que passar algumas músicas ainda... Sinto muito informar, mas nem todas estão perfeitas – ele explicou – e o Dallas disse que talvez passasse por aqui mais tarde.
- Talvez! O que mostra que ele não deu certeza. – gesticulei sorrindo esperto e ele comprimiu os olhos para mim – Qual é, Bieber? Quebra essa para o seu melhor amigo.
- Mas ele disse que tem uma coisa muito importante para nos dizer – ele insistiu e eu juntei as mãos em sinal de súplica.
- Por favor...
- Aonde você vai? – Liam perguntou.
- Combinei com a Demi que buscaria a minha filha no colégio hoje – dei de ombros sorrindo de lado e eles riram.
Minha filha. Não estava sendo difícil me acostumar a chamar Melannie dessa forma, o difícil era conseguir tirar o sorriso do rosto depois que o fazia. Agora sim, sou oficialmente o pai de Melannie... Melannie Jonas? Melannie Jonas. É, bonito! Eu ri dos meus pensamentos idiotas cruzando os braços e Liam apertou minha bochecha.
- Anw, que bonitinho, ele está todo feliz porque o exame deu positivo – ele disse entre risos.
- Qual é, cara? Aquilo só não daria positivo se alguém trocasse os exames – Liam rolou os olhos.
- Isso pode acontecer – ele arqueou as sobrancelhas.
- Claro que pode... – ele disse irônico – Na novela que você assiste toda noite.
- Aquela novela é muito realista, ok?
- A conversa está muito boa, – sorri sem mostrar os dentes e coloquei uma das mãos sobre o ombro de Justin – mas eu vou nessa!
- Joe! – ele protestou.
- Bieber, eu acho que neste caso ele só não pode, mas como deve ir – ele disse para Justin dando ênfase a suas últimas palavras.
- Então agora você o defende? – ele perguntou o olhando irônico com as sobrancelhas arqueadas e nós rimos – Viraram amiguinhas novamente?
- Ciúmes? – Liam perguntou passando um dos braços sobre os ombros de Justin, que rolou os olhos.
- Claro que estou com ciúmes, em todos esses anos era eu quem o defendia. – ele disse entre um suspiro – Mas vai,Joe, aproveite muito e divirta-se! – disse num tom exausto e eu alarguei meu sorriso.
- Por isso que eu te amo – eu disse segurando seu rosto entre minhas mãos com força, já que ele tentou fugir e lhe dei um beijo estalado no rosto.
- Sai fora, Joe! – ele me empurrou rindo e eu fiz bico – Seu gay!
- Na verdade, eu estou orgulhoso dele – Liam tornou a falar e arqueou as sobrancelhas para Justin – Joe, costuma ser muito frouxo.
- Hã?
- É verdade, cara – Justin concordou e eu franzi o cenho – Você é meio mole...
- Principalmente com mulheres – Liam disse e eu abri a boca em incredulidade.
- Eu não sou assim!
- É sim, você nunca faz o que realmente quer – Justin gesticulou.
- Ah, foda-se! Isso não é verdade e eu tenho que ir. E não se esqueçam – eu disse apontando para cada um deles – do encontro de ex-alunos.
- Sério, nós temos que ir mesmo? – Liam choramingou.
- A gente prometeu... – Justin deu de ombros.
- E você sabe o quanto vale uma promessa para a Demi. – Liam completou e todos olharam para mim.
Eu, mais do que ninguém, sabia o quanto valia uma promessa para ela. Então apenas me limitei a sorrir forçadamente, mostrar o dedo do meio a eles e rumar em direção à porta. Qual é a deles hoje?
- Ei, Joe – Liam chamou e eu me virei – Se você encontrar a Miley pede pra ela me ligar?
- Ih... Já está assim, é? – Liam debochou – E eu achando que você não conseguiria nada com ela...
- Só estou a ajudando – se defendeu.
- Anw, que bonitinho, ele está querendo sair da área da amizade – Justin apertou as bochechas dele e eu ri.
- Não é nada disso do que você está pensando – Liam rolou os olhos afastando-se das mãos dele.
- Acredite, estou pensando muitas coisas – ele disse entre risos – mesmo que eu não queira saber, a Selena me conta tudo.
- Beleza, pode deixar, Liam! – me apressei em dizer para não prolongar o assunto e tornei a caminhar até a porta do estúdio – Depois eu falo com vocês. Até mais, vadias.
- Tchau – os ouvi dizer em uníssono antes de fechar a porta.
Chequei o relógio mais uma vez e sai da casa de Liam fechando o zíper da blusa até o pescoço assim que senti uma lufada de vento atingir meu peito, rosto e o ar frio preencher meus pulmões. Eu já havia me decidido: Não ficaria doente tão cedo, ou nunca, caso seja possível. Ainda assim, agradeci mentalmente aos céus por não estar tão frio quanto hoje mais cedo.
Já disse que estou animado? Estou me sentindo estranhamente bem, eufórico e até um pouco ansioso. Claro,Demetria e Melannie eram a causa de tudo isso. Nunca pensei que ficaria tão feliz ao ver que um exame de DNA meu teria o resultado positivo, pois pense, eu já fiquei com muitas garotas. Muitas. E antes que Demi reaparecesse, a ideia de ter um filho com qualquer uma delas era completamente assustadora!
