quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

- Beijo – ela disse e desligou. 
O silêncio tomou conta de nós por alguns longos minutos, mas não era um silêncio incomodo, eu estava gostando de sentir a sua presença, o seu corpo quente contra o meu. Em alguns momentos eu pensava sobre o que Miley havia contado pelo telefone, mas nisso eu já não posso tentar interferir, podia? Afaguei seus cabelos. 
- Tudo bem? – perguntei num tom baixo. 
- Tudo. – ela disse da mesma forma – Você acha que ela tem razão? Acha que eu estaria fazendo a coisa certa se voltasse ao Brasil por ele... Não para morar, claro, mas para vê-lo? 
- Eu não sei Demi, – eu disse e ela se soltou um pouco de mim, deitando de barriga para baixo, apoiando os cotovelos no chão, me olhando – a Mi conhece seu pai, sabe como foi, como é a sua relação com ele, mas na verdade, só você sabe se seria certo encontrá-lo. Todo mundo merece uma nova chance – dei de ombros. 
Ela comprimiu os olhos, parecendo ponderar em relação as coisas que eu disse, mordeu o lábio inferior e riu fraco. 
- Bom argumento. – disse apoiando o queixo em uma das mãos – Mas então, parece que eu vou passar a noite aqui, não é? 
- Sim, – eu sorri – e nem pense em fugir! 
- Não vou – ela disse passando as mãos pelos olhos. 
- Quer subir? 
- Não, está bom aqui! – choramingou deitando a cabeça sobre meu peito e eu ri – Até o chão da sua casa é confortável. 
- Tecnicamente falando, você está praticamente deitada em cima de mim, – eu disse e ela gargalhou – então não é o chão que é confortável. 
- Mas ainda assim estou com preguiça de levantar. – disse entre risos – Podemos ficar aqui só mais um pouquinho? 

- Ei, eu te procurei por todo canto! – ela me olhou pela janela aberta do carro com o cenho franzido e abriu a porta do mesmo – Sério que você esteve aqui esse tempo todo?
- Talvez... – dei de ombros.
Demi suspirou e entrou no carro sentando-se no meu colo, com uma perna de cada lado de meu corpo, me deixando com uma bela visão de suas coxas, já que ela estava de vestido. Um vestido muito bonito, diga-se de passagem. E fechou a porta.
- Ok, – ela estalou os dedos frente ao meu rosto, fazendo com que eu a encarasse – o que aconteceu?
- Você está tão linda.
- E você, está bêbado? – franziu o cenho e eu ri.
- Não.
- Então o que foi? A festa está chata? Não se preocupe, está quase acabando.
- Estou cansado, só isso – eu disse passando uma das mãos carinhosamente por sua perna descoberta.
- Ah, que pena, – fez bico – eu estava te procurando justamente pra te chamar pra dar o fora daqui e ir fazer alguma coisa mais, ahm, interessante... – ela disse aproximando seu rosto do meu e subindo as mãos lentamente pelo meu peito, mas quando eu tentei avançar contra seus lábios, ela se afastou – mas você está cansado, não é?
- Ah, para com isso e vem cá – eu ri e a puxei pela nuca, colando nossos lábios. Logo senti sua língua quente em contato com a minha e seu gosto me invadir, subi uma das mãos para dentro de seu vestido enquanto entrelaçava a outra e seus cabelos.
- NÃO! – ouvi alguém praticamente gritar em meus ouvidos e então nós nos separamos. Era Liam, nos olhando com cara de nojo enquanto Justin e Liam, na entrada da casa alugada, se acabavam de rir – Joe, não com a minha maninha, não no meu aniversário, muito menos no meu carro!
- Nós não estamos fazendo nada de mais Liam, eu juro – Demi disse o olhando com cara de cachorrinho abandonado.
- A mão dele está debaixo do seu vestido Demetria! – ele a repreendeu e ela deu um tapa em minha mão, a afastando dali e me encarou com os olhos arregalados, segurando para não rir – Pouca vergonha...
- Ah Liam, tchau! Vai curtir o final da sua festa – ela rolou os olhos subindo o vidro e abaixou o pino, trancando o carro.
- Eu não posso ver isso – ele balançou a cabeça negativamente e nós rimos enquanto ele voltava pra dentro da casa.
- Onde estávamos? – sorri malicioso e ela riu se aproximando mais uma vez, roçando seus lábios aos meus.
- No nada de mais – ela sorriu da mesma forma.
- Podemos pular essa parte então?
- Com certeza. 