Naquele dia, depois de passar no médico, eu podia estar morrendo de sono, mas tudo em que eu conseguia pensar era no resultado do exame. Estava nervoso e minhas mãos suavam mesmo que eu tivesse certeza de qual seria o resultado. Confesso que no primeiro momento, quando li o laudo, fiquei sem ação, mas foi muito mais fácil e confortável com todo mundo dentro da sala e Liam, que contou uma piadinha idiota pra quebrar o silêncio, fazendo com que todos rissem. Eu estava feliz por Demi ter aparecido em meu apartamento, por ter cuidado de mim enquanto eu estava doente, ter passado aquela noite comigo; Mas a cima de tudo por ter trazido Melannie para mim. Não sei muito bem o que aconteceu com elas antes disso, por onde ou pelo o que passaram, mas agora tudo parecia muito mais... Simples, fácil e que o meu querer de tê-las junto a mim não era mais tão inatingível.
Estacionei o carro e logo saltei do mesmo, com o passo apertado cheguei à porta principal da grande casa amarela já tocando a campainha. Pensei em ficar segurando o botão até que alguém me atendesse, mas lembrei de Demi dizendo o quanto isso era irritante... Mas vontade de provoca-la de vez em quando não me faltava. Esperei por poucos segundos e quando a porta se abriu eu fui obrigado a segurar meu queixo para que ele não fosse de encontro ao chão. Cara, pense em uma mulher gostosa... Certo, essazinha ai que você imaginou não chega nem aos pés descalços de Demetria. Sim, ela estava descalça, vestindo uma roupa muito sexy e com os cabelos presos em uma trança que caia sobre um dos ombros.
-... Eu já estou com toda a papelada aqui. – enquanto falava ao telefone, ela sorriu para mim gesticulando para que eu entrasse e assim o fiz – Tudo bem, sem problemas, mas também diga a ele que isso não consta em nenhum de nossos registros.
Demi disse calmamente fechando a porta atrás de nós e postou uma de suas mãos em meu ombro, guiando-me até o centro da sala e depois se afastou, seguindo até o outro lado da mesa de vidro – que, mais uma vez, tinha em sua superfície vários papéis espalhados – de modo que ficasse de frente para mim.
- Quer saber? Deixe que eu resolvo isso. Chego ai em meia-hora – disse num tom exausto e levou a mão à nuca descoberta soltando uma risada contida e me olhou com um sorriso no canto dos lábios – Sim, sem almoço hoje, a minha pequena tem outros planos... Ok, beijos e até daqui a pouco.
- Muito trabalho? – perguntei assim que ela deixou o celular de lado.
- Apenas as coisas de sempre para resolver – deu de ombros tornando o olhar para os papéis na mesa, os organizando.
- Hm... – murmurei sem conseguir evitar que meus olhos percorressem por toda a extensão de seu corpo coberto apenas por aquela roupa que o modelava tão perfeitamente. Cocei o pescoço e pigarreei – Você está bonita hoje.
- Obrigada... – disse um pouco distante, absorta no que tinha nos papéis a sua frente.
Após alguns segundos Demi juntou todas as folhas, empilhando-as e levou a mão à boca passando o polegar na língua. Começou a contar as folhas num tom quase inaudível e quando terminou, abaixou-se rapidamente trazendo consigo uma pasta de couro azul que antes estava no chão e mordeu o lábio inferior abrindo o zíper lateral da mesma, colocando as folhas ali dentro.
Claro! Ela tinha que, inconscientemente, fazer toda essa pose, a roupa já não era o suficiente para me torturar.
Droga. Balancei a cabeça a fim de afastar os pensamentos maliciosos que já começavam a inundar a minha mente, mas parece que isso só serviu para que eu mergulhasse ainda mais neles. Eu estava atento aos seus trejeitos, com uma vontade crescente de apertar seu corpo contra o meu, beijar seus lábios e sentir seu gosto novamente. Dei três passos inseguros à frente. Qual foi a última vez que fiz isso, hein? Quando foi a última vez que tomei uma atitude?
Ao pensar nisso eu me amaldiçoei por me sentir frustrado e, vamos combinar, um tremendo idiota. Não, os caras não têm razão em dizer que não faço o que realmente quero! Digo, a última vez em que eu estive realmente sozinho com Demetria, nós passamos a noite na minha cama e não aconteceu absolutamente nada. Na minha cama! Ok, eu sei que dormir junto é sinônimo de sexo, mas porra... Entende meu raciocínio? O caso é que eu sou homem e estou sentindo falta. Sabe quando foi a última vez que eu fiquei com alguém? Com outra mulher que não fosse Demetria? Pois é, nem eu. Se fosse algum outro momento da minha vida, eu diria: “Ah, cara! Ontem mesmo eu fiquei com uma garota e nem me lembro mais do nome dela”. Mas agora eu não podia fazer nada, Melannie esperava por mim.
- Você também, Jonas, não está nada mal. – sorriu de lado e finalmente me encarou, abraçando a pasta contra o peito – Então, a que devo a honra de sua presença?
- As roupas de Melannie...
- Ah, sim! – ela riu de si mesma colocando a pasta sobre a mesa junto ao celular e seguiu para outro cômodo – Desculpe, estou um pouco atrapalhada! – disse com o tom de voz elevado para que eu pudesse ouvir e logo voltou com uma mochila pequena e colorida em mãos – A rotina está diferente e acho que terei que me acostumar com isso... O que pretendem fazer hoje?
- Bem, gastar dinheiro, comer muito e nos divertir bastante – sorri levando a mão a nuca enquanto ela se colocava a minha frente.
- Gastar dinheiro? – ela arqueou as sobrancelhas – O que você está tramando?
- Nada de mais – dei de ombros.
- Olha lá o que você vai fazer, hein! – ela disse e eu ri.
- Tem algum conselho pra mim?
- Não é pra ficar gastando dinheiro com Melannie.
- Por quê?
- Porque não, Joe! É sério – ela disse e eu rolei os olhos.
- Algum outro conselho? Algum que você sabe que vou seguir? – eu disse e ela riu.
- Quanta cara de pau, Joe Jonas – disse entre risos e encolheu os ombros – Mas, ahm... Na verdade eu tenho algumas instruções.
- Ok, agora eu fiquei um pouco nervoso – brinquei.
- É simples! – ela riu.
- Sei – arqueei uma das sobrancelhas.
- Ouça, Melannie deve trocar de roupa assim que chegar em casa para não sujar o uniforme. Besteiras em uma quantidade moderada só depois do almoço e, por favor, comida de verdade! É possível que ela não tenha muito dever de casa hoje, mas tente ajudá-la nem que seja só um pouquinho se for necessário e não se esqueçam da higiene em nenhum momento. – suspirou ao terminar e abriu um sorriso me estendendo a mochila – Só isso.
- Só isso? – franzi o cenho e ela riu.
- Divirta-se!
- Uau! Estou começando a sentir um pouco do peso da responsabilidade – eu ri pegando a pequena mochila e a coloquei por cima do ombro.
- Isso não é nada, mas você vai se dar bem – levantou levemente os ombros tocando meu braço – Já fez isso uma vez.
- É, eu já fiz – eu disse e mordi os lábios.
Eu tinha que ir, faltava poucos minutos para a saída de Melannie da escola. Mas eu não queria sair dali. Era difícil ficar perto tão de Demi sem poder fazer alguma coisa... Quem eu estou querendo enganar? Eu já estava ficando irritado comigo mesmo, pois era horrível sentir minhas mãos formigarem como um pedido silencioso para que entrassem em contato com sua pele quente e macia. Sentir que ficar com ela seria a melhor e mais certa coisa do mundo a se fazer, era torturante, pois eu não faria nada que ela não quisesse e nós já tivemos essa conversa antes! Ficamos nos encarando por alguns segundos até que ela arqueou as sobrancelhas como se esperasse que eu dissesse mais alguma coisa e eu respirei fundo, lembrando-me de Melannie e tomando coragem.
- Bem, eu a trago mais tarde...
-... Miley tem a chave. – dissemos em uníssono. Ela riu – Como eu não tenho nenhuma chave reserva pra te dar, ela encontra vocês aqui mais tarde, é só enviar um sms.
- Uhum – sorri amarelo e ela desviou seu olhar do meu por breves segundos.
- Ok, Joe Jonas, eu te conheço e sei que tem alguma coisa errada aqui – ela disse meio sem jeito – Por que está me olhando assim?
- Você vai sair? – perguntei e ela franziu o cenho.
- Vou trabalhar – ela disse simplesmente.
- Com essa roupa?
- O que tem de mais com a minha roupa? – ela disse colocando uma das mãos na cintura.
- O que tem de menos seria a pergunta correta – eu disse indicando seus ombros e colo a mostra e ela gargalhou.
- Você só pode estar de brincadeira comigo – ela disse entre risos.
- Sinceramente? Essa roupa me incomoda, acho que você deveria se trocar.
- Ah, você não gosta dela? – fez bico reprimindo o sorriso, fazendo pose ao ajeitar melhor a saia no corpo.
- Não, não gosto.
- Poxa, tem certeza? – ela disse tentando parecer chateada, mas seu tom era brincalhão e eu não pude evitar o sorriso.
- Ela provoca pensamentos sujos na mente masculina – arqueei uma das sobrancelhas e ela riu ainda mais colocando suas mãos sobre meu peito, obrigando-me a dar passos cegos para trás.
- Não vejo problema algum desde que estes pensamentos continuem bem guardadinhos em sua mente masculina – disse entre risos.
- Eu não disse que era a minha mente – me defendi.
- E nem precisava, Jonas.
- Estou cuidando de você.
- Claro que está!
- Apenas pensando nos caras que você pode encontrar por ai.
Se for pensar bem, ela atrairia muitos olhares masculinos, sim! E eu não estava gostando nem um pouco dessa ideia.
- Acho melhor você ir embora agora – ela sorriu enquanto abria a porta – Você tem que pegar minha filha no colégio daqui alguns minutos.
- Nossa filha – corrigi e ela sorriu assentindo.
- Nossa filha! Você lembra que ela sai mais cedo hoje, não é?
- Claro, mas, ahm... Pelo menos coloque uma blusa, ok? – pedi já do lado de fora de sua casa e ela sorriu.
- Não se preocupe, eu ficarei bem. Juro! – disse com uma das mãos apoiada na maçaneta.
- Você vai ficar com frio – eu disse com um sorriso divertido no rosto e ela riu.
- Tchau e não esqueça que a sala de Melannie é no térreo, segundo corredor, sala cinco – disse começando a fechar a porta.
- Ok. Mas acho bom você trocar de roupa, Demetria Lovato! – a repreendi e ela rolou os olhos.