Senti que ela tentava sutilmente se desvencilhar de meus braços e abri os olhos com um pouco dificuldade, minhas pálpebras estavam pesadas e quando consegui enxergá-la, ajoelhada de frente para mim, ela passou uma das mãos sobre meu rosto e pousou o dorso da mesma sobre minha testa. 
Joe? – chamou baixinho, começando a se levantar. 
- Não, fica aqui, está frio. 
- Você está com febre. 
- Não... 
- Vem, levanta do chão. – ela disse e eu me levantei bem devagar, rumando em direção ao sofá, mas ela envolveu seus braços em minha cintura, me fazendo parar – Não, não, para o quarto! Eu te acompanho. 
Coloquei um dos braços sobre seus ombros e passei a mão livre pelo meu rosto, tentando ficar mais atento aos degraus da escada. Demi abriu a porta do quarto e nós entramos, acendi a luz do abajur, me deitei e ela se sentou ao meu lado, na beira da cama com um olhar preocupado. Passou a mão suavemente pelo meu rosto mais uma vez e suspirou. 
- Você não se cuidou nem um pouquinho, não é? Desde aquele dia... 
- Não é verdade, – eu a interrompi segurando sua mão sobre meu peito – eu tomei uns remédios ai, mas não adiantaram de nada. 
- Ok, mas nós precisamos de um para baixar a sua febre, então – ela disse olhando em volta – onde ficam os remédios? 
- Não ficam. – eu disse e ela me olhou com as sobrancelhas arqueadas – Não tenho mais remédios aqui. 
- E agora? – ela perguntou ainda com aquele olhar preocupado e eu levantei levemente os ombros – Desculpe, se você está assim é por minha causa. 
- Eu vou ficar bem. 
- Descanse, porque amanhã... – ela disse, se levantando e soltou da minha mão, tirando o celular do bolso – Aliás, hoje nós vamos sair mais cedo e passar no hospital antes de fazer qualquer coisa. 
- Você, por acaso, sabe o quanto eu estou evitando ir ao médico? – eu rolei os olhos e ela riu. 
- Mas você está doente e vai, querendo ou não! – ela disse e eu sorri – Percebi que de vez em quando você sente falta de ar. 
- Você vai ficar aqui e cuidar de mim, não vai? – perguntei puxando os cobertores para me cobrir e me afastei para o outro extremo da cama, lhe dando espaço. 
Joe, eu não... 
Demetria, eu estou doente, vai mesmo me negar isso? – perguntei em falsa incredulidade e ela gargalhou – Só estou pedindo para você se deitar aqui ao meu lado, nada de mais. 
- Você é tão dramático – ela bocejou entrando debaixo dos cobertores, deitando-se de lado, ficando de frente para mim. 
- Só um pouco – sorri e coloquei uma mecha de seu cabelo atrás da orelha, Demi piscou profundamente enquanto eu acariciava seu rosto e suspirou. 
- Você está acabando com o pouquinho que ainda resta do meu estoque de autocontrole – ela me olhou e eu ri fraco. 
- Não estou fazendo por mal, juro. 
- Eu sei. 
- Mas posso ir para o outro quarto se quiser. 
- Esse que é o meu maior problema, – ela disse e eu franzi o cenho – eu não quero. Sei que não é certo, sei que não posso, mas quero ficar com você. 
Suspirei. 
Demi, não é errado! Está me entendendo? – eu disse pausadamente, ela franziu o cenho mordendo os lábios – Vai adiantar eu perguntar por que você não pode? Por que não pode fazer o que realmente quer sem que se sinta tão culpada? 
- Porque Robert te odeia? – sugeriu arqueando as sobrancelhas – Ou talvez porque é com você que eu tenho uma filha, ou porque foi com você que eu o traí e é na sua cama em que eu estou deitada neste exato momento... 
- Mas não estamos fazendo nada – tentei argumentar. 
- Mas não muda a situação de que uma noiva está na cama com um cara solteiro. – ela disse e eu comprimi os olhos, refletindo sobre isso – Sim, eu me sinto culpada, pois não consigo evitar algumas situações, – e deu uma risada contida – pois estou reclamando, mas continuo aqui... No mesmo lugar. 
Ela me olhou confusa com seus próprios pensamentos e ruborizou. 
- Eu sou tão idiota – ela fechando os olhos com força, levou as mãos ao rosto e eu gargalhei a abraçando. 
- Não, você não é. – eu disse entre risos, a trazendo para mais perto de mim – Na verdade, acho estamos evoluindo. 
- Hã? – descobriu o rosto e me olhou – Como assim? 
- Pra quem me escondia um monte de coisas e não queria nem dizer que Melannie é minha filha, você está se saindo muito melhor – eu disse calmamente com o olhar fixo em seus lábios, que estavam tão próximos. 
- É? 
- Aham – murmurei e selei rapidamente meus lábios aos seus. 
Joe, você, por acaso, realmente ouviu alguma coisa do que eu disse? – ela disse de um jeito divertido. 
- Desculpe, mas você já acabou com o meu estoque de autocontrole faz tempo.
Capítulo 17.
Acordei com a respiração curta e incomodado pelo frio que sentia, sem dúvidas, eu ainda estava febril e mesmo não querendo soltei Demi de meus braços, a aconchegando entre os cobertores e me levantei, rumando para o banheiro. Fiz minha higiene matinal – bem lentamente, quase parando, mas fiz – e encarei meu reflexo no espelho por alguns segundos, cabelo de qualquer jeito, barba rala já começando a aparecer e um pouco pálido. Eu estava com uma aparência ruim, não estava horrível, mas poderia estar melhor. Balancei a cabeça negativamente afastando meus pensamentos inúteis e procurei no gabinete por uma escova de dente que eu havia comprado da última vez que fui ao mercado, ela ainda estava na embalagem, então a deixei sobre o lavatório. Sai do quarto e desci as escadas, peguei as roupas secas de Demi na lavanderia e passei, eu queria ter feito melhor, mas definitivamente não nasci pra passar roupa, então fiz o que pude e tornei a me arrastar escada à cima. Fiz tudo isso bocejando a cada cinco minutos e piscando pesadamente. Quando cheguei ao quarto, Demi ainda estava dormindo, deitada de lado com uma expressão calma em seu rosto. Coloquei suas roupas no banheiro junto à escova de dente que havia separado especialmente para ela e voltei para o quarto, me sentado na beirada da cama, próximo ao seu corpo.
- Demi? – chamei pousando uma das mãos sobre seu braço e ela se mexeu, deitando-se de barriga para cima – Acorda, temos que ir.
- Aham – ela murmurou ainda de olhos fechados e eu não pude deixar de sorrir.
Quando é que eu poderia imaginar essa situação?
Tive que lutar arduamente contra a minha imensa vontade de tornar a me deitar na cama com ela. Não gosto de nem um pouco de hospital, sempre evito o máximo que posso, mas já estava começando a ficar preocupado com tudo aquilo que vinha sentindo de uns dias pra cá. E bem, agora eu tenho uma filha para cuidar, se não eu fosse agora, não iria nunca ao médico.
- É sério, Demi, acorda. – disse deitando a cabeça sobre sua barriga e logo senti seus dedos se perderem em meus cabelos.
- Aham – repetiu.
- Vamos, já está ficando tarde! – disse entre um bocejo aproveitando o cafuné que ela fazia em mim – Nós temos que ir ao hospital, buscar Melannie na escola e depois os resultados do exame.
- Só mais dez minutos – ela disse baixinho e eu me levantei relutantemente.
- Tem certeza de que vai trabalhar hoje?
- Aham – murmurou de novo, mas dessa vez se levantando e eu ri.
Ela parou de frente para mim me olhando com os olhos miúdos de sono e me aproximei, tentando selar seus lábios aos meus, mas ela se afastou.
- Está ficando maluco? – perguntou com a voz um tanto rouca e eu ri.
- Não custa tentar. – dei de ombros e beijei sua testa – Bom dia.
- Bom dia – ela sorriu de lado.
- Suas coisas estão no banheiro – eu disse e ela assentiu, se afastando.
Demi foi direto para o banheiro e eu fui para o closet, coloquei uma calça jeans escura, camiseta branca, uma camisa quadriculada azul e por cima uma jaqueta de zíper e capuz preta, sai do quarto enfiando as meias e os tênis pretos nos pés e desci novamente as escadas. Juro que um dia eu ainda terei uma casa, ou um apartamento, plano, sem escadas. Sério, estou tentando deixar de ser sedentário, mas escada é realmente uma porcaria.
- E ai amigão! – eu disse para Snoop enquanto ele se levantava preguiçosamente de sua almofada e começou a me seguir.
Entrei na cozinha um pouco ofegante, mas resolvi ignorar esse fato. Peguei as correspondências que Poppy havia trazido ontem, as deixando sobre a bancada e coloquei ração para o Snoop. Abri alguns armários, puxei a caixa de cereais e duas tigelas, abri uma das gavetas, pegando colheres e a caixa de leite na geladeira, por fim coloquei tudo sobre a bancada e me sentei de frente para a mesma. Preparei meu “café da manhã” e enquanto comia conferi as cartas.
Jornal pra ajudar a limpar as sujeiras do Snoop, propaganda dos cartões, mais propaganda, cobrança, carta encaminhada da casa da minha mãe, propaganda, minhas revistas. Uma sobre música, instrumentos e outra de...
- Revista de mulher pelada Joe? – ouvi Demi dizer e pulei de susto jogando a revista pela janela. Ou melhor, na janela – Por que você fez isso? – perguntou com o cenho franzido, mas se esforçava para não rir.
- A Poppy está fazendo um ótimo trabalho, você não acha? Poderia jurar que a janela estava aberta – eu disse balançando a cabeça negativamente e ela gargalhou.
- Ok, nem vou comentar sobre isso! – ela disse com um sorriso divertido no rosto e se sentou ao meu lado – Então, está se sentindo melhor?
- Não sei, acho que um pouco – eu disse empurrando a tigela para ela, que passou a se servir.
- Sua respiração está alta – ela disse me encarando com um olhar preocupado e eu pigarreei.
- Eu estou bem.
Tentei normalizar minha respiração e tornei a atenção para as correspondências. Juntei todas as cartas de propagandas inúteis, as rasguei e enquanto eu abria outra revista – aquela de classificação livre –, Demi pegou a carta que viera encaminhada.
- Este aqui não é o brasão do nosso antigo colégio?
- É, pode rasgar – dei de ombros.
- Por quê?
- É bobeira – fiz careta e ela rolou os olhos sorrindo.
- Vou abrir, se você não se importar claro. – disse e eu dei de ombros mais uma vez voltando minha atenção para a minha revista e o meu cereal – É um convite para a reunião de ex-alunos.
- Eu sei, eles fazem isso quase sempre – eu disse de boca cheia sem tirar os olhos das páginas da revista que até estava interessante nessa semana, eu precisava mesmo comprar umas coisas novas.
- E você foi alguma vez? – Demi perguntou e eu balancei a cabeça em negação – E os meninos?
- Também não. Nunca.
- Por que não?
- Porque é só uma reunião idiota.
- Como sabe que é idiota se você nunca foi? – ela perguntou, franzi o cenho e tive que encará-la, ela estava com uma das sobrancelhas arqueada, com um olhar esperto, assim como sua pergunta.
Não é que fazia sentido?
- Filmes! – dei de ombros e ela riu.
- Para de imitar a Melannie!
- Mas é verdade! Estou aprendendo muito com ela – eu sorri.
- Ah é?
- Você sabe, as líderes de torcida e os gostosões, estão todos gordos, aparentando serem mais velhos do que são, com cabelo e pele ruim, e são todos empregados dos nerds e dos que eram metidos a músicos...
- Suas reflexões me deixam realmente impressionada! – disse entre risos – Mas é sério, por que vocês nunca foram?
- Ou tínhamos coisa muito melhor pra fazer, ou era pura preguiça, ou simplesmente não tínhamos vontade de olhar pra cara daquelas pessoas. – eu disse enumerando as opções nos dedos – Não tinha ninguém que nós quiséssemos reencontrar daquela época, a não ser você, claro.
- Hm – ela murmurou e abaixou o olhar.
Então um silêncio estranho e incômodo, pelo menos para mim, pairou no cômodo. Ela quer ir? Tipo, é sério mesmo que ela que ir para aquela reunião de ex-alunos idiota onde só tem pessoas hipócritas e... É sério mesmo?
- Quer ir? – perguntei e ela me olhou – Eu convenço os dudes e então podemos ir todos juntos.
- Seria ótimo.
Ela sorriu e tornou a atenção a sua tigela de cereal deixando que um silêncio bem mais confortável se instalasse entre nós, cada qual com os seus pensamentos. Quando terminamos, Demi se certificou mil vezes de que estava com o celular e as chaves de sua casa no bolso do moleton – provavelmente para não correr o risco de desencadear uma futura briga com o noivo –, e por fim pegou o seu cachorro de pelúcia, que tinha passado a noite no sofá. Eu peguei as minhas coisas, carteira, chave do carro e etc. Deixamos o apartamento e enquanto Demi apertava o botão para chamar o elevador, coloquei o capuz trancando a porta, me postei ao seu lado e então o elevador se abriu, revelando três pessoas, que para mim, era muita surpresa estarem ali, principalmente pelo fato de ser tão cedo num dia de semana.
Vêm cá, vocês não trabalham mais?
- Bom saber que ainda estão aqui. Precisamos conversar – Selena disse séria, olhando de cima para Demi, com uma das mãos na cintura.
- O que houve? – ela arregalou os olhos – É a Melannie? Cadê a minha filha? O qu...
- Pode ficar calma Demi – Taylor disse segurando a porta do elevador com a maior cara de sono.
- Não é nada com a Melannie, – Miley completou sorrindo para a prima, que suspirou aliviada – eu já a deixei na escola.
- Ai, que susto Sel! – ela disse repreendendo a amiga com o olhar – Não se diz coisas assim para uma mãe que não está com a cria por perto. Quer me matar do coração?
- Sem querer ser grosso, mas o que vocês estão fazendo aqui? – perguntei – Não deviam estar trabalhando?
- A Sel nos sequestrou – Tay disse entre um bocejo, coçando os olhos – para chegar até a Demi.
- Mas hein? – franzi o cenho.
- Se não é nada com a Melannie, então qual é o problema? – Demi perguntou me puxando e empurrando as outras três de volta pra dentro do elevador – Não me lembro de ter feito nada de errado Sel.
- Ah é? – cruzou os braços a olhando com as sobrancelhas arqueadas.
Eu pude sentir uma pontinha de sarcasmo na voz de Sel e como não estava entendendo nada, apertei o botão para o estacionamento subterrâneo e coloquei as mãos nos bolsos, me encostando num canto do elevador, ficando na minha só para ver no que aquela conversa muito estranha ia dar.
- É.
- Por que eu sou sua amiga e você é minha, não é?
- É – Demi repetiu comprimindo os olhos e olhou para a prima, como se a questionasse sobre o que estava acontecendo e a outra apenas levantou levemente os ombros.
- Então por que diabos, você não me contou sobre Melannie ser filha do Joe? – ela disse e Demi começou a rir.
- É brincadeira isso, não é? – perguntou entre risos, mas Sel continuou séria, então ela cessou o riso aos poucos e arregalou os olhos – Espera, é sério?
- Parece que sim – Mi disse baixinho atrás da prima.
É impressão minha ou o espaço nesse elevador está ficando cada vez menor?
- Selena, você está brava comigo por isso, é sério mesmo? Amiga, está tão difícil de acreditar...
- Claro que estou! Por que não me contou? Eu não era confiável para guardar esse seu segredo internacional? – ela gesticulou exageradamente – Quando eu te conheci você disse que o pai dela era só um cara e não que era JoeJonas! – e apontou o dedo no meu rosto.
Ok, minha respiração começou a ficar pesada mais uma vez e a Sel falando daquele jeito, roubando todo o ar daquele cubículo só pra ela não estava ajudando nem um pouco.
- Eu não tinha contado nem pra ele, que era quem mais importava nessa história toda...
- Então agora eu não sou importante?
- Não coloque palavras em minha boca Selena! Se eu não te contei é porque certamente eu tive uma razão para isso.
- Caralho, está difícil respirar aqui – eu disse um pouco ofegante e fechei os olhos encostando a cabeça no espelho atrás de mim.
- É, o clima está meio tenso – Mi disse.
- Não, está difícil mesmo – eu disse e puxei a maior quantidade de ar possível.
- Ai, meu Deus!
- Respira Joe!
- O que ele tem?
- Joe? – senti a mão dela sobre meu peito e a encarei, vendo três pares de olhos preocupados atrás de Demi, mas foquei apenas nos dela – Calma...
- É, não morre! – ouvi Mi dizer e eu poderia rir se estivesse em melhores condições.
- Concentre-se somente em sua respiração e em mais nada – Demi completou.
Assenti com os olhos cravados nos dela e tentei me estabilizar, sem ouvir nem mais um ruído a não ser o som da minha respiração, sentindo sua mão subir e descer junto ao meu peito.
- Ahm... Pronto? – ela sorriu meigamente e eu vi as portas do elevador se abrirem, então puxei a chave do carro do meu bolso.
- Acho melhor outra pessoa dirigir até o hospital – eu disse e ela olhou da chave para a prima.
- Mi?
- Não tirei carta nem no Brasil, esqueceu? – disse dando um passo para trás.
- Ah é. Tay?
- Tem certeza de que quer confiar em mim pra isso? – ela fez careta – Eu nem acordei direito ainda.
- Sel?
- Está me achando com cara de chofer? – perguntou com cara de poucos amigos, segurando a porta do elevador.
- Por favor, Selena, o Joe está doente, você vai mesmo negar isso a ele? – Demi usou o meu argumento da noite que se passou e eu sorri de lado. Boa garota.
- Mas é só porque ele está precisando – ela disse puxando a chave da minha mão – e porque vocês são três inúteis.
- Ei! – Taylor reclamou enquanto nos saímos do elevador – Você saiu por ai sequestrando pessoas, não está em posição de julgar ninguém...
Sel apertou o botão de destravar o carro e ele piscou no final do estacionamento subterrâneo, as meninas foram na frente brigando com Sel por várias coisas.
Por tê-las sequestrado sem dizer o verdadeiro motivo, por estar brigando com Demi, mas acho que principalmente por tê-las chamado de inúteis. Eu ri fraco, ainda tomando cuidado com a minha respiração e passei um dos braços pelos ombros de Demi, que andava lado a lado comigo.
- Ela vai superar – eu disse me referindo a Sel.
- Claro que vai, mas antes ela vai é me fazer um interrogatório assim que tiver a chance, pra saber tudo o que aconteceu antes de me conhecer e tentar entender porque não contei a ela sobre isso. – deu uma risada contida e me olhou – Você está bem?
- Vou ficar – sorri.
Demi se soltou de mim e nós entramos no carro. Assim como combinado Sel ficou como motorista, Tay no banco da frente, e então no banco de trás ficamos, Mi, Demi e eu, exatamente nessa ordem.
- No hospital de sempre Joe? – Tay perguntou me olhando por cima do ombro enquanto Sel dava a partida e eu apenas assenti.
- Não pense que se livrou, viu mocinha? – Sel disse olhando para Demi pelo retrovisor – Tenho muitas perguntas para te fazer ainda.
- Ninguém quer trocar de lugar comigo? Fiquei bem na linha de tiro – Demi disse e nós rimos.
Por toda a viagem ficamos todos em silêncio, até que já praticamente na entrada do hospital eu vi Miley pegar o cachorro de pelúcia que Demi carregava consigo até então e balançou o mesmo no ar, olhando para a prima com as sobrancelhas arqueadas, a questionando.
- Para! Ele é meu. – ela disse baixinho pegando-o de volta de um jeito quase que infantil e eu sorri comigo mesmo.
Assim que Sel estacionou o carro, nós cinco saltamos do mesmo e fomos direto para a entrada, ao balcão de recepção do hospital. Era costume ir até aquele hospital em especial e na maioria das vezes eu passava com o mesmo médico. Confiabilidade, talvez. Tem muitas coisas que faço e muitos lugares que vou que são sempre os mesmos pelo mesmo motivo. Preenchi uma ficha padrão que seria encaminhada para o clínico geral, então a moça da recepção pediu para que nos sentássemos na sala de espera que logo o médico chamaria por mim e assim fizemos.
- Estou com fome – Tay disse, sentada ao meu lado, depois de alguns minutos de espera.
- Tay, para de reclamar! – Sel disse empurrando a amiga levemente pelo ombro – Desde quando te peguei na sua casa eu só ouço “blá blá blá, Selena, sua vadia, eu estou com sono e com fome” e “blá blá blá, para na Starbucks, me leva de volta pra casa, sua vaca”.
- Eu não estaria reclamando se você não tivesse me acordado de madrugada falando que algo grave tinha acontecido – ela cruzou os braços.
- Desde quando oito horas da manhã é de madrugada? – perguntou e todos nós rimos, exceto Tay.
- Ainda assim estou com fome, sua vaca! – fez careta a Sel jogou as braços pesadamente sobre o colo diante do xingamento – Não deu pra tomar café, porque o Liam estava dormindo.
- Desculpa ai, senhora Taylor Payne que ganha café na cama do namorado – Sel riu levantando as mãos na altura dos ombros.
- Não é isso, é que quando eu não tomo café fico parecendo um zumbi, andando de um lado para o outro. – gesticulou – Fora que fui dormir tarde.
- Ui, a noite foi boa – Mi comentou fazendo as meninas caírem na gargalhada.
- Miley! – Taylor a repreendeu entre risos – Não fala dessas coisas perto do Joe.
- Ok, como se ele fosse muito virgem... – ela ironizou rolando os olhos e as meninas riram novamente – Mas diz aiDemi, você que entende do assunto! O Joe é ou não virg... Outch! – reclamou depois do belo tapa na perna que recebeu da prima.
- Não me envolve – Demi disse séria, porém com as maçãs do rosto rosadas e eu ri.
- Eu estaria curtindo muito mais essa conversa se nós não estivéssemos num hospital – eu disse entre risos passando uma das mãos pelo rosto, sentindo a barba rala e me afundei na poltrona verde em que estava sentado – Mas eu sei que é hora da fofoca, então finjam que não estou aqui, beleza?
- Não é fofoca, só estamos colocando o assunto em dia – Sel sorriu dando de ombros.
- Mas isso não é assunto pra se ter num hospital. – Demi disse calmamente e se virou para a prima – Mi, eu sei que o tempo que você passou com o Liam ontem lhe causou alguns efeitos, mas tem que se controlar prima.
- Você esteve ontem com o Liam? – Tay perguntou entre risos e Mi devolveu o tapa na perna da prima – Ok produção, agora todos os holofotes apontados para a Mi.
- Agora eu entendi o porquê de ele não ter atendido nenhuma das ligações do Justin – Sel disse comprimindo os olhos.
- Gente, a Demetria está querendo criar caso, – ela disse olhando feio para a prima, que tentava reprimir o sorriso – ela sabe que eu estava cuidando da Melannie, que ele só quis ser legal e levou uns doces pra ela.
- É, ele faz mesmo o tipo de cara que leva doces para as crianças só para ser legal – Sel disse e todas riram, mas logo cessaram quando a porta do consultório fora aberta, revelando um senhor baixo e grisalho de jaleco branco.
- Joe Jonas – ele disse e eu me levantei tirando o capuz.
- Tchau Jonas – Tay me mandou um beijo no ar.
- Boa sorte – Mi disse.
- A gente vai aproveitar e ir à cantina do hospital comer alguma coisa – Tay disse já se levantando e eu assenti passando uma das mãos pelo cabelo, o bagunçando totalmente sem nem me preocupar com isso.
Sel acenou, Demi apenas sorriu de leve e eu retribui, então segui para dentro do consultório e fechei a porta atrás de mim, me sentando de frente para o doutor que parecia analisar os papéis sobre sua mesa, provavelmente a minha ficha. Ele levantou seu olhar curioso para mim e deixou os papéis de lado.
- E então Joe, me conte como você está.

Demetria’s POV.