- Até mais tarde – ela puxou a língua fechando a porta de vez, mas tive que rir da situação.
- Só não diga que eu não avisei quando sentir frio, – eu disse próximo à porta e a ouvi rir novamente – apenas me chame para te esquentar.
- Vá embora, Jonas!
Sorri comigo mesmo. Não tinha jeito, nós podíamos nos desentender de vez em quando e nos afastar, mas tudo continuava assim, como deve ser. Levei a mão à nuca seguindo para meu carro e entrei no mesmo já colocando a pequena bolsa de Melannie no banco de trás, o cinto de segurança e a chave na ignição. Passei a dirigir pelas ruas calmas até então, e liguei o rádio repassando mentalmente as instruções de Demi. Eram simples, mas se eu as seguisse a risca, ela só poderia se divertir no final da tarde. Na verdade eu só pensava na diversão, tinha tantas coisas que eu queria fazer com ela como pai que não sabia qual seria a primeira.
Pelo menos uma delas eu já faria amanhã! Demi e eu convencemos os caras a ir ao nosso antigo colégio para o encontro de ex-alunos. Eles tentaram fugir disso, mas ela os fez prometer. E eu já planejava passar pela casa de minha família antes de ir embora. Queria que, principalmente, minha mãe e minha irmã conhecessem Melannie. Eu ainda não havia contado nada sobre isso a elas, sobre a paternidade, e apenas esperava que inicialmente não reagissem tão mal quanto eu quando Demi disse que Melannie era minha filha, mas tinha certeza que depois elas amariam a pequena. Era meio que impossível não gostar daquela menina.
Olhei mais uma vez para o meu relógio de pulso, certificando-me se estava dentro do horário e após algum tempo dirigindo, estacionei o carro saltando do mesmo logo em seguida. Acionei o alarme e segui para a escadaria da porta principal do colégio Queen Elisabeth já avistando Mark sentado em seu banquinho.
- Boa tarde, Mark – e disse parando ao pé da escada e ele comprimiu os olhos parecendo me analisar.
- Joe! – ele sorriu depois de alguns segundos e se levantou começando a descer as escadas vagarosamente – Da televisão, amigo da pequena Melannie e dono de um cachorro enorme.
Ele disse num tom brincalhão e eu ri. Não é que o velho tinha uma boa memória?
- Pensei que não se lembraria de mim – confessei enquanto ele se postava ao meu lado de braços cruzados, de modo que pudesse não tirar os olhos da movimentação na rua.
- Quê isso, garoto? Só faz algumas semanas que você não aparece – e me olhou brevemente com o cenho franzido – Está me chamando de velho gagá?
- Imagina, o senhor está ótimo! – eu ri do modo como disse e ele deixou que um sorrisinho surgisse em seus lábios.
- Eu sei. Veio buscar sua pequena amiga?
- Vim buscar minha filha – eu disse e ele se virou para mim, encarando-me por cima dos óculos de grau.
- Tem uma filha que estuda aqui? Não sabia.
É, até um tempo atrás eu também não sabia, pensei e apenas sorri de leve para Mark que voltou sua atenção para a rua. Segui seu olhar e depois de longos minutos, notei que alguns transportes escolares, como minivans e micro-ônibus, já estacionavam ali por perto. Mais alguns grandes e caros carros de pais engravatados que logo saltavam dos mesmos. Eram sempre pais engomadinhos com cara de empresários podres de rico, o que me levava a pensar em qual seria o tamanho da fortuna que Demi, ou Robert, gastava para manter Melannie naquele colégio.
- Está na hora – Mark disse chamando minha atenção e tornou a subir calmamente as escadas.
Assisti-o abrir os portões do colégio e se sentar novamente em seu banquinho, logo dois homens que conversavam sobre algo que parecia ser bem sério também subiram as escadas e sumiram do meu campo de visão assim que cruzaram os portões. Coloquei as mãos nos bolsos da blusa e segui o mesmo caminho, adentrando no saguão principal que tinha um piso claríssimo e as paredes formavam um ângulo de 180º graus perfeito. De um lado a recepção com dois pequenos sofás marrons e a secretaria , logo depois dois amplos corredores e uma escadaria larga que levava ao segundo andar com corrimãos dourados brilhante. Provavelmente o colégio deveria anteriormente ter sido uma casa, ou mansão, como preferir.
Comecei a subir as escadas calmamente, tentando me lembrar do que Demi havia dito. Era segundo andar ou segundo corredor? Eu já não tinha tanta certeza, ela estava tão sexy naquela roupa que eu não consegui prestar muita atenção no que dizia. Na verdade minha atenção estava toda voltada para o modo como o fazia, quando mordia levemente o lábio inferior, em seus movimentos delicados, e eu estava com inveja de quem passaria o dia com ela, mas ainda de quem passaria a noite com ela.
Passei pelas salas de aula do segundo andar olhando para dentro de cada uma através do vidro nas portas. Definitivamente era o segundo corredor, aquelas crianças eram bem maiores e não deviam ter a mesma idade queMelannie. Desci até o saguão onde já tinha pais e filhos circulando, segui para o segundo corredor e na quinta porta tinha uma moça de jaleco branco em pé frente aos alunos, quem eu reconheci como a professora de Melannie. Aquele que saiu da escola atrás da garotinha impaciente na segunda vez em que estive aqui. Varri a sala com os olhos, buscando atentamente pelo rosto da pequena entre tantos outros e a encontrei em uma das carteiras do canto prestando atenção em que a professora dizia e segurando a mochila junto ao peito, pronta para ir embora. Talvez isso ela tenha puxado a mim, quando estava no colégio, até mesmo antes de entrar, eu já estava louco para sair.
Ri internamente de meus pensamentos idiotas e cruzei os braços, encostando-me contra a parede vendo uma mulher bem arrumada, loira de cabelos cacheados, aproximar-se pelo corredor. Ela parou frente a porta, ao meu lado e cruzou os braços. Ela me olhou e sorriu educadamente, imitei seu gesto e passei a encarar o chão.
- Desculpe-me, mas, ahm... – ouvi a moça dizer e tornei a olhá-la – Você é Joe Jonas, certo? O cantor do McFLY?
- Sim – eu sorri de leve.
- Ah! Eu sabia que já tinha te visto antes, mas não tinha certeza se foi aqui – ela sorriu docemente e eu soltei uma risada contida – Veio buscar alguma criança desta sala?
- Está vendo aquela menininha com um laço azul no cabelo? – indiquei pelo vidro da porta da sala – Vim buscá-la.
- Melannie? – ela franziu o cenho ainda sorrindo eu assenti – Ela é uma das amiguinhas da minha filha, todo mês elas passam um dia lá em casa, ou na casa da Demetria.
- Mesmo?
- Sim, aquela loirinha sentada na carteira da frente é a minha filha – ela disse e eu olhei mais uma vez através do vidro – Melannie é um amorzinho! Não sabia que Demetria tinha amigos famosos.
- Estudamos juntos – expliquei e logo a porta da classe se abriu.
- Sra. Stryder, tudo bem? – a professora perguntou com um sorriso cordial no rosto e a menininha loirinha logo se levantou acenando para as amiguinhas, inclusive Melannie.
- Tudo bem – a mulher respondeu e estendeu a mão para a filha – Vamos, meu amor?
- Tchau, professora.
- Aqui, querida – a professora tirou um papelzinho desenhado do jaleco e o entregou para a menininha que o pegou e agarrou a mão da mãe – Até mais! – elas sorriram para nós e logo saíram andando pelo corredor.
- A Sra. Callagham avisou hoje mais cedo que viria – a professora disse e eu forcei o sorriso ao ouvir o sobrenome.
Mas que porra, eles nem casaram ainda!
- Pois é, Melannie passará o dia comigo.
- Sim, a pequena me disse e parece estar muito empolgada! Deve ter contado a todos que o senhor viria – disse num tom brincalhão e eu sorri verdadeiramente, então ela se virou para a classe – Melannie, venha, o Sr. Jonas já está aqui!
Coloquei-me ao lado da professora para que Melannie pudesse me ver e ouvi burburinhos tomar conta de toda a classe. Talvez alguns deles soubessem quem eu sou, talvez. A pequena se levantou colocando a mochila nas costas e acenou para as amigas, então veio em minha direção com um sorriso lindo moldando seus lábios e abraçou minhas pernas.
- Tudo bem, pequena? – perguntei afagando seus cabelos sedosos e ela assentiu.
- Aham.
- Pronta pra ir?
- Tchau, professora – ela se soltou de mim colocando-se na ponta dos pés para depositar um beijo no rosto da professora que se abaixou para que ela pudesse fazê-lo.
- Tchau, Melannie! – a professora sorriu tornando a postura correta enquanto a pequena entrelaçava sua mão a minha – Não deixe de treinar em casa, ok?
- Ok – ela deu uma piscadela e a professora a imitou entre risos.
- Aqui está o seu adesivo – a moça entregou um papelzinho parecido com o da outra menininha e Melannie sorriu para ela.
- Obrigada.
- Espero vê-lo aqui com Melannie mais vezes, Sr. Jonas.
- Eu acho que verá... – eu disse franzindo o cenho para elas e sorri – Até mais!
Com último aceno, Melannie e eu deixamos a sala seguindo de mãos dadas até o lado de fora, na porta principal, onde Mark estava sentado em seu banquinho com as mãos enfiadas nos bolsos da jaqueta azul.
- Oi, Mark! Pega um adesivo pra você – Melannie disse entre risos entregando um de seus adesivos coloridos e acenou novamente para o senhor – Tchau, Mark!
- Tchau, pequena.
- Tchau, Mark – sorri e ele nos olhou por cima de seus óculos com o cenho franzido.
- Não veio buscar sua filha?
Paramos nos primeiros degraus do topo da escada, quase frente ao velho Mark. A menina um degrau acima e eu com as mãos em seus ombros.
- Aqui está ela, ora – eu disse pegando os pulsos dela, levantando seus braços e os balançando freneticamente enquanto ela gargalhava – O senhor não notou a semelhança?
- Esses olhos castanhos... – ele sorriu de lado.
- São os meus olhos, não são, Melannie? – arqueei uma das sobrancelhas segurando seu rostinho entre minhas mãos e ela jogou um pouco a cabeça para trás a fim de me olhar.
- Aham! – murmurou com as bochechas tomando um tom rosado.
- Então, Melannie é mesmo sua filha – ele riu.
- Pois é! Longa história, Mark, longa história...
- Tenho certeza de que deve ser uma ótima história – ele cruzou os braços – afinal, você é bom para elas.