Depois que Joe entrou no consultório as meninas se levantaram e eu, sabendo o que estava por vir, permaneci sentada a fim de esperar por ele, fugir das perguntas de Sel e da pressão psicológica de Mi. Enquanto elas já iam andando, eu cruzei as pernas apoiando um dos cotovelos sobre o braço da poltrona e levei o dedo à boca, mordendo a ponta da unha, olhando para o chão. Resumindo: Disfarçando muito mal.
- Demi? – Sel chamou e eu levantei o olhar.
- Oi?
- Oi Demi, tudo bem? – Mi sorriu sarcasticamente. Ela devia estar louca para me ver numa encruzilhada de perguntas e claro, com o meu terrível talento em não saber contar mentiras isso não acabaria bem. Pelo menos não para mim.
- Vamos logo Demizinha linda, cunhadinha, eu estou com fome! – Tay choramingou mais uma vez e fez bico.
- Vocês podem ir, eu vou ficar aqui e esperar – eu disse abanando o ar casualmente.
- Ah vai, aham! – Sel fez careta vindo em minha direção, pegou em meu braço e começou a me arrastar pelos corredores do hospital. Minha amiga é um amor, a delicadeza em pessoa, eu sei. Mas me deixei ser levada por ela sem nem ao menos prestar atenção nos caminhos que havíamos tomado até chegar à cantina do hospital.
Como eu não estava com fome... Aliás, como eu estava um tanto ansiosa e não conseguiria comer muita coisa naquele momento, então apenas pedi para que Mi me trouxesse uma barrinha de chocolate e me sentei em uma das mesas da cantina analisando minhas unhas, esperando pelas meninas, que logo se sentaram junto a mim com seus lanches e latinhas de suco.
- Nós já estamos prontas, pode começar a falar – Sel disse abrindo sua latinha de suco e eu franzi o cenho rindo.
- Falar o que? – perguntei pegando o chocolate que minha prima me estendia, mas não para adiar o assunto – Pode ser um pouco mais específica?
- Ok, na verdade, tem apenas duas coisas das quais eu realmente quero saber. – e me olhou – Primeiro, por que não me contou?
- Naquela época você não estava namorando o Justin e os meninos já faziam sucesso aqui na Inglaterra, – dei de ombros – achei que se te contasse que tenho uma filha com Joe Jonas, – dei ênfase lembrando-me do modo como ela tinha falado no elevador – você pensaria que eu era uma fã maluca querendo se aparecer ou sei lá...
- Só eu e a minha mãe sabíamos quem era o pai de Melannie. – Mi disse ao meu lado enquanto eu abria e colocava um pedaço de chocolate na boca – Todas nós concordamos que seria melhor manter isso em segredo para que ele não recebesse a notícia de uma pessoa que não fosse a Demi, já que ele é uma pessoa pública...
- Sinto muito se ficou chateada, mas o meu primeiro pensamento era tentar esquecer, entende? – eu disse encolhendo os ombros. Tay que até então comia seu lanche silenciosamente, sorriu de leve ao meu lado e acariciou meus cabelos – Deixar tudo como estava mesmo e ser mãe solteira.
- Para com isso Sel e olha só pra ela! – ela disse enrolando uma mecha do meu cabelo em seus dedos – Demi, você é uma ótima mãe e afinal fez o que é certo, aproximou pai e filha.
- Não estou chateada, só queria e ter certeza de que o problema não era comigo, – Sel sorriu sem graça e as meninas a fuzilaram com o olhar – mas agora eu entendi e concordo com suas razões.
- Ótimo! – eu sorri – Era só isso? Posso voltar pra sala de espera?
- Não, ainda tenho mais uma perguntinha. – ela disse abaixando o tom de voz e pigarreou apoiando os cotovelos sobre a mesa – O que você está fazendo com o Joe?
Breve silêncio.
- Como assim? – franzi o cenho.
- Nunca o vi tratar uma mulher assim como te trata... – gesticulou – Ele está apaixonado por você.
- Não, ele não está apaixonado por mim – eu ri incrédula balançando a cabeça negativamente.
- Ah, claro que não. – ela disse dando uma risada contida – Ele completamente apaixonado por você.
- Sel, talvez ele até goste daquela garota de sete anos atrás, – cruzei os braços – mas não está apaixonado por mim.
- Não acredita mesmo nisso, acredita? – ela franziu o cenho.
- Ela não hesitou, não desviou o olhar quando disse – Mi disse e eu levei a mão à nuca, incomodada – porque é nisso em que ela quer acreditar.
Cala a boca Miley e para de ter razão, para de mostrar para todo mundo que você me conhece bem até demais!
- Ele mesmo já me disse que todos os relacionamentos que teve não deram certo, porque nenhuma das garotas com quem esteve era você! – ela disse e eu respirei fundo sentindo palpitações.
Palpitações? Sério coração, agora não é uma boa hora!
- Nós percebemos que ele está diferente, às vezes parece um tanto quanto conflituoso consigo mesmo, perdido em pensamentos – Tay disse se ajeitando melhor sob sua cadeira e Sel assentia a seu lado, concordando – mas a cima de tudo, ele está feliz! Ele está muito feliz, sorrindo todo momento em que voc...
- Vocês já pararam para pensar que talvez ele esteja feliz pela novidade sobre ter uma filha, mas não por mim? – eu a interrompi.
Eu não queria ouvir aquilo e tenho certeza que se fosse Melannie em meu lugar, ela colocaria as mãos sobre as orelhas fechando os olhos com força e começaria a cantar uma música qualquer fingindo não ouvir. Era exatamente isso que eu queria fazer agora, mas também não queria fazer papel de tonta e imatura, então desliguei as emoções e me coloquei no modo automático, aquele que ignora e faz com que, se for preciso, as verdades sejam ditas sem sentir ou ressentir.
- Ok Demi, ele está feliz por conta de Melannie e sim, ele foi apaixonado por aquela garota de sete anos atrás – Tay tornou a dizer dando de ombros – mas com certeza está se apaixonando por você agora, mais uma vez, seja lá quem você pensa que é hoje.
- O que você está fazendo com ele? – Sel perguntar mais uma vez e eu abri a boca sem conseguir emitir qualquer som – Você está de casamento marcado! Demi, falta quanto tempo?
- Ah, essa eu sei, eu sei! – Mi disse debilmente balançando as mãos no alto – São exatos 27 dias.
As três permaneceram em silêncio me encarando e eu senti que estava diminuindo sob seus olhares questionadores. Ótimo, agora eu sou uma péssima mentirosa e uma traidora que ilude as pessoas. Pessoas no casoJoe. Não estou fazendo nada por mal, ok? O que elas queriam de mim afinal?
- E então? – Sel me incentivou a dizer algo.
- O casamento está marcado – eu disse simplesmente tentando não deixar o tom de dúvida transparecer em minha voz e ouvi Mi suspirar pesadamente ao meu lado. Céus, eu só queria que aquele assunto acabasse logo e dar o fora dali!
- Paciência, fazer o que? Joe vai ter que aprender a lidar com isso – Sel deu de ombros e tomou um pouco de seu suco. Ela gosta de Robert.
- O que? Lidar com isso? – Tay abriu a boca incrédula – Isso é crueldade Demi, ele te ama, tem certeza de que não sente nada por ele? – e me olhou como se suplicasse por um sim. Ela gosta de Joe.
- É óbvio que sente, mas não quer admitir porque “é melhor pra todo mundo”. – Mi disse sarcasticamente fazendo aspas no ar – Mas conta pra elas Demi, por que você não pode desistir desse casamento e deixar o Robert? – disse e mordeu o canto dos lábios, eu a olhei com o cenho franzido, balançando a cabeça quase que imperceptivelmente em negação, querendo que ela calasse a boca de uma vez por todas. Ela gosta de mim.
- Não posso deixá-lo, ele precisa de mim!
- Ele precisa de tratamento! – retrucou com o tom de voz elevado, fazendo com que recebêssemos olhares feios de algumas pessoas que estavam nas mesas a nossa volta.
- Tratamento? – ouvi Tay dizer, mas Mi e eu não quebramos o contato visual.
- O que você pensa que está fazendo? – perguntei em português, aproveitando que somente ela me entenderia.
- Conta pra elas, Demetria – ela disse séria – ou senão eu conto.
- Miley, você não pode, você me...
- Prometi que não contaria ao Joe, aos garotos do McFLY e não contei! Ainda estou cumprindo a promessa. – ela disse e eu puxei as mangas da blusa até metade das palmas das mãos, sentindo um frio percorrer por todo o meu corpo – Você sabe que é exatamente por isso que vou embora depois do casamento...
- Eu não quero que você vá – eu disse baixinho.
- Então conte a elas o que aconteceu na Alemanha Demi, é a única coisa que te peço. – disse me lançando um olhar preocupado. Posso dizer seguramente que não gosto nem um pouco desse tipo de olhar – Eu não quero ver minha prima jogar a vida inteira dela no lixo.
- A felicidade de Melannie, é isso do que eu preciso e nada mais importa – sorri, mas provavelmente deve ter parecido um sorriso amargo.
Era verdade, mas falando assim soou um tanto quanto... Triste.
- Mas não é justo, você não merece isso.
- Ele prometeu que mudaria e está mudando Mi!
- Você tem que parar de acreditar em todas as promessas que te fazem, – ela disse e eu engoli a seco – não é todo mundo que as cumpre e você sabe muito bem disso.
- Erm... Olá, nós ainda estamos aqui! – Sel disse e eu as encarei – Seria bom se vocês nos incluíssem na conversa.
- O que está acontecendo com vocês? – Tay perguntou.
Suspirei sentindo meus músculos ficarem tensos por estar novamente sob a mira de seus olhares, por pensar naqueles dias que eu queria tanto apenas esquecer e seguir em frente, mas agora estava se tornando cada vez mais difícil. Eu já ouvi em algum lugar que as cicatrizes lembram de que o passado é real e agora estou tirando a prova disso.
Mordi o lábio inferior olhando para cada uma das minhas amigas.
Foi doloroso, mas passou, certo? Acho que já está mais do que na hora de me abrir e mostrar que já superei, que passei por muitas situações difíceis e que sou forte agora.
Olhei para Miley que assentiu me incentivando e suspirei mais uma vez.
- Antes de nos mudarmos para a Inglaterra, Robert e eu fizemos um acordo – eu disse simplesmente sem saber direito por onde começar, essa história é tão longa.
- Hã? – Sel franziu o cenho.
- Eu me casaria se ele me deixasse apresentar Melannie ao Joe – tentei explicar.
- Hã? – ela repetiu.
- Espera, apresentar Melannie ao Joe é um direito, por que vocês fizeram um acordo? – Tay perguntou – Não estou entendendo nada.
- Começa do começo e para de tremer – Mi disse e só então eu percebi que minhas mãos estavam trêmulas sobre meu colo.
- Ok. – eu disse ajeitando minha postura, tomei um gole do suco de Mi e suspirei, recuperando minha segurança e firmeza – Vocês sabem que Robert e eu nos conhecemos no Brasil, namoramos por um tempo e nós três moramos juntos na Alemanha, mais especificamente na casa da família dele, certo?
- Mais ou menos. – Sel me olhou de um jeito estranho que se eu não estivesse tão tensa, poderia gargalhar – Mas da família dele? Na casa? Tipo, todo mundo junto? – gesticulou.
- Qual é a dificuldade em entender isso? – Tay riu franzindo o cenho pra ela.
- Ah, sei lá... Era tipo, tudo na mesma casa? – ela perguntou novamente e eu ri, conseguindo relaxar um pouco.
- Ai, chega Selena – Mi rolou os olhos abanando o ar.
- Continua Demi! – Tay disse com um meio sorriso.
- Bem, como eu dizia, morávamos na casa da família, mas a mãe dele não é muito minha fã e me dizia coisas nada bonitas por eu ser brasileira, mãe solteira, não ter contato com meu pai e etc... Por não ser a nora com quem ela sempre sonhou – gesticulei desanimando aos poucos e deixando meu olhar cair sobre a mesa.
- Que vaca! – Tay disse e eu ri fraco. Coitada da vaca.
- Poucas vezes me queixei com Robert, mas nessas vezes ele nunca me dera razão e sempre acabávamos discutindo, então para não afetar nosso relacionamento, passei a guardar alguns sentimentos para mim e ignorar minha querida sogra. – sorri amarelo – Eu não trabalhava, pois Robert não permitia e Melannie estudava em casa, nós quase não saiamos e eu sabia que isso não era nada bom e o primo de Robert...
- Que é muito bonito e totalmente diferente de Robert, diga-se de passagem. – Mi comentou fazendo as meninas rirem e eu sorri sem a real vontade de fazê-lo – Desculpe, pode continuar.
- Ele é um doce, também percebeu que não estávamos bem e me ajudou muito, acabou que nós nos aproximamos e Robert não gostou muito, na verdade ele nunca gostou que outro homem se aproximasse tanto de mim, mas implicar com o primo já era exagero! – eu disse coçando a nuca e sem olhar nenhuma delas nos olhos, abaixando cada vez mais o tom de voz, visivelmente incomodada com o assunto – Nós brigamos de novo, mas dessa vez foi diferente, pois ele me fez acusações doidas, gritou... E... É... – estalei a boca em frustração e suspirei olhando paraMi – Não dá.
- Ele ficou com ciúmes do próprio primo? – Tay disse.
- Acho que tem alguma coisa muito errada aqui – Sel começou – esse não é o perfil do
Robert, não consigo imaginá-lo assim...
- Continua Demi, você está indo bem – Mi disse.
- Não, chega Miley, – eu disse sentindo meus olhos arderem – não quero mais ficar me lembrando dessas coisas.
Fiz menção em me levantar, mas ela segurou meu pulso com mais força do que o necessário e eu não pude evitar que um gemido de dor escapasse. Mi franziu o cenho e mais que rápido puxou a manga de minha blusa para cima, revelando a marca dos dedos de Robert em meu pulso, ainda estava um pouco roxo e um tanto dolorido, o bastante para que o olhar de Mi borbulhasse em ódio.
- Aquele filho de uma... – disse entre os dentes – Ele te machucou, Demi!
- Ele te agrediu Demi? – ouvi Tay perguntar num tom baixíssimo.
- Tem certeza de que estamos falando do mesmo Robert? – Sel riu incrédula – Robert Callagham?
- Não é óbvio Selena? Ele é doente! – Mi disse tentando manter o tom de voz ainda segurando meu braço e me olhou – Demetria, como você ainda se atreve a dizer que ele está mudando?
Puxei meu braço de volta obrigando Miley a me soltar e olhei em volta, me levantando e certificando de que não estávamos falando muito alto e que ninguém estava prestando atenção em nós. Aos meus ouvidos, parecia que estávamos berrando uma com a outra, mas talvez fosse mesmo só impressão minha.
- É melhor assim – eu disse automaticamente.
Sem emoção, sem sentimento. Coisa que aprendi com o decorrer do tempo.
- Ninguém se machuca – completei com o olhar baixo arrumando a manga da blusa e pegando minha barrinha de chocolate sobre a mesa.
- Só você, não é? – ouvi Mi dizer, mas ignorei e dei as costas começando a andar.
Pode me acusar e dizer que fujo das pessoas, das conversas e dos sentimentos, eu já não me importo mais com nada disso. Aliás, eu já não me importo com muita coisa. Eu sabia, tinha certeza de que tinha pelo menos começado a superar, mas parece que não, porque nem sobre isso consigo falar. Talvez a verdade seja que eu não sou tão forte quando gostaria ser, talvez esse seja o meu limite.
Capítulo 18.
Mas, eu estou fazendo a coisa certa, não é?
Ok, eu já começava a ter minhas dúvidas.
Olhei em volta só então percebendo que tinha apertado o passo e começado a perambular sem destino algum pelos corredores brancos e um tanto silenciosos do hospital. Suspirei nervosamente esbarrando em algumas pessoas a procura da saída, eu precisava ficar um pouco sozinha e me sentir calma novamente... Precisava sair daquele lugar imediatamente. Apesar de não ter experiências muito boas em hospitais – assim como boa parte da população do planeta Terra –, o problema não era com o lugar, mas sim comigo. Até mesmo porque me acostumei com lugares como esse, eu estava sempre passando no médico por precaução. Não queria correr o risco de ter um aneurisma assim como minha mãe, já que hereditariedade faz parte do quadro de possíveis causas para a ocorrência do mesmo. Agora eu só precisava de ar puro, depois de seguir a indicação de algumas placas espalhadas pelos corredores, cheguei ao lado de fora do prédio. Respirei profundamente sentindo aquele ar frio bater contra meu rosto e me invadir, coloquei as mãos nos bolsos do moleton e suspirei mais uma vez.
Pronto Demi, vai ficar tudo bem, tudo na mais perfeita ordem.
Olhei para trás agradecendo aos céus por nenhuma das meninas ter vindo atrás de mim. Eu não queria voltar a encará-las ainda hoje, até mesmo porque Mi já devia estar contando tudo o que sabe a elas neste exato momento e isso não era nada bom para mim. Ela não perderia essa chance e eu não posso culpá-la. Mas eu também não podia ir embora dali, não depois de ter de certa forma me acertado com Joe, não podia fazer isso com ele ainda mais hoje por conta do resultado do exame e não podia, de jeito nenhum, fazer isso com Melannie. A quanto tempo ela anseia por isso?
Andei até um dos bancos de madeira que ficavam ali por perto e me sentei tentando não me preocupar com o último acontecimento, pois eu acreditava que Robert estava realmente mudando, mas de qualquer forma, agora eu acho que voltei a sentir medo.

- É sério, fazia tanto tempo que eu não me divertia assim... – eu ri.
- Robert tem que parar de ser um idiota e aproveitar o tempo dele com Melannie e você.
- Não, ele tem andado ocupado esses dias e um pouco estressado, não é nada demais – eu disse e ele balançou a cabeça negativamente enquanto andávamos lado a lado até a porta principal.
- Eu o conheço melhor do que você, acredite.
Silêncio.
- Eu estou quebrada – eu disse entre risos tentando mudar de assunto e ele sorriu.
- Quer que eu a leve?
- Não, pode deixar – eu disse ajeitando a minha filha entre meus braços.
Quando cruzamos a porta fomos recebidos no hall por minha sogra, que tirou Melannie de mim sem dizer uma só palavra ou me olhar. Uma coisa com a qual eu tive que me conformar, ela definitivamente não gostava de mim. E então ela apertou o passo subindo a grandiosa escada revestida por madeira maciça que levava até os quartos. Já estava tarde, então pensei em subir para o quarto também, mas apenas pensei, pois quando dei o primeiro passo Robert apareceu diante de mim.
- E ai, priminho querido? – Robert sorriu estranhamente para o primo que acabava de trancar a porta atrás de nós – Será que eu posso saber onde vocês estavam e o que fazendo?
- Tentando viver – seu primo disse se postando ao meu lado com um sorriso não muito diferente e brincando com o molho de chaves entre os dedos.
Silêncio. Eu franzi o cenho alternando o olhar entre os dois e segurei o suspiro.
- Ahm, eu estou cansada, vou sub... – tentei mais uma vez dar um passo a frente, mas Robert segurou meu braço.
- Não, eu ainda não disse que você pode subir – ele disse a última parte pausadamente desmanchando o sorriso cínico que até então moldava seus lábios.
- Robert, por favor, hoje eu não quero discutir com você – eu disse num tom exausto puxando meu braço para que ele me soltasse, mas Robert só fez apertar ainda mais seus dedos em volta do mesmo.
- Solta ela, cara – disse calmamente, mas Robert ignorou o primo sem desviar seu olhar do meu.
Estranhei o olhar de Robert, nunca o vira daquele jeito antes. Claro que já tivemos discussões horríveis das quais eu não queria nem pensar em tê-las mais uma vez, mas havia uma nuvem negra sobre seu olhar, aquela que não me deixava decifrá-lo e começava a me apavorar levando em conta o fato de ele estar praticamente estraçalhando meu braço.
- Por quê? Por acaso ela é sua noiva agora? – perguntou friamente.
- Robert, – eu disse quase num sussurro e engoli a seco tentando inutilmente me soltar dele – o que está acontecendo? O que há de errado com você?
- Solta ela! – repetiu puxando o braço de Robert para que ele me soltasse.
Senti rapidamente suas unhas curtas arranharem minha pele enquanto sua mão me soltava e fechava-se em punho, acertando o rosto do primo e logo em seguida a barriga. Eu me afastei perplexa, sentindo o ar dos meus próprios pulmões me abandonar. Mas que diabos está acontecendo? 

- Demi? – ouvi uma voz conhecida me chamar e levantei o olhar.
- Me deixa em paz, Miley – eu disse encarando um ponto qualquer a minha frente, me afundando sobre o banco de madeira sem postura alguma. Já estava vestida de qualquer jeito, quem vai ligar pelo modo como eu estava sentada? Eu que não.
- Qual é, Demetria? – ela disse se sentando ao meu lado e eu a ignorei comendo do meu chocolate – Você sabe que eu tinha que contar!
- Não, você não tinha, não devia e não tinha o direito – eu disse ofendia a olhando com o cenho franzido.
- Você não me deixa te ajudar... – ela começou e eu balancei a cabeça negativamente.
- É a minha vida, esqueceu? E eu não preciso de ajuda – eu disse, ela suspirou cruzando os braços.
- Ele já te bateu uma vez, te prendeu num quarto por semanas e te ameaçou, – ela disse num tom baixo e eu abaixei meu olhar – nada o impede de fazer tudo isso de novo! E nada do que eu fizer vai adiantar se você não der queixa ou confirmar minhas acusações.
- Eu não vou fazer isso, não é necessário.
- Ah, a doce defensiva... – ela disse sarcástica e eu ignorei – Eu adoro isso, sabia?
Tornei a olhar para frente prestando atenção no movimento da rua e perto da área do estacionamento e nós permanecemos em silêncio. Quando faltava só um pedacinho para o meu chocolate acabar eu o estendi para Mi.
- Quer? – perguntei simplesmente, sem olhá-la e ela o pegou de minha mão.
- Você foi e ainda é impecável com relação à Melannie... – a ouvi dizer.
- Mi, essa não foi uma deixa para que você voltasse a falar.
- Você planejou tudo isso nos mínimos detalhes – continuou – mapeou os passos de Joe, os lugares que frequenta, onde vive e por fim conseguiu o que queria! Conseguiu encontrá-lo para sua filha. Mas como pode cometer tantas falhas consigo mesma? É trágico.
Mais silêncio.
- Você só pensa nas coisas ruins, não pensa que Robert esteve comigo esse tempo todo, que me fez e ainda faz tudo por mim... – suspirei.
- Mas é exatamente por isso, Demi, essa coisa que acontece entre vocês é ruim demais, pesa mais do que as coisas boas – gesticulou – e esse “tudo” que faz por você é só aquilo que ele acha correto, é limitado.
“É limitado do jeito Robert de ser”. Eu sabia que ela queria e estava se segurando para não dizer isso, porque sabe muito bem que odeio quando o faz. Quando insinua que Robert só faz as coisas do modo dele, do modo que acha certo, do modo que em certos momentos eu não concordo. Mas mesmo assim eu acabava cedendo. Eu tinha que concordar.
- Como será o dia em que ele perder a cabeça e Melannie estiver por perto? O que você vai fazer?
- Eu sei que posso ajudá-lo. Ele pode melhorar.
- Não cabe a você.
- Eu sou a noiva dele.
- A noiva que não o ama verdadeiramente.
Suspirei mais uma vez.
- Por favor, não quero olhares de pena e preocupação pra cima de mim – eu disse me referindo a Selena e Taylor – Eu estou bem, não preciso de nenhum tipo ajuda.
- Tudo bem, eu falo com elas. Mas e quanto ao Joe? – perguntou.
- O que tem o Joe? – eu a encarei e ela arqueou as sobrancelhas.
- Você sabe... – rolou os olhos.
- Ele merece alguém melhor que eu – dei de ombros sem me esforçar em ser convincente.
- E Robert merece uma mulher que tenha um puta saco e que minta melhor do que você, sério! – ela sorriu e eu ri fraco.

- Onde está a minha filha? – perguntei já possessa, saindo da casa rumando de encontro a Robert, que mexia em alguma coisa no porta-malas do carro.
- Saiu com meus pais e a governanta – ele disse sem me olhar e eu bufei passando as mãos nervosamente pelo rosto.
- Quantas vezes eu tenho que dizer que não quero a minha filha fora dessa casa sem a minha permissão? Sem que eu saiba onde ela pode estar? – eu disse procurando me manter calma, odiava quando isso acontecia, odiava o modo como isso estava se tornando frequente e odiava, principalmente, o fato de ninguém me ouvir naquela maldita casa – Podiam pelo menos me avisar para que eu não ficasse tão preocupada! Essa casa vazia e enorme me dá nos nervos, nunca se sabe o que está acontecendo no quarto ao lado.
Robert permaneceu em silêncio mexendo em sei lá o que, não me dando atenção, o que definitivamente não me ajudava nem um pouco a me acalmar. Postei-me a seu lado a fim de ver o que ele estava fazendo, o vi colocar uma mala junto a outras três dentro do porta-malas e fechou o mesmo logo em seguida.
- De quem são essas malas? – franzi o cenho enquanto ele esfregava as mãos uma na outra e tornava a caminhar em direção a casa – Robert?
Entrei na casa logo atrás dele e o mesmo fechou a porta, ainda sem me olhar em momento algum.
- Ei, fale comigo! – eu disse procurando por seu olhar – Seus pais e a governanta saíram com Melannie, onde está o seu primo? São as malas dele que você...
- Por que diabos você quer saber, hein? – ele disse num tom agressivo finalmente me olhando nos olhos e eu me assustei dando um passo atrás – Quer se divertir me assistindo quebrar a cara dele mais uma vez como na semana passada aqui no hall? Mas no mesmo lugar, Demetria, tem certeza?
Ele sorriu de lado balançando a cabeça negativamente, sombriamente lembrando-me do dia em que pela primeira vez ele me olhou e sorriu daquela forma fria e assustadora que com mais um pouquinho de maldade em seu jeito, podia ser facilmente classificado como mórbido. Naquele dia eu fiquei completamente atônita, sem ação alguma quando ele deixou seu próprio primo caído no chão com o nariz e o supercílio sangrando. Soltei o ar lentamente tentando não causar ruídos e arrumei a postura me sentindo intimidada. Droga Demetria, você já conseguiu ser mais firme.
- El... – gaguejei e fechei os olhos fortemente por breves segundos me amaldiçoando mentalmente por isso – Ele está indo embora?
- Você quer ir também? – disse ainda usando aquele mesmo tom que começava a me ferver o sangue e deu um passo em minha direção franzindo o cenho.
- Por acaso eu deveria querer? – imitei seu gesto sem saber realmente com quem ou o que eu estava lidando.
- Eu não quero, não admito que ele fique aqui nem mais um dia e você, Demetria, deve é cumprir o seu papel de noiva e parar de sair por ai...
- Eu não acredito no que você está me dizendo! – franzi o cenho, incrédula – Fala como se eu fosse uma vadia que sai toda noite. Robert, você está ficando doente e eu louca por insistir em ficar aqui contigo! – eu disse balançando a cabeça negativamente e comecei a andar em direção a escada.
- Onde você está indo? – perguntou vindo atrás de mim, e eu percebi seu tom se alterar.
- Vou dar um jeito de voltar para casa – eu disse simplesmente e mais uma vez, antes que eu pudesse sequer chegar perto do primeiro degrau, ele segurou meu braço sem medir forças, me virando para si.
- Você não vai à lugar algum! – disse entre os dentes e me soltou, empurrando-me contra a parede.
- Esse seu ciúme idiota está passando dos limites! – eu disse me aproximando novamente, lutando contra a fraqueza que me tentava a deixar de segurar as lágrimas – EU NÃO QUERO TER QUE LIDAR COM ISSO!
Gritei e logo senti o lado esquerdo de meu rosto esquentar, a pulsação aumentar instantaneamente e parte de minha boca ser tomado por um gosto que agora me parecia muito mais amargo. Eu me vi encarando o chão, sem reação por conta do forte tapa que ele me deu. Levei uma de minhas mãos ao meu rosto, havia trilhas de lágrimas sobre minha bochecha, meu lábio inferior dolorido e também molhado, eu afastei a mão a fim de vê-la e havia sangue nela.
- VOCÊ NÃO VAI! – gritou e eu o olhei, ele encarou minha boca por alguns segundos e depois minha mão trêmula com seu olhar frio se desfazendo – E-Eu te machuquei...
- Não chega perto de mim – eu me afastei ainda atordoada assim que ele deu um passo à frente.
- Demetria, me desculpa. – pediu me puxando vagarosamente para perto de si apesar de minha relutância – Por favor, não tenha medo de mim. Venha, eu vou cuidar de você.
Então ele começou a andar ainda comigo entre seus braços, forçando-me a acompanhar seu passo. Eu não sabia o que fazer ou o que pensar, ainda estava confusa com o que aconteceu e com medo de tentar me desvencilhar e ele acabar me machucando mais uma vez. Robert me levou para uma das suítes que ficavam ainda no térreo para os hospedes e me sentou sobre a cama.
- Eu já volto – ele disse tentando alcançar meu rosto, mas eu me esquivei.
Ainda com o olhar baixo, apenas assisti seus pés se movimentarem até a porta e assim que ele sumiu, eu curvei meu corpo para frente apoiando os cotovelos sobre os joelhos e levei as mãos ao meu rosto molhado. Por que, meu Deus, Robert estava agindo daquela forma? O que havia acontecido com o meu noivo afinal? E eu que achava que agora tudo daria certo... Doce ilusão.
Logo ele voltou e me estendeu uma bolsa de gelo, eu o olhei brevemente, mas pude perceber que sua expressão dura havia o deixado. Peguei a bolsa evitando qualquer tipo de contato físico com ele, nem que fosse o mínimo, e a levei até a parte atingida sem poder evitar que um muxoxo escapasse por entre meus lábios sentindo o olhar de Robert sobre mim. Ele soltou um suspiro pesado e passou a andar de um lado para o outro, inquieto.
- Desculpe-me, ok? Desculpe, – ele disse num tom baixo – eu não queria te machucar.
“Desculpas agora não vão aliviar a minha dor”, pensei em dizer e mesmo querendo muito, não o fiz. Eu sabia que isso não ajudaria em nada.
- E me desculpe por isso também – ele disse e eu o olhei imediatamente.
- O que você vai fazer? – perguntei tirando a bolsa de gelo do rosto, a deixando de lado e me levantei ao vê-lo se afastar em passos largos, o segui, mas ele fechou a porta e eu pude ouvi-la se trancar pelo lado de fora – Robert, abre essa porta!
Levei as mãos à maçaneta e tentei forçá-la a se abrir mesmo sabendo que era inútil. Depois de perder minhas forças chutando e batendo várias vezes contra a porta sem ter nenhuma resposta, eu soltei um suspiro entrecortado e exausto, encostei minhas costas contra a porta me deixando deslizar de encontro ao chão e abracei minhas pernas contra o peito. Chega de segurar o choro.
- Você não pode me deixar Demetria, – o ouvi dizer – não pode. 

Puxei a maior quantidade de ar possível e me levantei. Era como se tivesse mergulhado naquela terrível imensidão que eram essas lembranças, eu já estava me sentindo mal.
- Quero ir pra casa, Miley. Agora – eu disse olhando em volta, um pouco perdida.
- Opa, calma! – Miley disse postando-se a minha frente com o cenho franzido, tentou tocar meus ombros, mas eu me esquivei – Ei, nós já vamos embora.
Mordi os lábios sentindo um nó se formar em minha garganta e meus olhos arderem, levei as mãos aos mesmos. Definitivamente, lembranças não deviam causar tanto impacto.
- Soaria ridículo se eu dissesse que quero a minha mãe?
- Ai Demi, claro que não. – ela disse me abraçando e eu soltei um suspiro falho – Fique calma, pense que hoje é um dia importante para Melannie... Não é só ela quem realmente importa?
- Sim – eu disse me desvencilhando de seus braços, a encarei e funguei colocando uma mecha do cabelo atrás da orelha.
- Desculpe, mas depois você vai me agradecer muito por isso – ela disse dando um meio sorriso.
- Miley, eu não sou a mocinha indefesa que precisa ser salva.
- Então pare de agir como uma! – ela retrucou, eu estalei a boca rumando para dentro do hospital e ela veio atrás – Quer saber? Eu cansei desse assunto.
- Pois é, eu também – eu disse vendo-a ficar ao meu lado, acompanhando meu passo.
- Você é muito teimosa e cabeça dura, porque fica dando murro em ponta de faca. – ela disse e eu rolei os olhos – Mas tudo bem, agora que você não quer falar sobre isso, então me conta logo como foi a sua noite com o Jonas.
- Você só pode estar brincando comigo – eu ri parando de andar, mas sabia que ela só estava fazendo isso para me distrair.
- Vai me dizer que ele não tentou fazer alguma coisa? – disse sugestiva e eu ri mais uma vez.
- Mi! – a repreendi – Também não quero falar sobre isso.
- Ah, não quer falar do noivo idiota e nem do namoradinho, pai da filha... – gesticulou exageradamente – Está difícil hoje, hein? Quer falar sobre o que?
- Sei lá, – dei de ombros – por que não falamos sobre o Liam?
- Liam, Demetria, quem é Liam? – disse com um ar de deboche.
- O cara que foi ao seu apartamento ontem. – eu disse num tom divertido passando um dos braços sobre seus ombros enquanto tornávamos a andar – E levou doces, ele não é um amorzinho de pessoa?
- É um idiota! – ela disse cruzando os braços.
- Eu vou rir tanto quando você tiver que admitir que gosta dele.
- Eu não gosto dele! – disse num tom agudo que me fez rir – Olha aqui, sou eu quem vai rir muito, gargalhar de rolar no chão, quando você tiver que admitir que ama o cara que está tomando soro nesse exato momento e eu vou esfregar isso na sua cara pelo resto da sua vida.
- Joe está tomando soro? Por quê? – perguntei e ela sorriu esperta.
- Admitiu! – ela riu – Nossa, foi bem mais fácil do que eu imaginei.
- Joe está tomando soro? – repeti ignorando toda a sua felicidade.
- É, ele foi encaminhado para outro andar, precisava de uma boa hidratação e o médico também receitou alguns analgéticos – explicou – Mais um pouco e ele teria inflamação dos brônquios.
- E a febre?
- Era apenas o corpo reagindo – deu de ombros.
- Menos mal – eu disse distraída, agradecendo mentalmente por Joe ter me ouvido e ter passado no médico. Ele sempre odiou essas coisas.
Segui Mi cruzando com algumas pessoas pelos corredores até uma sala de espera diferente da outra em que estávamos antes. Diferente apenas por ser em outro andar, pois os móveis, as cores e até os objetos de decoração pareciam os mesmos. Mi ficou em pé de braços cruzados próxima a uma das portas que havia ali, a qual eu deduzi ser a sala em que Joe estava e eu me sentei de frente a ela em uma das poltronas verdes. Fechei os olhos por longos minutos e logo que os abri, duas pessoas se sentaram nas outras, uma de cada lado.
- Tudo bem você achar que ele pode mudar e melhorar – Sel disse.
- Sim, tudo bem, apesar de eu achar isso tudo muito errado e espero que fique bem claro a minha opinião sobre! –Tay disse ao meu lado – Mas nós estaremos aqui por Melannie e você para apoiar suas decisões e ajudar no que for preciso.
- E nem pense em esconder coisas de nós outra vez – Sel comprimiu os olhos para mim e eu dei um meio sorriso – principalmente se... Bem, você sabe, se ele passar dos limites.
- Obrigada – suspirei e as duas entrelaçavam seus braços aos meus, uma de cada lado.
- Vem cá, Mi, meu amor – Sel a chamou dando dois tapainhas na perna e eu ri enquanto as elas começavam uma conversa idiota e Tay encostava a cabeça em meu ombro.
- Para que dê certo, cunhada, você tem que admitir para si mesma. – Tay disse em um tom baixo para que apenas eu ouvisse e automaticamente senti meus músculos se tencionarem sob minha pele, já tendo uma ideia do que ela me diria – Admita que ama o Joe e está com Robert por pena.