- Espero que todos pensem assim – sorri fraco.
Pensei na repercussão que a mídia poderia dar a isso, pensei em minha família, em Demi. Mas era melhor não me preocupar, certo? Certo. Entrelacei nossas mãos novamente.
- Bem, nós temos que ir. Até mais, Mark.
- Até!

- Só falta resolver sobre a entrega dos comes e bebes, mas pode deixar isso comigo.
Eu ouvia o líder do grêmio estudantil do colégio falar e falar e falar... Eu nem sabia o nome dele, todos ali eram alunos que nunca tinha visto antes e tudo o que diziam soava ilegível aos meus ouvidos. Suspirei. Eu estava no completo tédio. Como a Demi aguentava isso uma hora semanal depois do horário de aula? Será que eles tinham tanto assunto assim pra ter que ficar no colégio até este horário? Por que eles não falavam sobre isso na casa de um deles, numa lanchonete, ou sei lá onde? E como ela conseguiu me convencer a participar disso mesmo?
Eu estava debruçado sobre a carteira fingindo que prestava atenção enquanto Demi estava sentada do outro lado da sala anotando algumas coisas em uma prancheta e falava baixo com uma garota morena de cabelos longos e lisos. Meu Deus, como eu queria sair daquele colégio!
Bocejei fechando os olhos por alguns segundos e quando os abri vi as duas me olhando com um sorriso divertido em seus rostos. Demi sorriu de lado e eu fiz bico, ela assentiu entendendo o que eu queria dizer e levantou levemente a mão pedindo que eu esperasse. Rolei os olhos. Eu não queria esperar!
Gesticulei de um jeito que demonstrasse o meu tamanho desespero para sair daquela sala e o quanto estava me sentindo sufocado ali. Nada exagerado. A garota ao seu lado começou a rir, enquanto o rosto de Demi tomava um tom avermelhado e levou uma das mãos ao rosto, balançando a cabeça negativamente. Demi chamou a atenção do líder e disse algumas coisas num tom baixo, para que apenas ele pudesse ouvi-la, ele assentiu poucas vezes e logo ela colocou a mochila no ombro e veio em minha direção com a prancheta em mãos.
- Vamos? – arqueou as sobrancelhas e sem pensar duas vezes, eu peguei minha mochila e a segui para fora da sala.
- O que você disse para ele?
- Que iríamos fazer o planejamento da decoração do ginásio, – ela disse sem tirar os olhos da prancheta – mas você pode ir embora se quiser.
- Você quer que eu vá embora? – perguntei buscando pelo seu olhar.
- Não, eu não quero.
- Você está brava comigo?
- Não, Joe, – ela suspirou parando de andar e me encarou – mas seria bom se você se esforçasse de vez em quando. Eu estou tentando fazer uma coisa legal e você, que tinha se oferecido para me esperar, fica me apressando!
- Ok, desculpe, eu estava no tédio – eu disse encolhendo os ombros.
- Eu percebi – ela deu uma risada contida e voltou a andar – e provavelmente nem ouviu quando eu dei a ideia sobre você e os garotos tocarem no baile.
- Baile? Que? Demetria! 

- Melannie, está tudo bem mesmo? – perguntei.
Olhei brevemente para ela pelo retrovisor, já que estava no banco de trás. Desde que entramos no carro ela ficou completamente muda, já estávamos chegando à minha casa e eu não sabia muito bem o que dizer a ela. Digo, agora ela é a minha filha e mesmo que não fosse, eu nunca sabia o que dizer para uma criança que ficou tanto tempo quieta. Havia alguma coisa errada, com certeza.
- Aham – ela respondeu.
- Aham? – franzi o cenho.
- Aham.
- O que isso quer dizer?
- Aham.
- É só isso o que você diz agora? – perguntei ouvindo seu riso baixo.
- Aham.
- Você não quer conversar comigo?
- É que agora é estranho – ela disse e eu a olhei novamente.
- Como assim?
- Agora você é meu pai de verdade, não sei o que ou como falar com você – ela encolheu os ombros e foi a minha vez de rir.
- Fale o que quiser e como quiser, assim como sempre foi, ok? – perguntei e a vi assentir – E, sim, agora eu sou seu pai de verdade, mas o resto não mudou. Ainda sou seu amigo, certo?
- Certo!
- Agora bate aqui, parceira – levantei a mão e ela bateu num high Five entre risos – Isso ai!
- Posso continuar te chamando de Joe, certo?
- Do jeito que você quiser.
- Ok! Então o que nós vamos fazer hoje, Joe? – ela perguntou assim que entrei com o carro na garagem subterrânea do meu prédio.
- Qualquer coisa, o que você quer fazer? – perguntei enquanto terminava de estacionar o carro.
- Podemos ir ao Palácio?
- Qual deles? – eu desafivelei o cinto de segurança e olhei para trás.
- O Palácio de Buckingham, eu sempre quis ver de pertinho, nem que seja só para ver a parte da frente... Parece ser muito bonito! – ela gesticulou tirando o cinto e eu ri pegando suas duas mochilas – Mas nunca deu certo de ir até lá.
- Nunca deu certo? – franzi o cenho e nós saltamos do carro – Há quanto tempo vocês moram aqui mesmo?
- Dois anos? – ela disse em dúvida e deu de ombros.