- Não está mais tão ruim – ele disse segurando meu queixo e eu afastei sua mão de mim, me arrastando para sentar do outro lado da cama e manter uma distância segura.
- Onde está Melannie? – perguntei puxando as cobertas para mais perto. Fazia alguns dias que eu estava trancada naquele maldito quarto, a única coisa que eu queria desesperadamente naquele momento era vê-la.
- Você não vai tomar do café que eu te trouxe? – perguntou indicando a bandeja a sua frente sobre a cama. Ela me parecia convidativa, mas decidi que não iria comer enquanto permanecesse trancada ali.
- Não. Eu quero ver a minha filha. Agora.
- Você não precisa agir dessa forma comigo...
- O que você fez com ela? – perguntei com cautela mesmo sentindo um medo crescente, mas tentando parecer estável. Não adiantava me desesperar.
- Demetria... – ele começou se sentando na beirada da cama.
- Eu só quero saber sobre a minha filha – eu o interrompi.
- Ela está bem! – disse enfim – Eu não faria mal nenhum a ela, não é ela quem vem me decepcionando.
- E sou eu quem está? Você é inacreditável. – eu ri incrédula – Por que não me deixa mofar aqui sozinha?
- Demetria, eu estou tentando me entender contigo...
- Ah, então tudo bem você me bater de vez em quando? – o interrompi rindo sarcasticamente, Robert manteve o olhar baixo e maxilar tenso, eu sabia que ele não estava gostando de minha atitude, mas eu já havia explodido – Não, Robert, não tente se entender comigo! Faça logo o que você faz de melhor, me trate como lixo, afinal pra que pedir desculpas já que sou eu quem sai todas as noites agin...
- CALA A BOCA! – ele gritou jogando a bandeja contra a parede e se virou rapidamente para mim, prendendo meu pescoço entre a cabeceira da cama e uma de suas mãos, pressionando fortemente contra minha garganta – Amor, você tem que parar com isso.
- Solta – balbuciei.
Tentei puxar a maior quantidade de ar, mas era simplesmente impossível. Agarrei, cravei minhas unhas em seu braço implorando que me soltasse, Robert balançou a cabeça negativamente e passou a mão livre pelo meu rosto. Se eu já não estivesse imaginando coisas, poderia jurar que seus olhos ficaram gradativamente avermelhados.
- Eu já disse que não queria ter que te machucar. – ele disse – Não chore, meu amor, apenas prometa que será uma boa noiva, que não vai me deixar e então nós nos resolveremos. 

- Eu acho que vou embora. – Mi, que estava sentada no colo de Sel jogou todo o seu peso sobre a mesma – Joe está demorando demais e eu já sei o resultado desse exame mesmo.
- Não, a Melannie vai gostar de te ter por perto – eu disse e ela concordou dando de ombros.
- Ah, é hoje que vocês pegam o resultado? – Sel perguntou e eu assenti – Posso ir junto?
- Claro.
- Meu carro ficou em frente ao prédio do Joe, terei que voltar lá pra buscar – ela disse pensativa e nós rimos.
- Que burra! – Tay disse entre risos sentando-se corretamente – Eu vou também. Você me trouxe, você me leva.
- Já vi que ninguém vai trabalhar hoje, não é? – Mi perguntou e nós quatro nos entreolhamos.
- Até parece.
- Nem morta!
- Eu ia, mas depois dessa animação toda de vocês já até desisti – eu disse e elas riram.
- Seria tudo muito mais fácil se nós também formássemos uma banda, não é? Mas teríamos que ser mais criativas do que os meninos e não colocar o nome de alguma coisa que faça parte do cardápio do McDonald’s – Mi disse e nós tivemos que segurar para não rir alto.
- É por causa do filme, palhaça – Sel lhe deu um peteleco.
Elas sabem me distrair e descontrair muito bem. Menos de cinco minutos e aquela conversa boba já tinha me deixado muito mais leve. Com algumas indagações, mas nada em que eu não pudesse parar para pensar melhor mais tarde, agora eu estava me divertindo na sala de espera de um hospital. Quem diria?
Depois de mais um tempinho de espera com Mi falando besteiras, Joe saiu da sala com um aspecto mais saudável por não estar mais tão pálido, e uma cara de sono. Não é à toa, já que tomar soro derruba qualquer um.
- Então elas também vão? – ele perguntou em meio a um bocejo quando já estávamos do lado de fora do hospital e eu assenti.
Estávamos sentados lado a lado naquele mesmo banco em que eu estive minutos antes com Miley, que conversava com Tay em pé um pouco mais a frente na calçada, enquanto esperávamos por Sel que foi buscar o carro.
- A Mi me falou sobre uns analgéticos... – eu disse.
- Eu peguei a receita – disse puxando do bolso um papel que deve ter sido dobrado pelo menos cinco vezes até chegar àquele tamanho, e depois piscou o colocando no lugar.
Eu gostava daqueles olhos castanhos.
- E pode deixar, tomarei tudo diretinho, – tornou a dizer – não gostei de vir ao hospital.
- Ninguém mandou não se cuidar depois daquela chuva – eu arqueei as sobrancelhas e ele sorriu de lado.
Droga, eu também gostava daquele sorriso.
- Não gostei nem um pouco de ficar doente, mas quando me lembro daquela noite... – ele disse se acomodando melhor sobre o banco, cruzou os braços encostando a cabeça na parede atrás de si e fechou os olhos – Eu já não me importo mais.
Continuei a encará-lo sentindo minhas bochechas em chamas. Poxa, Joe! Você bem que podia me mandar ir passear, não é? Facilitaria muito pra mim, mas não, você tem que ser esse cara que qualquer mulher quer ter a seu lado, que não desiste, que demonstra... Que está me deixando confusa e me fazendo pensar seriamente sobre minhas decisões. E aqui estou eu mais uma vez, me sentindo uma completa idiota.
- Demi? – Mi me chamou indicando o carro que já estava parado a frente da porta do hospital.
Toquei o ombro de Joe que abriu os olhos preguiçosamente e se levantou. Ele abriu a porta do banco de trás e fez uma reverência engraçada e exagerada para que Mi e eu entrássemos e assim o fizemos, se sentou ao meu lado eTaylor foi no banco da frente.
- Já vou logo avisando que tem um monte de paparazzi lá fora, equipados até o pescoço, de carro e tudo mais – Sel disse se virando e olhando de Joe para mim.
- Sério? Quem será o famoso que está aqui? – Mi brincou olhando pela janela e Joe riu.
- Por mim tudo bem – ele deu de ombros e depois todos olharam para mim.
- Tudo bem – dei de ombros.
Tudo bem, não é? Fazer o que?
- Então vamos logo, estou ansioso – ele disse esfregando as mãos uma na outra e nós rimos.
Sel tornou a posição correta e deu a partida. Ainda um tanto insegura, levei uma das mãos à nuca e suspirei. Paparazzi já me trouxeram alguns problemas antes, mas não posso adiar o inevitável, essa nunca é a melhor opção. Fora que se Joe estava ansioso, Melannie devia estar uma pilha de nervos para ter oficialmente um pai, e confesso que eu também estava ansiosa para ter esse laudo em minhas mãos o quanto antes.
Pegamos Melannie no colégio e ela entrou no carro toda empolgada ao ver que as meninas também estavam ali. Beijou meu rosto e sentou-se no colo da tia perguntando por que Joe estava tão quieto. Ele estava com um cotovelo apoiado na porta e a mão cobrindo os olhos, e ela riu quando expliquei o que havia acontecido. Estava cochilando, coitado. Mas quando sugeri que o levássemos para casa ou sei lá, ele acordou na hora e se recusou dizendo que queria ir até a clínica, então eu tive que concordar dando o endereço e as coordenadas para chegar à clínica paraSel, que só não foi mais rápida por causa do engarrafamento daquele horário. Demoramos mais do que o normal, mas enfim chegamos.
- Joe, – eu o balancei pelos ombros enquanto as meninas já saltavam do carro – acorda! Nós já chegamos.
- Já? – perguntou depois de um tempo me olhando com os olhos miúdos e eu assenti.
Joe se ajeitou sem demoras, nós também saltamos do carro e assim que ele viu Melannie abriu um sorriso, foi de encontro a ela, que sorriu da mesma forma. Entramos na clínica e logo fomos falar com a moça no balcão.
- Que demora, hein? – ouvi uma voz conhecida atrás de mim e ri ao me virar e ver Liam, Justin e Liam ali parados à minha frente.
- Amor! – Tay sorriu largamente e abraçou o namorado – O que vocês estão fazendo aqui?
- O Justin chamou a gente.
- Justin Bieber, seu linguarudo! – Sel o repreendeu com um tapinha no braço – Eu liguei para só você vir, por acaso você sabe se a “nova família Jonas” queria a tropa McFLY inteira aqui? – ela disse nos indicando e eu levei uma das mãos à boca, rindo.
- Ei, nós conhecemos a Demi antes, temos mais direitos do que você – Liam disse apontando o dedo para ela, que fez cara feia.
- Pois é, e se teremos um novo membro na família, nós devemos estar aqui para assistir a esse momento glorioso –Justin disse cheio de pose.
- Está querendo impressionar que falando desse jeito? – Miley debochou fazendo todos rirem. Ela está toda engraçadinha hoje, não acha?
Olhei para Melannie com as sobrancelhas arqueadas e ela levantou levemente um dos ombros com um sorriso divertido moldando seus lábios. Ela sabia o que eu queria dizer.
- Podem ficar, não tem problema algum. – eu disse os olhando brevemente e voltei a atenção à moça que nos atenderia – Ahm, viemos pegar o laudo do exame.
- Nomes, por favor.
- Joe Jonas e Melannie Lovato – eu disse e ela digitou no computador.
- Srta. Demetria Lovato? – ela me olhou.
- Sim.
- Eu preciso dos documentos dos dois, por favor – ela disse e depois de entregarmos os documentos, mexeu em mais não sei o que no computador e nos devolveu os mesmos se levantando logo em seguida com um sorriso cordial no rosto.
- Os senhores podem me acompanhar? – perguntou e eu assenti levemente.
Todos nós passamos a segui-la até um escritório de piso de madeira escuro e paredes brancas cobertas por quadros cubistas coloridos. Havia uma mesa de vidro com um notebook sobre a mesma, alguns papéis, canetas e porta retratos. Frente à mesa tinha apenas duas cadeiras onde Joe e eu nos sentamos. E eu com Melannie em meu colo.
- Só um minuto, ok? O doutor já virá atende-los e fazer alguns esclarecimentos sobre o resultado – ela disse e deu um último aceno de cabeça e deixou a sala.
Melannie alisava a ponta de uma mecha de seu cabelo repetidamente, Joe balançava a perna na mesma medida e eu podia sentir os olhares dos outros pesarem sobre minhas costas. Eu já estava ficando aflita com isso, com essa tensão pela espera. Imagine essa mesma sensação por sete anos.
- Ela é gostosa – ouvi Liam dizer atrás de nós e gargalhamos.
- Boa tarde! – um moço de roupa social branca disse entrando na sala envelopes em mãos e fechou a porta atrás de si – Nossa, quanta gente – comentou sorrindo, sentando-se e eu soltei uma risada contida.
- É a família, doutor – Liam se manifestou mais uma vez fazendo todos rir.
- Ótimo, ótimo... – ele riu – Eu sou o doutor Ward. Tudo bem com os senhores?
- Aham – Joe e eu murmuramos em uníssono.
- Bem, Demetria e Joe, vamos ao que importa? Esses ficam com vocês. – ele sorriu nos estendendo os envelopes, puxou uma caneta e outro papel, colocando-o sobre a mesa, de modo que pudéssemos vê-lo – Seremos práticos, ok? Este é um exemplo do laudo que cada um dos senhores tem nesses envelopes, essas primeiras páginas – ele começou as folheando – são descrições mais detalhadas sobre processo de análise das informações genéticas e etc. Na página cinco, exatamente aqui – e circulou com a caneta em certa altura da página um número já em negrito – está descrito em porcentagem o resultado, no caso, se o senhor Joe Jonas é mesmo o pai de Melannie Lovato.
- Erm... E já pode abrir? – Joe perguntou.
- Se preferirem. – o doutor gesticulou – Seria bom, pois se tiverem alguma dúvida em relação ao laudo, ela já pode ser esclarecida agora mesmo.
Joe olhou para o envelope em mãos, ameaçou abri-lo, mas tornou a olhar para o moço a nossa frente.
- O que tem nesse envelope é o mesmo que tem no da Demi, não é? – perguntou.
- Sim, são duas vias do documento original que fica aqui na clínica.
E então olhou novamente para o envelope, para o doutor, para Melannie, para o envelope mais uma vez e depois para mim.
- Abre o seu primeiro – pediu sorrindo sem jeito.
Eu ri fraco dando atenção ao lacre do envelope, o tirei e puxei as folhas para fora do mesmo. Folheei até a página quatro assim como o doutor havia explicado as segurando com uma das mãos e senti a outra ser envolvida carinhosamente por uma mão grande, quente e até um pouco suada.