- Ahm... Tudo bem! Então nós vamos, mas só vai dar pra ver a parte da frente mesmo, pode ser? – perguntei e ela assentiu com um sorriso divertido em seu rosto – Porque nessa época a realeza não vai nos deixar entrar.
- Se minha mãe estivesse com a gente, eles deixariam. Eu fiz uma coroa para ela na escola, agora ela é uma rainha – ela fez pose e eu ri – e eu sou uma princesa, mas não como as outras.
- Por que não? – perguntei colocando a mão livre sobre seu ombro, a guiando em direção aos elevadores.
- Porque a maioria das princesas é sem graça e elas só usam rosa – ela fez careta – Você pode ser o nosso rei, se quiser.
- Pensarei muito bem em vossa proposta, nobre princesa – eu disse apertando o botão no painel do elevador – e logo lhe darei a minha resposta.
- Ok – ela disse e começou a gargalhar.
- O que foi? – franzi o cenho sem conseguir evitar acompanhá-la com um sorriso.
- Você viaja na maionese! – ela disse entre um suspiro, se recuperando dos risos e eu ri ainda mais – Escuta, é lá que tem os guardas de roupas e chapéus engraçados, não é? Como nos filmes?
- Sim, como nos filmes – eu disse e ela vibrou me arrancando mais risos – Ai a gente pode ir na London Eye depois, o que você acha?
- Eba! – ela alargou o doce sorriso – Vai ser muito legal!
- Ótimo, tampinha – eu disse tirando minhas chaves do bolso da calça e as portas do elevador se abriram – mas antes de qualquer coisa você tem que fazer a lição de casa, almoçar e trocar de roupa.
- Você vai fazer o nosso almoço? – perguntou me olhando de um jeito engraçado.
- Por quê?
- Você não tem cara de que sabe cozinhar.
- Ei, eu sou um ótimo cozinheiro – me defendi destrancando a porta e a pequena riu – mas pode ficar tranquila, quem cuidou da comida foi a Poppy.
A menina franziu o cenho por alguns segundos tornando seu olhar para a porta e eu abri a mesma, revelando um Snoop numa posição que eu diria ser de ataque. Ombros altos, cabeça baixa e pernas levemente flexionadas. Mas ele me decepcionou totalmente assim que Melannie chegou perto e ele se largou no chão de barriga para cima à espera de carinho, eu achei que ele ia sair correndo, brincando, ou sei lá. É um bundão mesmo! Balancei a cabeça negativamente trancando a porta novamente.
- Quanto tempo, Snoop – a pequena disse acariciando seu pelo enquanto ele balançava o rabo freneticamente – Eu estava sentindo a sua falta, sabia? Sim, eu estava!
- Quer trocar de roupa, Melannie? – perguntei vendo Snoop lamber a bochecha da pequena, que fez careta e riu se levantando.
- Quero!
- Então vem comigo.
Eu deixei a mochila escolar dela sobre o sofá e seguimos escada acima com Snoop em nosso encalço, até o quarto de hóspedes. Abri a porta, ascendi a luz e coloquei a outra mochila na cama enquanto a pequena sentava-se sobre a mesma, tirando os sapatos.
- Você se lembra desse quarto?
- Claro, essa cama é a mais fofinha de todo o mundo – ela disse subindo na cama e deu alguns pulinhos e Snoop a acompanhou, latindo.
Eu coloquei as mãos nos bolsos dianteiros da calça jeans e soltei uma risada contida vendo-a pular, olhei em volta, para as paredes brancas e para os móveis da mesma cor com um pensamento tomando conta de minha mente. Um pensamento, ahm... Divertido para uma menina de sete anos, colorido ou apenas azul, se ela preferir.
- Qual cor você mais gosta? – perguntei ainda olhando para cada detalhe do cômodo.
- Lilás, azul, branco, vermelho, preto, azul, amarelo, laranja, verde, azul – ela disse entre os pulos e eu ri mais ainda.
- E a favorita é azul, certo? – a olhei com um sorriso divertido.
- Sim!
- Tudo bem, eu entendi – eu disse segurando seus braços por breves segundos, fazendo-a parar de pular – Agora veste a roupa que sua mãe separou, eu estarei te esperando lá embaixo. Você não vai precisar de ajuda, certo?
- Não, eu sei me vestir sozinha, pode ir – gesticulou.
- Ok, o banheiro é ali. Não demore – eu disse e ela assentiu – Vem, Snoop!
Snoop veio até mim balançando o rabo e deixamos o cômodo, mas pude ouvi-la pulando sobre a cama novamente assim que fechei a porta. Eu ri balançando a cabeça negativamente e Snoop apoiou a pata na porta chorando, pedindo para que eu abrisse a porta novamente.
- Chora não, vamos.
Pouco antes de começar a descer as escadas notei que a luz do meu quarto estava acesa, andei até lá e encontrei Poppy terminando de arrumar a cama, na qual Snoop fez questão de pular e se largar em cima.
- Ah, Snoop! – ela jogou as mãos para o alto e eu ri dando duas batidinhas na porta para chamar a atenção dela.
- Chegamos!
- Tudo bem, senhor Jonas?
- Tudo bem, Poppy – eu disse cruzando os braços e passei os olhos pelo cômodo impecavelmente arrumado – E ai, precisa de alguma ajuda?
- Não, obrigada – ela riu – está tudo nos conformes.
- Tem certeza? – perguntei enquanto ela pegava do chão uma flanela e uma cestinha verde de plástico que continha alguns produtos de limpeza.
- Absoluta! O senhor e o Snoop nem fizeram muita bagunça dessa vez, – ela deu de ombros levemente ao andar até a porta e eu ri – aos poucos vocês vão melhorando.
- Pois é, nós estamos nos esforçando pra não te dar muito trabalho. – eu disse dando espaço para que ela passasse e apaguei a luz – Snoop!
- Sua irmã ligou – ela disse assim que Snoop saiu do quarto e eu fechei a porta – perguntou quantas pessoas vão jantar lá amanhã e pediu, pelo amor de tudo o que é mais sagrado, para o senhor ligar celular. Palavras dela!
- Tudo bem, eu ligo pra ela mais tarde – eu disse entre risos quando chegamos à sala.
Tirei meu celular do bolso e o liguei antes que também recebesse uma bronca de Demi por não atender o mesmo, caso ela resolvesse ligar.
- O almoço já deve estar pronto.
- Será que ela vai gostar?
- É um prato que qualquer criança britânica comeria, senhor Jonas.
- Sim, mas ela não é britânica.
- Mas, como o senhor mesmo disse, a senhorita Demetria viveu toda a sua juventude aqui na Inglaterra, certo? Ela está habituada com a nossa cultura e acredito que a menina também esteja – a ouvi dizer enquanto abria o forno e Snoop sentou ao meu lado – Fora isso, o senhor disse que ela come de tudo.
- Ah, eu acho que ela come, não tenho tanta certeza – eu disse colocando a luva térmica e peguei um pano de prato – É quase impossível alguém gostar de todas as comidas existentes nesse mundo ou não ter alergia a alguma delas. Tem gente que não gosta de banana, por exemplo.
- O senhor não devia se preocupar tanto... – ela parou ao meu lado e fechou o forno assim que tirei o refratário.
- Tem gente que é alérgica a amendoim...
- Se ela não gostar – ela me interrompeu assim como eu fiz e riu – eu posso preparar alguma outra coisa.
- Onde eu coloco isso? Na pia?
- Não! – se apressou em dizer abrindo uma das gavetas, tirou de lá um negócio de madeira que eu nem sabia que tinha e o colocou sobre a mesa – Melhor colocá-lo no descanso térmico, a pia está fria e o senhor não vai querer tomar um choque térmico.
- Ahm... Eu sabia disso, Poppy! – franzi o cenho colocando o refratário sobre o descanso e ela riu – Estava apenas te testando.
- Claro que estava.
- Você pode arrumar a mesa, por favor – eu sorri para ela, que assentiu – Eu vou chamar a Melannie.
Deixei o cômodo a tempo de ver a pequena terminando de descer as escadas, devidamente vestida. Calça jeans, botas bege, camiseta branca de manga longa e um cachecol rosa em volta do pescoço, ela carregava a mochila em um dos ombros e, com mais alguns passos, ela parou a diante de mim, olhando-me com aqueles grandes olhoscastanhos.
- Preciso colocar a blusa agora? – perguntou enquanto eu pegava a mochila que ela carregava.
- Não, você veste quando a gente sair – eu disse colocando a mochila no sofá, junto a outra.
- Acho que estou com fome, Joe – fez careta e eu sorri de lado.
- Então vamos comer, ora.
- Ok – deu de ombros e eu a segui quando ela foi saltitando até a cozinha.
- Se você não gostar da comida é só dizer, podemos preparar outra coisa – eu disse e ela parou de andar, olhando com o cenho franzido para Poppy e depois me encarou.
- Ahm, Joe... – ela disse num tom baixo, fez um gesto e eu me abaixei para ficar em sua altura – Quem é ela?
- É a Poppy, ela trabalha pra mim e cuida de tudo aqui – eu disse no mesmo tom.
- Poppy, que nome legal! Ela está aprovada – ela riu fazendo sinal de positivo com as mãos e eu franzi o cenho, tentando entender o que ela quis dizer.
- Tudo pronto, senhor Jonas – Poppy disse e Melannie se apressou para sentar-se a mesa – Então essa é a famosaMelannie?
- Acho que sim... – a menina sorriu encolhendo os ombros e tirou a cartelinha do bolso – Você quer um adesivo?
- Anw, obrigada, querida! – Poppy sorriu pegando pegando o pequeno adesivo que Melannie lhe estendia.
- Você vai dar adeviso pra todo mundo? – perguntei me sentando ao lado da menina.
- Só pra quem é legal.
- E por que eu não ganhei um? – eu disse me sentindo ofendido e ela levou as mãos à boca, rindo – Qual é? Eu sou muito legal.
- Ganhou sim! Depois eu te mostro – ela disse e eu arqueei as sobrancelhas.
- Espero que goste de couve-flor com queijo.
- Eba! – ela vibrou arrancando risos de Poppy.
- Então você gosta, tampinha?
- Mamãe fazia sempre e eu não gostava de couve-flor, mas a vovó disse que faz bem.
- Vovó? – estranhei vendo Snoop se aproximar da pequena.
- Sim, a mãe da tia Mi, ela é minha avó. – ela disse como se fosse a coisa mais óbvia e eu assenti rindo. Claro, como não pensei nisso antes?
- E como foi na escola, Melannie? Tem muita lição hoje?
- Algumas. Você vai me ajudar?
- Vou tentar. 

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