Há quantos dias eu estava ali? Fazia semanas, talvez. Eu já não tinha ideia, não comia direito e em todo esse tempo não pude ver Melannie, o que era pior do que qualquer outro castigo. Não se tem muitas coisas para fazer quando se está trancada em um quarto, a não ser olhar para o teto e pensar em uma forma como sair de dali. Eu havia entendido, mas não queria acreditar que tínhamos chegado a esse ponto. O segredo era a submissão e não adiantava travar qualquer briga entre nós, eu acabaria perdendo por ser mais fraca fisicamente e ele tão desequilibrado emocionalmente. Toda vez que bati de frente com ele, fui eu quem saiu machucada.
Pela primeira vez naquele dia eu ouvi a porta ser destrancada pelo lado de fora, me sentei sobre a cama colocando as pernas em volta do corpo e respirei profundamente. A governanta com o nome que eu nunca consegui pronunciar muito bem e menos ainda entender o que dizia, entrou no cômodo com a conhecida bandeja de café da manhã e a colocou a minha frente sobre a cama. Ela deu um leve aceno de cabeça parando seu olhar em meu pescoço e deu as costas saindo rapidamente pela porta. Se ela sabia o que estava acontecendo? Eu não tinha dúvidas. Era ela quem trocava as roupas de cama, me trazia as refeições que eu quase não comia e trazia também as roupas limpas que agora já não serviam em mim, pois eu havia emagrecido. Mas todos naquela casa deviam saber. Eu apenas torcia para que Melannie não soubesse.
Justinei um pouco do suco de laranja que estava na bandeja e vi Robert entrar. Ele fechou a porta atrás de si e se aproximou cruzando os braços.
- Como está se sentindo? – perguntou e eu o olhei dando um sorriso fraco.
- Estou bem.
- Acho melhor você comer alguma coisa.
- Eu vou – eu disse entre um suspiro e tornei minha atenção a minha bandeja.
Passei manteiga em uma das torradas que havia ali e a comi calmamente, eu já estava um pouco fraca devido aos dias sem me alimentar corretamente. E alguma coisa me dizia que todo aquele café da manhã não saciaria minha fome, mas mesmo assim eu não conseguiria comer. Robert se sentou a beirada da cama e eu o olhei de canto de olho, ele me parecia calmo.
- Eu estive pensando, – suspirou – quando se sentir melhor, você pode voltar a trabalhar.
- Ahm... As coisas não são assim, nada será mais o mesmo.
Breve silêncio.
- Eu pedi desculpas, Demetria.
- Robert...
- Por favor, – ele começou ajoelhando-se no chão ao meu lado – me diga o que mais eu posso fazer para te provar que me arrependo de tudo de ruim que te fiz?
- Eu estou com medo Robert, não te reconheço mais. – eu disse num tom baixo e ele suspirou pesadamente.
- E então você quer ir embora, é isso o que você está querendo dizer?
Mais silêncio.
- Eu não vou te deixar ir. Você não pode, eu preciso de você aqui comigo.
Engoli a seco mexendo no anel de noivado em meu dedo e ele segurou minhas mãos.
- Eu sinto muito, sei que passei dos limites, – ele disse com a voz um pouco trêmula me olhando nos olhos – mas eu vou mudar se você ficar e faço tudo o que você pedir, qualquer coisa. Você quer trabalhar, que Melannie estude numa escola? Tudo bem, eu concordo com tudo.
- Qualquer coisa que eu quiser? – perguntei num fio de voz.
- Sim, qualquer coisa – disse por fim e eu pigarreei.
- Eu quero poder tomar as minhas próprias decisões, não quero que você me prenda – eu disse ainda tentando manter a voz firme – Nós estávamos bem, Robert, você mudou de repente.
- Eu juro que vou melhorar, apenas me dê uma chance para te provar isso – ele disse e eu suspirei pesadamente.
Eu tinha um sentimento forte por Robert, se eu não gostasse dele e se ele não fosse bom comigo e Melannie, eu não teria entrado naquele avião para morarmos todos juntos aqui na Alemanha. Também tinha plena consciência de que não podia dizer seguramente que o amava. Eu já amei antes e aquele sentimento era totalmente diferente do que eu senti antes mesmo de Melannie nascer. Mas Robert esteve comigo esse tempo todo e me ajudou em muitas coisas. Eu reconheci o Robert de alguns anos atrás, aquele homem gentil e carinhoso que me tratava como se eu fosse a pessoa mais importante de sua vida, ele estava agora ajoelhado a minha frente pedindo para que eu ficasse. Eu não podia simplesmente deixá-lo para trás dessa forma, podia?
- Nós podemos tentar. – eu disse ainda em dúvida e ele deixou que um meio sorriso brotasse em seus lábios – Mas tem uma coisa que eu preciso te pedir e nós vamos fazer isso juntos.
- Qualquer coisa – disse e eu senti um pouco de ansiedade em seu tom.
- Lembra-se de quanto eu lhe contei sobre Joe Jonas? – perguntei e ele assentiu – É isso o que eu quero, quero acertar as minhas... Pendências com ele.
- E nosso noivado continua, certo?
- Acha que podemos fazer isso? – insisti e o vi sorrir verdadeiramente.
- Eu posso fazer tudo por você – ele disse e depois de um tempo eu assenti.
- Então tudo bem – eu disse e Robert me abraçou suavemente.
- Eu te amo tanto! – e beijou meu ombro – Você faz a sua parte, eu faço a minha e vai dar tudo certo! Você não vai se arrepender, eu prometo. 

- Eu queria que você fosse o meu pai.
- Queria? Não quer mais?

#Demetria’s POV End

Capítulo 19. Pausa dramática, por favor

Cos I can tell you right now that you’ll never find evidence on me, that’s the truth…
Oh, oh, oh…
Yeah, that’s the truth…
Oh, oh, oh, oh…
- Perfeito! – Liam gritou jogando as mãos para o alto com um sorriso enorme no rosto em meio aos nossos próprios assovios e palmas no final de mais uma música.
- Qual o próximo destino? Paradas de sucesso! – Liam disse entre risos e bateu na mão de Justin num high Five.
- Então terminamos por aqui? – perguntei olhando para o meu relógio de pulso e deixando meu instrumento.
- Ahm, mais ou menos – Justin disse e eu o olhei com o cenho franzido.
- Como assim mais ou menos? – perguntei me aproximando deles – Cara, eu tenho que ir...
- Temos que passar algumas músicas ainda... Sinto muito informar, mas nem todas estão perfeitas – ele explicou – e o Dallas disse que talvez passasse por aqui mais tarde.
- Talvez! O que mostra que ele não deu certeza. – gesticulei sorrindo esperto e ele comprimiu os olhos para mim – Qual é, Bieber? Quebra essa para o seu melhor amigo.
- Mas ele disse que tem uma coisa muito importante para nos dizer – ele insistiu e eu juntei as mãos em sinal de súplica.
- Por favor...
- Aonde você vai? – Liam perguntou.
- Combinei com a Demi que buscaria a minha filha no colégio hoje – dei de ombros sorrindo de lado e eles riram.
Minha filha. Não estava sendo difícil me acostumar a chamar Melannie dessa forma, o difícil era conseguir tirar o sorriso do rosto depois que o fazia. Agora sim, sou oficialmente o pai de Melannie... Melannie Jonas? Melannie Jonas. É, bonito! Eu ri dos meus pensamentos idiotas cruzando os braços e Liam apertou minha bochecha.
- Anw, que bonitinho, ele está todo feliz porque o exame deu positivo – ele disse entre risos.
- Qual é, cara? Aquilo só não daria positivo se alguém trocasse os exames – Liam rolou os olhos.
- Isso pode acontecer – ele arqueou as sobrancelhas.
- Claro que pode... – ele disse irônico – Na novela que você assiste toda noite.
- Aquela novela é muito realista, ok?
- A conversa está muito boa, – sorri sem mostrar os dentes e coloquei uma das mãos sobre o ombro de Justin – mas eu vou nessa!
- Joe! – ele protestou.
- Bieber, eu acho que neste caso ele só não pode, mas como deve ir – ele disse para Justin dando ênfase a suas últimas palavras.
- Então agora você o defende? – ele perguntou o olhando irônico com as sobrancelhas arqueadas e nós rimos – Viraram amiguinhas novamente?
- Ciúmes? – Liam perguntou passando um dos braços sobre os ombros de Justin, que rolou os olhos.
- Claro que estou com ciúmes, em todos esses anos era eu quem o defendia. – ele disse entre um suspiro – Mas vai,Joe, aproveite muito e divirta-se! – disse num tom exausto e eu alarguei meu sorriso.
- Por isso que eu te amo – eu disse segurando seu rosto entre minhas mãos com força, já que ele tentou fugir e lhe dei um beijo estalado no rosto.
- Sai fora, Joe! – ele me empurrou rindo e eu fiz bico – Seu gay!
- Na verdade, eu estou orgulhoso dele – Liam tornou a falar e arqueou as sobrancelhas para Justin – Joe, costuma ser muito frouxo.
- Hã?
- É verdade, cara – Justin concordou e eu franzi o cenho – Você é meio mole...
- Principalmente com mulheres – Liam disse e eu abri a boca em incredulidade.
- Eu não sou assim!
- É sim, você nunca faz o que realmente quer – Justin gesticulou.
- Ah, foda-se! Isso não é verdade e eu tenho que ir. E não se esqueçam – eu disse apontando para cada um deles – do encontro de ex-alunos.
- Sério, nós temos que ir mesmo? – Liam choramingou.
- A gente prometeu... – Justin deu de ombros.
- E você sabe o quanto vale uma promessa para a Demi. – Liam completou e todos olharam para mim.
Eu, mais do que ninguém, sabia o quanto valia uma promessa para ela. Então apenas me limitei a sorrir forçadamente, mostrar o dedo do meio a eles e rumar em direção à porta. Qual é a deles hoje?
- Ei, Joe – Liam chamou e eu me virei – Se você encontrar a Miley pede pra ela me ligar?
- Ih... Já está assim, é? – Liam debochou – E eu achando que você não conseguiria nada com ela...
- Só estou a ajudando – se defendeu.
- Anw, que bonitinho, ele está querendo sair da área da amizade – Justin apertou as bochechas dele e eu ri.
- Não é nada disso do que você está pensando – Liam rolou os olhos afastando-se das mãos dele.
- Acredite, estou pensando muitas coisas – ele disse entre risos – mesmo que eu não queira saber, a Selena me conta tudo.
- Beleza, pode deixar, Liam! – me apressei em dizer para não prolongar o assunto e tornei a caminhar até a porta do estúdio – Depois eu falo com vocês. Até mais, vadias.
- Tchau – os ouvi dizer em uníssono antes de fechar a porta.
Chequei o relógio mais uma vez e sai da casa de Liam fechando o zíper da blusa até o pescoço assim que senti uma lufada de vento atingir meu peito, rosto e o ar frio preencher meus pulmões. Eu já havia me decidido: Não ficaria doente tão cedo, ou nunca, caso seja possível. Ainda assim, agradeci mentalmente aos céus por não estar tão frio quanto hoje mais cedo.
Já disse que estou animado? Estou me sentindo estranhamente bem, eufórico e até um pouco ansioso. Claro,Demetria e Melannie eram a causa de tudo isso. Nunca pensei que ficaria tão feliz ao ver que um exame de DNA meu teria o resultado positivo, pois pense, eu já fiquei com muitas garotas. Muitas. E antes que Demi reaparecesse, a ideia de ter um filho com qualquer uma delas era completamente assustadora!
Naquele dia, depois de passar no médico, eu podia estar morrendo de sono, mas tudo em que eu conseguia pensar era no resultado do exame. Estava nervoso e minhas mãos suavam mesmo que eu tivesse certeza de qual seria o resultado. Confesso que no primeiro momento, quando li o laudo, fiquei sem ação, mas foi muito mais fácil e confortável com todo mundo dentro da sala e Liam, que contou uma piadinha idiota pra quebrar o silêncio, fazendo com que todos rissem. Eu estava feliz por Demi ter aparecido em meu apartamento, por ter cuidado de mim enquanto eu estava doente, ter passado aquela noite comigo; Mas a cima de tudo por ter trazido Melannie para mim. Não sei muito bem o que aconteceu com elas antes disso, por onde ou pelo o que passaram, mas agora tudo parecia muito mais... Simples, fácil e que o meu querer de tê-las junto a mim não era mais tão inatingível.
Estacionei o carro e logo saltei do mesmo, com o passo apertado cheguei à porta principal da grande casa amarela já tocando a campainha. Pensei em ficar segurando o botão até que alguém me atendesse, mas lembrei de Demi dizendo o quanto isso era irritante... Mas vontade de provoca-la de vez em quando não me faltava. Esperei por poucos segundos e quando a porta se abriu eu fui obrigado a segurar meu queixo para que ele não fosse de encontro ao chão. Cara, pense em uma mulher gostosa... Certo, essazinha ai que você imaginou não chega nem aos pés descalços de Demetria. Sim, ela estava descalça, vestindo uma roupa muito sexy e com os cabelos presos em uma trança que caia sobre um dos ombros.
-... Eu já estou com toda a papelada aqui. – enquanto falava ao telefone, ela sorriu para mim gesticulando para que eu entrasse e assim o fiz – Tudo bem, sem problemas, mas também diga a ele que isso não consta em nenhum de nossos registros.
Demi disse calmamente fechando a porta atrás de nós e postou uma de suas mãos em meu ombro, guiando-me até o centro da sala e depois se afastou, seguindo até o outro lado da mesa de vidro – que, mais uma vez, tinha em sua superfície vários papéis espalhados – de modo que ficasse de frente para mim.
- Quer saber? Deixe que eu resolvo isso. Chego ai em meia-hora – disse num tom exausto e levou a mão à nuca descoberta soltando uma risada contida e me olhou com um sorriso no canto dos lábios – Sim, sem almoço hoje, a minha pequena tem outros planos... Ok, beijos e até daqui a pouco.
- Muito trabalho? – perguntei assim que ela deixou o celular de lado.
- Apenas as coisas de sempre para resolver – deu de ombros tornando o olhar para os papéis na mesa, os organizando.
- Hm... – murmurei sem conseguir evitar que meus olhos percorressem por toda a extensão de seu corpo coberto apenas por aquela roupa que o modelava tão perfeitamente. Cocei o pescoço e pigarreei – Você está bonita hoje.
- Obrigada... – disse um pouco distante, absorta no que tinha nos papéis a sua frente.
Após alguns segundos Demi juntou todas as folhas, empilhando-as e levou a mão à boca passando o polegar na língua. Começou a contar as folhas num tom quase inaudível e quando terminou, abaixou-se rapidamente trazendo consigo uma pasta de couro azul que antes estava no chão e mordeu o lábio inferior abrindo o zíper lateral da mesma, colocando as folhas ali dentro.
Claro! Ela tinha que, inconscientemente, fazer toda essa pose, a roupa já não era o suficiente para me torturar.
Droga. Balancei a cabeça a fim de afastar os pensamentos maliciosos que já começavam a inundar a minha mente, mas parece que isso só serviu para que eu mergulhasse ainda mais neles. Eu estava atento aos seus trejeitos, com uma vontade crescente de apertar seu corpo contra o meu, beijar seus lábios e sentir seu gosto novamente. Dei três passos inseguros à frente. Qual foi a última vez que fiz isso, hein? Quando foi a última vez que tomei uma atitude?
Ao pensar nisso eu me amaldiçoei por me sentir frustrado e, vamos combinar, um tremendo idiota. Não, os caras não têm razão em dizer que não faço o que realmente quero! Digo, a última vez em que eu estive realmente sozinho com Demetria, nós passamos a noite na minha cama e não aconteceu absolutamente nada. Na minha cama! Ok, eu sei que dormir junto é sinônimo de sexo, mas porra... Entende meu raciocínio? O caso é que eu sou homem e estou sentindo falta. Sabe quando foi a última vez que eu fiquei com alguém? Com outra mulher que não fosse Demetria? Pois é, nem eu. Se fosse algum outro momento da minha vida, eu diria: “Ah, cara! Ontem mesmo eu fiquei com uma garota e nem me lembro mais do nome dela”. Mas agora eu não podia fazer nada, Melannie esperava por mim.
- Você também, Jonas, não está nada mal. – sorriu de lado e finalmente me encarou, abraçando a pasta contra o peito – Então, a que devo a honra de sua presença?
- As roupas de Melannie...
- Ah, sim! – ela riu de si mesma colocando a pasta sobre a mesa junto ao celular e seguiu para outro cômodo – Desculpe, estou um pouco atrapalhada! – disse com o tom de voz elevado para que eu pudesse ouvir e logo voltou com uma mochila pequena e colorida em mãos – A rotina está diferente e acho que terei que me acostumar com isso... O que pretendem fazer hoje?
- Bem, gastar dinheiro, comer muito e nos divertir bastante – sorri levando a mão a nuca enquanto ela se colocava a minha frente.
- Gastar dinheiro? – ela arqueou as sobrancelhas – O que você está tramando?
- Nada de mais – dei de ombros.
- Olha lá o que você vai fazer, hein! – ela disse e eu ri.
- Tem algum conselho pra mim?
- Não é pra ficar gastando dinheiro com Melannie.
- Por quê?
- Porque não, Joe! É sério – ela disse e eu rolei os olhos.
- Algum outro conselho? Algum que você sabe que vou seguir? – eu disse e ela riu.
- Quanta cara de pau, Joe Jonas – disse entre risos e encolheu os ombros – Mas, ahm... Na verdade eu tenho algumas instruções.
- Ok, agora eu fiquei um pouco nervoso – brinquei.
- É simples! – ela riu.
- Sei – arqueei uma das sobrancelhas.
- Ouça, Melannie deve trocar de roupa assim que chegar em casa para não sujar o uniforme. Besteiras em uma quantidade moderada só depois do almoço e, por favor, comida de verdade! É possível que ela não tenha muito dever de casa hoje, mas tente ajudá-la nem que seja só um pouquinho se for necessário e não se esqueçam da higiene em nenhum momento. – suspirou ao terminar e abriu um sorriso me estendendo a mochila – Só isso.
- Só isso? – franzi o cenho e ela riu.
- Divirta-se!
- Uau! Estou começando a sentir um pouco do peso da responsabilidade – eu ri pegando a pequena mochila e a coloquei por cima do ombro.
- Isso não é nada, mas você vai se dar bem – levantou levemente os ombros tocando meu braço – Já fez isso uma vez.
- É, eu já fiz – eu disse e mordi os lábios.
Eu tinha que ir, faltava poucos minutos para a saída de Melannie da escola. Mas eu não queria sair dali. Era difícil ficar perto tão de Demi sem poder fazer alguma coisa... Quem eu estou querendo enganar? Eu já estava ficando irritado comigo mesmo, pois era horrível sentir minhas mãos formigarem como um pedido silencioso para que entrassem em contato com sua pele quente e macia. Sentir que ficar com ela seria a melhor e mais certa coisa do mundo a se fazer, era torturante, pois eu não faria nada que ela não quisesse e nós já tivemos essa conversa antes! Ficamos nos encarando por alguns segundos até que ela arqueou as sobrancelhas como se esperasse que eu dissesse mais alguma coisa e eu respirei fundo, lembrando-me de Melannie e tomando coragem.
- Bem, eu a trago mais tarde...
-... Miley tem a chave. – dissemos em uníssono. Ela riu – Como eu não tenho nenhuma chave reserva pra te dar, ela encontra vocês aqui mais tarde, é só enviar um sms.
- Uhum – sorri amarelo e ela desviou seu olhar do meu por breves segundos.
- Ok, Joe Jonas, eu te conheço e sei que tem alguma coisa errada aqui – ela disse meio sem jeito – Por que está me olhando assim?
- Você vai sair? – perguntei e ela franziu o cenho.
- Vou trabalhar – ela disse simplesmente.
- Com essa roupa?
- O que tem de mais com a minha roupa? – ela disse colocando uma das mãos na cintura.
- O que tem de menos seria a pergunta correta – eu disse indicando seus ombros e colo a mostra e ela gargalhou.
- Você só pode estar de brincadeira comigo – ela disse entre risos.
- Sinceramente? Essa roupa me incomoda, acho que você deveria se trocar.
- Ah, você não gosta dela? – fez bico reprimindo o sorriso, fazendo pose ao ajeitar melhor a saia no corpo.
- Não, não gosto.
- Poxa, tem certeza? – ela disse tentando parecer chateada, mas seu tom era brincalhão e eu não pude evitar o sorriso.
- Ela provoca pensamentos sujos na mente masculina – arqueei uma das sobrancelhas e ela riu ainda mais colocando suas mãos sobre meu peito, obrigando-me a dar passos cegos para trás.
- Não vejo problema algum desde que estes pensamentos continuem bem guardadinhos em sua mente masculina – disse entre risos.
- Eu não disse que era a minha mente – me defendi.
- E nem precisava, Jonas.
- Estou cuidando de você.
- Claro que está!
- Apenas pensando nos caras que você pode encontrar por ai.
Se for pensar bem, ela atrairia muitos olhares masculinos, sim! E eu não estava gostando nem um pouco dessa ideia.
- Acho melhor você ir embora agora – ela sorriu enquanto abria a porta – Você tem que pegar minha filha no colégio daqui alguns minutos.
- Nossa filha – corrigi e ela sorriu assentindo.
- Nossa filha! Você lembra que ela sai mais cedo hoje, não é?
- Claro, mas, ahm... Pelo menos coloque uma blusa, ok? – pedi já do lado de fora de sua casa e ela sorriu.
- Não se preocupe, eu ficarei bem. Juro! – disse com uma das mãos apoiada na maçaneta.
- Você vai ficar com frio – eu disse com um sorriso divertido no rosto e ela riu.
- Tchau e não esqueça que a sala de Melannie é no térreo, segundo corredor, sala cinco – disse começando a fechar a porta.
- Ok. Mas acho bom você trocar de roupa, Demetria Lovato! – a repreendi e ela rolou os olhos.
- Até mais tarde – ela puxou a língua fechando a porta de vez, mas tive que rir da situação.
- Só não diga que eu não avisei quando sentir frio, – eu disse próximo à porta e a ouvi rir novamente – apenas me chame para te esquentar.
- Vá embora, Jonas!
Sorri comigo mesmo. Não tinha jeito, nós podíamos nos desentender de vez em quando e nos afastar, mas tudo continuava assim, como deve ser. Levei a mão à nuca seguindo para meu carro e entrei no mesmo já colocando a pequena bolsa de Melannie no banco de trás, o cinto de segurança e a chave na ignição. Passei a dirigir pelas ruas calmas até então, e liguei o rádio repassando mentalmente as instruções de Demi. Eram simples, mas se eu as seguisse a risca, ela só poderia se divertir no final da tarde. Na verdade eu só pensava na diversão, tinha tantas coisas que eu queria fazer com ela como pai que não sabia qual seria a primeira.
Pelo menos uma delas eu já faria amanhã! Demi e eu convencemos os caras a ir ao nosso antigo colégio para o encontro de ex-alunos. Eles tentaram fugir disso, mas ela os fez prometer. E eu já planejava passar pela casa de minha família antes de ir embora. Queria que, principalmente, minha mãe e minha irmã conhecessem Melannie. Eu ainda não havia contado nada sobre isso a elas, sobre a paternidade, e apenas esperava que inicialmente não reagissem tão mal quanto eu quando Demi disse que Melannie era minha filha, mas tinha certeza que depois elas amariam a pequena. Era meio que impossível não gostar daquela menina.
Olhei mais uma vez para o meu relógio de pulso, certificando-me se estava dentro do horário e após algum tempo dirigindo, estacionei o carro saltando do mesmo logo em seguida. Acionei o alarme e segui para a escadaria da porta principal do colégio Queen Elisabeth já avistando Mark sentado em seu banquinho.
- Boa tarde, Mark – e disse parando ao pé da escada e ele comprimiu os olhos parecendo me analisar.
- Joe! – ele sorriu depois de alguns segundos e se levantou começando a descer as escadas vagarosamente – Da televisão, amigo da pequena Melannie e dono de um cachorro enorme.
Ele disse num tom brincalhão e eu ri. Não é que o velho tinha uma boa memória?
- Pensei que não se lembraria de mim – confessei enquanto ele se postava ao meu lado de braços cruzados, de modo que pudesse não tirar os olhos da movimentação na rua.
- Quê isso, garoto? Só faz algumas semanas que você não aparece – e me olhou brevemente com o cenho franzido – Está me chamando de velho gagá?
- Imagina, o senhor está ótimo! – eu ri do modo como disse e ele deixou que um sorrisinho surgisse em seus lábios.
- Eu sei. Veio buscar sua pequena amiga?
- Vim buscar minha filha – eu disse e ele se virou para mim, encarando-me por cima dos óculos de grau.
- Tem uma filha que estuda aqui? Não sabia.
É, até um tempo atrás eu também não sabia, pensei e apenas sorri de leve para Mark que voltou sua atenção para a rua. Segui seu olhar e depois de longos minutos, notei que alguns transportes escolares, como minivans e micro-ônibus, já estacionavam ali por perto. Mais alguns grandes e caros carros de pais engravatados que logo saltavam dos mesmos. Eram sempre pais engomadinhos com cara de empresários podres de rico, o que me levava a pensar em qual seria o tamanho da fortuna que Demi, ou Robert, gastava para manter Melannie naquele colégio.
- Está na hora – Mark disse chamando minha atenção e tornou a subir calmamente as escadas.
Assisti-o abrir os portões do colégio e se sentar novamente em seu banquinho, logo dois homens que conversavam sobre algo que parecia ser bem sério também subiram as escadas e sumiram do meu campo de visão assim que cruzaram os portões. Coloquei as mãos nos bolsos da blusa e segui o mesmo caminho, adentrando no saguão principal que tinha um piso claríssimo e as paredes formavam um ângulo de 180º graus perfeito. De um lado a recepção com dois pequenos sofás marrons e a secretaria , logo depois dois amplos corredores e uma escadaria larga que levava ao segundo andar com corrimãos dourados brilhante. Provavelmente o colégio deveria anteriormente ter sido uma casa, ou mansão, como preferir.
Comecei a subir as escadas calmamente, tentando me lembrar do que Demi havia dito. Era segundo andar ou segundo corredor? Eu já não tinha tanta certeza, ela estava tão sexy naquela roupa que eu não consegui prestar muita atenção no que dizia. Na verdade minha atenção estava toda voltada para o modo como o fazia, quando mordia levemente o lábio inferior, em seus movimentos delicados, e eu estava com inveja de quem passaria o dia com ela, mas ainda de quem passaria a noite com ela.
Passei pelas salas de aula do segundo andar olhando para dentro de cada uma através do vidro nas portas. Definitivamente era o segundo corredor, aquelas crianças eram bem maiores e não deviam ter a mesma idade queMelannie. Desci até o saguão onde já tinha pais e filhos circulando, segui para o segundo corredor e na quinta porta tinha uma moça de jaleco branco em pé frente aos alunos, quem eu reconheci como a professora de Melannie. Aquele que saiu da escola atrás da garotinha impaciente na segunda vez em que estive aqui. Varri a sala com os olhos, buscando atentamente pelo rosto da pequena entre tantos outros e a encontrei em uma das carteiras do canto prestando atenção em que a professora dizia e segurando a mochila junto ao peito, pronta para ir embora. Talvez isso ela tenha puxado a mim, quando estava no colégio, até mesmo antes de entrar, eu já estava louco para sair.
Ri internamente de meus pensamentos idiotas e cruzei os braços, encostando-me contra a parede vendo uma mulher bem arrumada, loira de cabelos cacheados, aproximar-se pelo corredor. Ela parou frente a porta, ao meu lado e cruzou os braços. Ela me olhou e sorriu educadamente, imitei seu gesto e passei a encarar o chão.
- Desculpe-me, mas, ahm... – ouvi a moça dizer e tornei a olhá-la – Você é Joe Jonas, certo? O cantor do McFLY?
- Sim – eu sorri de leve.
- Ah! Eu sabia que já tinha te visto antes, mas não tinha certeza se foi aqui – ela sorriu docemente e eu soltei uma risada contida – Veio buscar alguma criança desta sala?
- Está vendo aquela menininha com um laço azul no cabelo? – indiquei pelo vidro da porta da sala – Vim buscá-la.
- Melannie? – ela franziu o cenho ainda sorrindo eu assenti – Ela é uma das amiguinhas da minha filha, todo mês elas passam um dia lá em casa, ou na casa da Demetria.
- Mesmo?
- Sim, aquela loirinha sentada na carteira da frente é a minha filha – ela disse e eu olhei mais uma vez através do vidro – Melannie é um amorzinho! Não sabia que Demetria tinha amigos famosos.
- Estudamos juntos – expliquei e logo a porta da classe se abriu.
- Sra. Stryder, tudo bem? – a professora perguntou com um sorriso cordial no rosto e a menininha loirinha logo se levantou acenando para as amiguinhas, inclusive Melannie.
- Tudo bem – a mulher respondeu e estendeu a mão para a filha – Vamos, meu amor?
- Tchau, professora.
- Aqui, querida – a professora tirou um papelzinho desenhado do jaleco e o entregou para a menininha que o pegou e agarrou a mão da mãe – Até mais! – elas sorriram para nós e logo saíram andando pelo corredor.
- A Sra. Callagham avisou hoje mais cedo que viria – a professora disse e eu forcei o sorriso ao ouvir o sobrenome.
Mas que porra, eles nem casaram ainda!
- Pois é, Melannie passará o dia comigo.
- Sim, a pequena me disse e parece estar muito empolgada! Deve ter contado a todos que o senhor viria – disse num tom brincalhão e eu sorri verdadeiramente, então ela se virou para a classe – Melannie, venha, o Sr. Jonas já está aqui!
Coloquei-me ao lado da professora para que Melannie pudesse me ver e ouvi burburinhos tomar conta de toda a classe. Talvez alguns deles soubessem quem eu sou, talvez. A pequena se levantou colocando a mochila nas costas e acenou para as amigas, então veio em minha direção com um sorriso lindo moldando seus lábios e abraçou minhas pernas.
- Tudo bem, pequena? – perguntei afagando seus cabelos sedosos e ela assentiu.
- Aham.
- Pronta pra ir?
- Tchau, professora – ela se soltou de mim colocando-se na ponta dos pés para depositar um beijo no rosto da professora que se abaixou para que ela pudesse fazê-lo.
- Tchau, Melannie! – a professora sorriu tornando a postura correta enquanto a pequena entrelaçava sua mão a minha – Não deixe de treinar em casa, ok?
- Ok – ela deu uma piscadela e a professora a imitou entre risos.
- Aqui está o seu adesivo – a moça entregou um papelzinho parecido com o da outra menininha e Melannie sorriu para ela.
- Obrigada.
- Espero vê-lo aqui com Melannie mais vezes, Sr. Jonas.
- Eu acho que verá... – eu disse franzindo o cenho para elas e sorri – Até mais!
Com último aceno, Melannie e eu deixamos a sala seguindo de mãos dadas até o lado de fora, na porta principal, onde Mark estava sentado em seu banquinho com as mãos enfiadas nos bolsos da jaqueta azul.
- Oi, Mark! Pega um adesivo pra você – Melannie disse entre risos entregando um de seus adesivos coloridos e acenou novamente para o senhor – Tchau, Mark!
- Tchau, pequena.
- Tchau, Mark – sorri e ele nos olhou por cima de seus óculos com o cenho franzido.
- Não veio buscar sua filha?
Paramos nos primeiros degraus do topo da escada, quase frente ao velho Mark. A menina um degrau acima e eu com as mãos em seus ombros.
- Aqui está ela, ora – eu disse pegando os pulsos dela, levantando seus braços e os balançando freneticamente enquanto ela gargalhava – O senhor não notou a semelhança?
- Esses olhos castanhos... – ele sorriu de lado.
- São os meus olhos, não são, Melannie? – arqueei uma das sobrancelhas segurando seu rostinho entre minhas mãos e ela jogou um pouco a cabeça para trás a fim de me olhar.
- Aham! – murmurou com as bochechas tomando um tom rosado.
- Então, Melannie é mesmo sua filha – ele riu.
- Pois é! Longa história, Mark, longa história...
- Tenho certeza de que deve ser uma ótima história – ele cruzou os braços – afinal, você é bom para elas.
- Espero que todos pensem assim – sorri fraco.
Pensei na repercussão que a mídia poderia dar a isso, pensei em minha família, em Demi. Mas era melhor não me preocupar, certo? Certo. Entrelacei nossas mãos novamente.
- Bem, nós temos que ir. Até mais, Mark.
- Até!

- Só falta resolver sobre a entrega dos comes e bebes, mas pode deixar isso comigo.
Eu ouvia o líder do grêmio estudantil do colégio falar e falar e falar... Eu nem sabia o nome dele, todos ali eram alunos que nunca tinha visto antes e tudo o que diziam soava ilegível aos meus ouvidos. Suspirei. Eu estava no completo tédio. Como a Demi aguentava isso uma hora semanal depois do horário de aula? Será que eles tinham tanto assunto assim pra ter que ficar no colégio até este horário? Por que eles não falavam sobre isso na casa de um deles, numa lanchonete, ou sei lá onde? E como ela conseguiu me convencer a participar disso mesmo?
Eu estava debruçado sobre a carteira fingindo que prestava atenção enquanto Demi estava sentada do outro lado da sala anotando algumas coisas em uma prancheta e falava baixo com uma garota morena de cabelos longos e lisos. Meu Deus, como eu queria sair daquele colégio!
Bocejei fechando os olhos por alguns segundos e quando os abri vi as duas me olhando com um sorriso divertido em seus rostos. Demi sorriu de lado e eu fiz bico, ela assentiu entendendo o que eu queria dizer e levantou levemente a mão pedindo que eu esperasse. Rolei os olhos. Eu não queria esperar!
Gesticulei de um jeito que demonstrasse o meu tamanho desespero para sair daquela sala e o quanto estava me sentindo sufocado ali. Nada exagerado. A garota ao seu lado começou a rir, enquanto o rosto de Demi tomava um tom avermelhado e levou uma das mãos ao rosto, balançando a cabeça negativamente. Demi chamou a atenção do líder e disse algumas coisas num tom baixo, para que apenas ele pudesse ouvi-la, ele assentiu poucas vezes e logo ela colocou a mochila no ombro e veio em minha direção com a prancheta em mãos.
- Vamos? – arqueou as sobrancelhas e sem pensar duas vezes, eu peguei minha mochila e a segui para fora da sala.
- O que você disse para ele?
- Que iríamos fazer o planejamento da decoração do ginásio, – ela disse sem tirar os olhos da prancheta – mas você pode ir embora se quiser.
- Você quer que eu vá embora? – perguntei buscando pelo seu olhar.
- Não, eu não quero.
- Você está brava comigo?
- Não, Joe, – ela suspirou parando de andar e me encarou – mas seria bom se você se esforçasse de vez em quando. Eu estou tentando fazer uma coisa legal e você, que tinha se oferecido para me esperar, fica me apressando!
- Ok, desculpe, eu estava no tédio – eu disse encolhendo os ombros.
- Eu percebi – ela deu uma risada contida e voltou a andar – e provavelmente nem ouviu quando eu dei a ideia sobre você e os garotos tocarem no baile.
- Baile? Que? Demetria! 

- Melannie, está tudo bem mesmo? – perguntei.
Olhei brevemente para ela pelo retrovisor, já que estava no banco de trás. Desde que entramos no carro ela ficou completamente muda, já estávamos chegando à minha casa e eu não sabia muito bem o que dizer a ela. Digo, agora ela é a minha filha e mesmo que não fosse, eu nunca sabia o que dizer para uma criança que ficou tanto tempo quieta. Havia alguma coisa errada, com certeza.
- Aham – ela respondeu.
- Aham? – franzi o cenho.
- Aham.
- O que isso quer dizer?
- Aham.
- É só isso o que você diz agora? – perguntei ouvindo seu riso baixo.
- Aham.
- Você não quer conversar comigo?
- É que agora é estranho – ela disse e eu a olhei novamente.
- Como assim?
- Agora você é meu pai de verdade, não sei o que ou como falar com você – ela encolheu os ombros e foi a minha vez de rir.
- Fale o que quiser e como quiser, assim como sempre foi, ok? – perguntei e a vi assentir – E, sim, agora eu sou seu pai de verdade, mas o resto não mudou. Ainda sou seu amigo, certo?
- Certo!
- Agora bate aqui, parceira – levantei a mão e ela bateu num high Five entre risos – Isso ai!
- Posso continuar te chamando de Joe, certo?
- Do jeito que você quiser.
- Ok! Então o que nós vamos fazer hoje, Joe? – ela perguntou assim que entrei com o carro na garagem subterrânea do meu prédio.
- Qualquer coisa, o que você quer fazer? – perguntei enquanto terminava de estacionar o carro.
- Podemos ir ao Palácio?
- Qual deles? – eu desafivelei o cinto de segurança e olhei para trás.
- O Palácio de Buckingham, eu sempre quis ver de pertinho, nem que seja só para ver a parte da frente... Parece ser muito bonito! – ela gesticulou tirando o cinto e eu ri pegando suas duas mochilas – Mas nunca deu certo de ir até lá.
- Nunca deu certo? – franzi o cenho e nós saltamos do carro – Há quanto tempo vocês moram aqui mesmo?
- Dois anos? – ela disse em dúvida e deu de ombros.
- Ahm... Tudo bem! Então nós vamos, mas só vai dar pra ver a parte da frente mesmo, pode ser? – perguntei e ela assentiu com um sorriso divertido em seu rosto – Porque nessa época a realeza não vai nos deixar entrar.
- Se minha mãe estivesse com a gente, eles deixariam. Eu fiz uma coroa para ela na escola, agora ela é uma rainha – ela fez pose e eu ri – e eu sou uma princesa, mas não como as outras.
- Por que não? – perguntei colocando a mão livre sobre seu ombro, a guiando em direção aos elevadores.
- Porque a maioria das princesas é sem graça e elas só usam rosa – ela fez careta – Você pode ser o nosso rei, se quiser.
- Pensarei muito bem em vossa proposta, nobre princesa – eu disse apertando o botão no painel do elevador – e logo lhe darei a minha resposta.
- Ok – ela disse e começou a gargalhar.
- O que foi? – franzi o cenho sem conseguir evitar acompanhá-la com um sorriso.
- Você viaja na maionese! – ela disse entre um suspiro, se recuperando dos risos e eu ri ainda mais – Escuta, é lá que tem os guardas de roupas e chapéus engraçados, não é? Como nos filmes?
- Sim, como nos filmes – eu disse e ela vibrou me arrancando mais risos – Ai a gente pode ir na London Eye depois, o que você acha?
- Eba! – ela alargou o doce sorriso – Vai ser muito legal!
- Ótimo, tampinha – eu disse tirando minhas chaves do bolso da calça e as portas do elevador se abriram – mas antes de qualquer coisa você tem que fazer a lição de casa, almoçar e trocar de roupa.
- Você vai fazer o nosso almoço? – perguntou me olhando de um jeito engraçado.
- Por quê?
- Você não tem cara de que sabe cozinhar.
- Ei, eu sou um ótimo cozinheiro – me defendi destrancando a porta e a pequena riu – mas pode ficar tranquila, quem cuidou da comida foi a Poppy.
A menina franziu o cenho por alguns segundos tornando seu olhar para a porta e eu abri a mesma, revelando um Snoop numa posição que eu diria ser de ataque. Ombros altos, cabeça baixa e pernas levemente flexionadas. Mas ele me decepcionou totalmente assim que Melannie chegou perto e ele se largou no chão de barriga para cima à espera de carinho, eu achei que ele ia sair correndo, brincando, ou sei lá. É um bundão mesmo! Balancei a cabeça negativamente trancando a porta novamente.
- Quanto tempo, Snoop – a pequena disse acariciando seu pelo enquanto ele balançava o rabo freneticamente – Eu estava sentindo a sua falta, sabia? Sim, eu estava!
- Quer trocar de roupa, Melannie? – perguntei vendo Snoop lamber a bochecha da pequena, que fez careta e riu se levantando.
- Quero!
- Então vem comigo.
Eu deixei a mochila escolar dela sobre o sofá e seguimos escada acima com Snoop em nosso encalço, até o quarto de hóspedes. Abri a porta, ascendi a luz e coloquei a outra mochila na cama enquanto a pequena sentava-se sobre a mesma, tirando os sapatos.
- Você se lembra desse quarto?
- Claro, essa cama é a mais fofinha de todo o mundo – ela disse subindo na cama e deu alguns pulinhos e Snoop a acompanhou, latindo.
Eu coloquei as mãos nos bolsos dianteiros da calça jeans e soltei uma risada contida vendo-a pular, olhei em volta, para as paredes brancas e para os móveis da mesma cor com um pensamento tomando conta de minha mente. Um pensamento, ahm... Divertido para uma menina de sete anos, colorido ou apenas azul, se ela preferir.
- Qual cor você mais gosta? – perguntei ainda olhando para cada detalhe do cômodo.
- Lilás, azul, branco, vermelho, preto, azul, amarelo, laranja, verde, azul – ela disse entre os pulos e eu ri mais ainda.
- E a favorita é azul, certo? – a olhei com um sorriso divertido.
- Sim!
- Tudo bem, eu entendi – eu disse segurando seus braços por breves segundos, fazendo-a parar de pular – Agora veste a roupa que sua mãe separou, eu estarei te esperando lá embaixo. Você não vai precisar de ajuda, certo?
- Não, eu sei me vestir sozinha, pode ir – gesticulou.
- Ok, o banheiro é ali. Não demore – eu disse e ela assentiu – Vem, Snoop!
Snoop veio até mim balançando o rabo e deixamos o cômodo, mas pude ouvi-la pulando sobre a cama novamente assim que fechei a porta. Eu ri balançando a cabeça negativamente e Snoop apoiou a pata na porta chorando, pedindo para que eu abrisse a porta novamente.
- Chora não, vamos.
Pouco antes de começar a descer as escadas notei que a luz do meu quarto estava acesa, andei até lá e encontrei Poppy terminando de arrumar a cama, na qual Snoop fez questão de pular e se largar em cima.
- Ah, Snoop! – ela jogou as mãos para o alto e eu ri dando duas batidinhas na porta para chamar a atenção dela.
- Chegamos!
- Tudo bem, senhor Jonas?
- Tudo bem, Poppy – eu disse cruzando os braços e passei os olhos pelo cômodo impecavelmente arrumado – E ai, precisa de alguma ajuda?
- Não, obrigada – ela riu – está tudo nos conformes.
- Tem certeza? – perguntei enquanto ela pegava do chão uma flanela e uma cestinha verde de plástico que continha alguns produtos de limpeza.
- Absoluta! O senhor e o Snoop nem fizeram muita bagunça dessa vez, – ela deu de ombros levemente ao andar até a porta e eu ri – aos poucos vocês vão melhorando.
- Pois é, nós estamos nos esforçando pra não te dar muito trabalho. – eu disse dando espaço para que ela passasse e apaguei a luz – Snoop!
- Sua irmã ligou – ela disse assim que Snoop saiu do quarto e eu fechei a porta – perguntou quantas pessoas vão jantar lá amanhã e pediu, pelo amor de tudo o que é mais sagrado, para o senhor ligar celular. Palavras dela!
- Tudo bem, eu ligo pra ela mais tarde – eu disse entre risos quando chegamos à sala.
Tirei meu celular do bolso e o liguei antes que também recebesse uma bronca de Demi por não atender o mesmo, caso ela resolvesse ligar.
- O almoço já deve estar pronto.
- Será que ela vai gostar?
- É um prato que qualquer criança britânica comeria, senhor Jonas.
- Sim, mas ela não é britânica.
- Mas, como o senhor mesmo disse, a senhorita Demetria viveu toda a sua juventude aqui na Inglaterra, certo? Ela está habituada com a nossa cultura e acredito que a menina também esteja – a ouvi dizer enquanto abria o forno e Snoop sentou ao meu lado – Fora isso, o senhor disse que ela come de tudo.
- Ah, eu acho que ela come, não tenho tanta certeza – eu disse colocando a luva térmica e peguei um pano de prato – É quase impossível alguém gostar de todas as comidas existentes nesse mundo ou não ter alergia a alguma delas. Tem gente que não gosta de banana, por exemplo.
- O senhor não devia se preocupar tanto... – ela parou ao meu lado e fechou o forno assim que tirei o refratário.
- Tem gente que é alérgica a amendoim...
- Se ela não gostar – ela me interrompeu assim como eu fiz e riu – eu posso preparar alguma outra coisa.
- Onde eu coloco isso? Na pia?
- Não! – se apressou em dizer abrindo uma das gavetas, tirou de lá um negócio de madeira que eu nem sabia que tinha e o colocou sobre a mesa – Melhor colocá-lo no descanso térmico, a pia está fria e o senhor não vai querer tomar um choque térmico.
- Ahm... Eu sabia disso, Poppy! – franzi o cenho colocando o refratário sobre o descanso e ela riu – Estava apenas te testando.
- Claro que estava.
- Você pode arrumar a mesa, por favor – eu sorri para ela, que assentiu – Eu vou chamar a Melannie.
Deixei o cômodo a tempo de ver a pequena terminando de descer as escadas, devidamente vestida. Calça jeans, botas bege, camiseta branca de manga longa e um cachecol rosa em volta do pescoço, ela carregava a mochila em um dos ombros e, com mais alguns passos, ela parou a diante de mim, olhando-me com aqueles grandes olhoscastanhos.
- Preciso colocar a blusa agora? – perguntou enquanto eu pegava a mochila que ela carregava.
- Não, você veste quando a gente sair – eu disse colocando a mochila no sofá, junto a outra.
- Acho que estou com fome, Joe – fez careta e eu sorri de lado.
- Então vamos comer, ora.
- Ok – deu de ombros e eu a segui quando ela foi saltitando até a cozinha.
- Se você não gostar da comida é só dizer, podemos preparar outra coisa – eu disse e ela parou de andar, olhando com o cenho franzido para Poppy e depois me encarou.
- Ahm, Joe... – ela disse num tom baixo, fez um gesto e eu me abaixei para ficar em sua altura – Quem é ela?
- É a Poppy, ela trabalha pra mim e cuida de tudo aqui – eu disse no mesmo tom.
- Poppy, que nome legal! Ela está aprovada – ela riu fazendo sinal de positivo com as mãos e eu franzi o cenho, tentando entender o que ela quis dizer.
- Tudo pronto, senhor Jonas – Poppy disse e Melannie se apressou para sentar-se a mesa – Então essa é a famosaMelannie?
- Acho que sim... – a menina sorriu encolhendo os ombros e tirou a cartelinha do bolso – Você quer um adesivo?
- Anw, obrigada, querida! – Poppy sorriu pegando pegando o pequeno adesivo que Melannie lhe estendia.
- Você vai dar adeviso pra todo mundo? – perguntei me sentando ao lado da menina.
- Só pra quem é legal.
- E por que eu não ganhei um? – eu disse me sentindo ofendido e ela levou as mãos à boca, rindo – Qual é? Eu sou muito legal.
- Ganhou sim! Depois eu te mostro – ela disse e eu arqueei as sobrancelhas.
- Espero que goste de couve-flor com queijo.
- Eba! – ela vibrou arrancando risos de Poppy.
- Então você gosta, tampinha?
- Mamãe fazia sempre e eu não gostava de couve-flor, mas a vovó disse que faz bem.
- Vovó? – estranhei vendo Snoop se aproximar da pequena.
- Sim, a mãe da tia Mi, ela é minha avó. – ela disse como se fosse a coisa mais óbvia e eu assenti rindo. Claro, como não pensei nisso antes?
- E como foi na escola, Melannie? Tem muita lição hoje?
- Algumas. Você vai me ajudar?
- Vou tentar. 

3 comentários:

  1. Divulga e segue?
    http://historiajemilove.blogspot.com.br/
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    http://tudoqueeumaisqueroevoce.blogspot.com.br/
    http://minifanficsjemi.blogspot.com.br/
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  2. Fiquei quase 2 horas pra ler este capitulo.
    Meu Deus que perfeição é esta?
    Muito lindo :3

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  3. eu não consigo parar de ler é simplesmente perfeito!!!!!!!!!!

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